Eleições na Argentina|z_Areazero
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27 de outubro de 2019
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11:28

Argentina vai às urnas julgar neoliberalismo de Maurício Macri

Por
Luís Gomes
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Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Luís Eduardo Gomes
De Buenos Aires

A Argentina vai às urnas neste domingo (27) para escolher o seu novo presidente. São seis os candidatos que podem ser votados, mas trata-se uma eleição que ficou polarizada entre o atual presidente, Maurício Macri, o e a candidatura que representa o governo anterior, com o ex-ministro Alberto Fernández de candidato à presidência e a ex-presidente Cristina Kirchner concorrendo à vice. Em profunda crise econômica, os argentinos deverão decidir se aprovam as políticas neoliberais de Macri ou se optam pelo desenvolvimentismo de centro-esquerda que marcou os anos do kirchnerismo.

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A reportagem do Sul21 chegou a Buenos Aires na última quinta-feira (24). O que vimos nas ruas foi um país que não está com “cara” de eleições. Há cartazes nas ruas e propaganda eleitoral em outdoors, ônibus e outros espaços, mas não se vê movimentação partidária no dia a dia. Ainda assim, em conversas com populares, comerciantes e outros jornalistas, a impressão é de que o pleito já são favas contadas. Menos por um grande clamor popular com a volta do kirchnerismo e mais por rejeição ao macrismo. O temor do mercado com a derrota do governo, no entanto, levou multidões às casas de câmbio para trocar pesos por dólares em uma tentativa de se proteger de uma provável desvalorização da moeda argentina. A seguir, confira um resumo do cenário para este domingo.

Quem são os candidatos?

Seis candidatos disputam a presidência: o atual mandatário Mauricio Macri, pelo partido Juntos por el Cambio; Alberto Fernández, pela Frente de Todos; Roberto Lavagna, pelo Consenso Federal; José Luis Espert, da Frente Despertar; Juan José Gómez Centurión, da Frente NOS; e Nicolás del Caño, pela Frente de Izquierda y de Trabajadores-Unidad. Quem vencer, assumirá a presidência em dezembro. Se houver necessidade, o segundo turno será realizado em 17 de novembro.

Além do presidente, os argentinos também escolhem novos deputados nacionais. Algumas regões tem ainda eleições locais. Na capital do país, serão escolhidos novos vereadores, senadores nacionais e um novo chefe de governo. Para a província de Buenos de Aires, serão escolhidos novos parlamentares e um novo governador. Ainda haverá eleição o senador nas províncias de Entre Ríos, Neuquén, Río Negro, Salta, Santiago del Estero e Tierra del Fuego.

A Argentina tem 33,1 milhões de eleitores. A maioria deles, 12,5 milhões (36,98%), estão na província de Buenos Aires. Há ainda 385 mil argentinos aptos a votar no exterior. O voto é obrigatório na Argentina para todos os maiores de 18 anos, e facultativo para quem tem 16 e 17 e maiores de 70. A votação teve início às 8h e vai até às 18h. A expectativa é de que um resultado prévio seja divulgado ainda na noite de domingo, mas a contagem oficial só começa na terça (29).

Votação sob incerteza econômica

No início de outubro, a pobreza alcançou 35,4% dos argentinos, o que significa que há 16 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza no país, das quais 3,4 milhões em situação de indigência. A oposição coloca na conta de Macri 5 milhões delas. Após os índices caírem nos dois primeiros anos de seu governo, eles voltaram a disparar desde o início de 2018. O percentual de pobreza subiu 10 pontos percentuais, e o de indigência quase 3 pontos.

A inflação, que era um dos maiores problemas do governo de Cristina Kirchner, disparou sob Macri. A projeção do Banco Central, no início do mês, era de que encerraria o ano em 55%. Esse número pode ser ainda maior, visto que o peso apresentou uma forte desvalorização nos últimos dias com a perspectiva de derrota do governo e deve se desvalorizar ainda mais caso seja confirmada a vitória de Fernández. Em uma economia altamente dolarizada, desvalorização e inflação andam lado a lado.

Praticamente não há crescimento. O PIB oscilou entre 2014 e 2018, subindo em um ano e caindo no outro. Após subir 2,7% em 2017, caiu 2,5% no ano passado. Para este ano, a projeção oficial é de nova queda de 2,5%, mas essa pode ser considerada uma projeção otimista ante o fato de que economistas já falam em queda de 4%. O PIB per capita despencou 22,9% em 2018.

O que dizem as pesquisas?

Nas prévias partidárias de 11 de agosto, Alberto Fernández teve 49,49% dos votos, contra 32,93% de Macri. Essa “pré-eleição” tende a ser um indicativo do resultado final, visto que o partido que recebe o maior número de eleitores tende a ser o favorito do momento. Para ter segundo turno, nenhum candidato pode ter mais de 45% dos votos ou ter 40% e 10 pontos de vantagem.

Não é mais permitido publicar pesquisas desde o sábado da semana passada (19), quando foram divulgados sete novos levantamentos, todos eles apontando Fernández com mais de 50% das intenções de votos e margens de vitória sobre Macri entre 16,3 e 20,5 pontos percentuais. Terceiro colocado, Roverto Lavagna varia entre 6% e 10%. Nenhuma pesquisa realizada desde as primárias apontou a realização da chamada “balotaje”, o segundo turno. O presidente se apega justamente nesse “apagão” de uma semana de pesquisas para acreditar que uma onda favorável possa levá-lo ao segundo turno.

A equipe do Sul21 viajou a Buenos Aires para a cobertura das eleições presidenciais graças a um financiamento coletivo dos nossos leitores.


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