Eleições na Argentina
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24 de outubro de 2019
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23:08

‘Está definida’: Em Buenos Aires, eleitores apostam em derrota de Macri e vitória do kirchnerismo

Por
Luís Gomes
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Manifestações contra propostas econômicas de Milei são esperadas para a próxima semana  | Foto: Luiza Castro/Sul21
Manifestações contra propostas econômicas de Milei são esperadas para a próxima semana | Foto: Luiza Castro/Sul21

De Buenos Aires

A quatro dias da eleição, o clima no centro de Buenos Aires parece de disputa definida. Militantes da Frente de Todos, encabeçada na corrida presidencial pela chapa Alberto Fernández e Cristina Kichner, e da Frente de Izquierda disputavam os votos dos eleitores indecisos na Calle Florida, uma das principais vias da capital argentina. Não se via nenhuma bandeira de eleitores do atual presidente e candidato à reeleição, Maurício Macri.

Esta quinta-feira (24) marcou o último dia permitido para campanha oficial nas ruas da Argentina. Militante da Frente de Todos, Daiana Hindi passou o dia na Florida distribuindo panfletos e conversando com as pessoas para tentar atrair votos não só para a chapa presidencial, como também para os candidatos da frente que disputam eleições legislativas e locais. “O projeto que apoiamos é de amor, de ampliação de direitos, de integração de todos, todas, todes”, diz “Estamos com muita esperança. As eleições são sempre um ato democrático, poder eleger alguém para te representar é algo a se celebrar sempre. A nossa esperança é que as pessoas estão se dando conta de que o governo atual nos está fazendo passar fome, está tirando direitos, também está mentindo”.

Tanto Fernández, líder nas pesquisas com mais de 50% das intenções de votos, quanto Macri optaram por encerrar a campanha no interior, deixando a capital com um pouco menos de clima de eleição do que o esperado. Principal ponto de mobilizações da cidade, a Plaza de Mayo reunia apenas turistas nesta quinta, visto que a sede do governo, a Casa Rosada, se encontra com portões fechados e isolada por policiamento. Nas redondezas, um ato marcava o encerramento oficial da campanha da Frente de Izquierda, que reúne movimentos à esquerda do kirchnerismo.

“A eleição está definida, vai ganhar Alberto Fernández. Isso é inapelável. O que estamos advertindo durante a campanha é que Alberto Fernández diz que se compromete a pagar a dívida que deixa Macri, e o FMI vai negociar essa dívida com reforma trabalhista, reforma previdenciária, o que vocês têm visto no Brasil com o Bolsonaro. Isso vai vir na Argentina pelas mãos do FMI e do próximo governo. Alertamos nessas eleições que é precisar frear o FMI e que o mais provável é que a Argentina em pouco tempo se pareça com o que acontece hoje no Chile, no Equador. Quando vier o ajuste, vamos ter que sair às ruas”, afirma Nicolás Nuñez, que é candidato a legislador porteño, cargo equivalente a vereador de Buenos Aires.

As pesquisas mostram que o atual presidente tem entre 30% e 35% das intenções de voto, o que faz com que dificilmente tenha chances de chegar ao segundo turno. As regras eleitorais argentinas dizem que um candidato precisa de 45% dos votos ou 40% e uma vantagem de 10% sobre o segundo colocado para ganhar ainda em primeiro turno, o que Fernández teria com folga segundo as pesquisas.

Para Nuñez as eleições de domingo vão representar, nacionalmente, uma mensagem de castigo que o povo vai dar em Macri. “Há uma ideia de que é preciso tirar ele de lá porque a inflação não para, porque a pobreza não para de crescer e ele está deixando o país completamente endividado. O que vai se ver domingo é o voto expressar um castigo ao governo”, diz.

Guillermo Olivero diz que irá votar em Fernández, mas lamenta o clima polarizado que tem visto na Argentina. “O que eu percebo é que as pessoas estão muito conflitivas. Há posições muito radicalizadas e, para mim, se não for uma eleição com uma vantagem clara, pode gerar muita instabilidade no futuro”, diz Olivero. “Isso é produto de uma gestão muito ruim do governo atual. Há muita expectativa e muita esperança de que as coisas melhorem”.

Apoiador de medidas implementadas pelo governo Macri, Fernando Arbesu reconhece que o cenário é muito difícil para o atual presidente. “A situação econômica está muito complicada. Isso fez com que as coisas boas que fez esse governo estejam muito desbotadas porque as pessoas não têm dinheiro para comprar, para comer. Se nota muito isso, o que deve fazer com que o governo perca e ganhe o partido dos Kirchner”, diz. “Esse governo fez coisas boas, mas foi deixado de lado por essa situação econômica, se equivocaram na macroeconomia”.

Arbesu lamenta que as eleições tenham ficado muito divididas entre as candidaturas de Macri e de Fernández, com aqueles que poderiam aspirar o posto de terceira via ficando muito distantes nas pesquisas. Ele vê o provável retorno do kirchnerismo ao poder como uma incógnita. A avaliação que faz é de que o candidato presidencial aparenta ser mais moderado e seguir uma linha diferente da ex-presidente e candidata à vice, Cristina Kirchner.

“Eu vejo que tem tudo no peronismo. Tem os mais moderados, que são mais republicanos, que querem tratar as questões sociais de forma mais orgânica, respeitando as instituições. E tem outros que, como eles dizem, ‘vão por tudo’. Isso traz muito temor para quem não vai votar neles, porque a recordação do governo de Cristina ainda está fresca. Cristina deixou 30% de pobres depois de uma etapa em que os preços das commodities estavam em valores históricos. Depois de o marido reduzir a pobreza, ela deixou o governo com uma situação social ruim também. Eles vão resolver os problemas agora? Eu e muitos temos dúvidas”, avalia.

A equipe do Sul21 viajou a Buenos Aires para a cobertura das eleições presidenciais graças a um financiamento coletivo dos nossos leitores.


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