Bolsonaro e Haddad estão no segundo turno para a presidência

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Bolsonaro e Haddad estão no segundo turno para a presidência
Bolsonaro e Haddad estão no segundo turno para a presidência
Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). Foto: Divulgação e Guilherme Santos/Sul21

Da Redação 

Neste domingo (8), cerca de 147 milhões de brasileiros foram às urnas decidir os representantes para o Executivo e o Legislativo. Com 96% das urnas apuradas, Jair Bolsonaro (PSL), com 46,70% dos votos válidos, e Fernando Haddad (PT), com 28,37%, disputarão o segundo turno – marcado para o dia 28 de outubro.

Nacionalmente, a corrida presidencial pode ser considerada atípica por definir a ruptura da polarização tradicional entre PT e PSDB. A ascensão do candidato do PSL se deu de maneira quase linear ao longo da campanha, de acordo com os dados registrados pelos dois maiores institutos de pesquisa brasileiros, o Ibope e o Datafolha.

A primeira pesquisa, divulgada no dia 20 de agosto pelo Ibope, mostrava Bolsonaro com 20% das intenções de voto – taxa ainda muito abaixo dos votos brancos e nulos, que somavam 38%. O cenário se inverteu no dia 11 de setembro, quando tanto Bolsonaro quanto a taxa de brancos e nulos se equivaleram em 26%. Nas semanas seguintes, o candidato do PSL cresceu até atingir 36%, na sexta-feira, dia 5 de outubro. Fernando Haddad (PT) aparecia como segundo colocado, também em ascendência, registrando 8% na metade de setembro e crescendo até os 23% no início de outubro. Os números do Datafolha apontavam para um cenário parecido: Bolsonaro iniciou com 22% em setembro, chegando aos 36% em outubro. Já Haddad cresceu de seus 4% iniciais até os 22%.

Rejeição

Duas pesquisas foram divulgadas na semana final do primeiro turno das eleições de 2018. Ambas confirmaram o crescimento da rejeição dos dois candidatos líderes das intenções de voto.  O crescimento da rejeição a Haddad chamou atenção, chegando a 41%, segundo o Datafolha, e 38% de acordo com o Ibope. Bolsonaro manteve os piores índices, mas pouco se mexeu nesse quesito em relação às pesquisas anteriores dos dois institutos – permanecendo com média de 45% nas duas pesquisas. O petista teve um forte aumento de eleitores que dizem que não votam nele de jeito nenhum: a alta foi de 11 pontos em cinco dias no Ibope, e de 10 pontos em quatro dias no Datafolha.

Nas campanhas dos dois candidatos, os números podem ser explicados por fatos paralelos que se somaram às narrativas das campanhas. No caso de Bolsonaro, entre 25 e 28 de setembro, seu companheiro de chapa, o general Hamilton Mourão, criticou o pagamento de décimo terceiro dos brasileiros. Depois disso, em entrevista, declarou que famílias só com “mãe e avó” são “fábricas de desajustados”. Na mesma semana, o jornal Folha de S.Paulo e a revista Veja publicaram reportagens que traziam denúncias contra Bolsonaro feitas a partir de 2007 por uma de suas ex-esposas. Além disso, no dia 29 de setembro, mulheres em todo o país organizaram grandes protestos multipartidários contra Bolsonaro, sob o mote “ele não”, com críticas a suas recorrentes declarações machistas e homofóbicas.

Já no caso de Haddad, a reta final da campanha foi marcada pelos ataques de adversários – antes dirigidos a Bolsonaro – que passaram a mirar também no postulante do PT. No dia 26 de setembro, o ex-ministro de Lula condenado no mensalão e na Lava Jato José Dirceu disse que, se o PT vencesse a eleição e sofresse um golpe, seria questão de tempo para o partido “tomar o poder”. Depois, se manifestou admitindo que a frase era “infeliz”. Por fim, na segunda-feira (1º), o juiz federal Sergio Moro divulgou parte da delação de Antonio Palocci. Nela, o ex-ministro acusa o PT de caixa dois nas duas campanhas de Dilma Rousseff e diz que Lula sabia da corrupção na Petrobras desde 2007. Mesmo não apresentando provas e envolta por questionamentos sobre possíveis intenções políticas, a divulgação pode ser apontada como ponto de questionamentos para parte do eleitorado.

Voto feminino

Protesto “#EleNão”, em Porto Alegre. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Outro fator de destaque foi a relevância do voto das mulheres – que compõem 51,6% da população brasileira, segundo dados do IBGE. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto para presidente em 2018, marcadas por uma expressiva porcentagem de indecisos, a quantidade de mulheres que declaram voto branco e nulo foi maior do que em relação aos eleitores homens.

As intenções de voto do eleitorado feminino para Bolsonaro começaram com 13% em agosto, segundo o Ibope. Entretanto, segundo o instituto Datafolha, o apoio ao candidato do PSL entre as mulheres passou de 21%, em pesquisa divulgada na sexta-feira (28), para 27%, em pesquisa divulgada na terça-feira (2) – um crescimento de seis pontos percentuais, acima da margem de erro, que é de dois pontos para mais ou para menos. Na mesma pesquisa, Haddad registrou 23% de intenções de voto do eleitorado feminino.

Transferência de votos

Uma das principais incertezas que rondaram as eleições presidenciais de 2018 foi relacionada a Luiz Inácio Lula da Silva, inicialmente líder em todas as pesquisas de intenção de voto, e sua capacidade de transferir o apoio ao seu sucessor, Fernando Haddad. Lula foi registrado na Justiça Eleitoral como nome do PT ao Palácio do Planalto. porém, preso desde 7 de abril em Curitiba, cumprindo pena de detenção de 12 anos e 1 mês imposta pela Operação Lava Jato no caso tríplex, foi impossibilitado de concorrer. Com condenação em primeira instância pelo juiz Sergio Moro e confirmação em segunda instância por três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o líder petista foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

No final de setembro, as pesquisas já confirmavam o potencial de transferência, questionados sobre a certeza de voto no ex-prefeito de São Paulo, 23% dos entrevistados pelo Datafolha afirmavam que não teriam dúvidas ao votar em Haddad. No Nordeste, o candidato registrou maior potencial de crescimento. Na região, marcada pela presença de apoiadores de Lula, 38% do eleitorado declarou intenção de votar nele “com certeza”, quando citado como o candidato do ex-presidente.

Desinformação

A campanha nas redes sociais, em especial no aplicativo de mensagens WhatsApp, foi marcada pelo grande fluxo de compartilhamento de informações falsas. Haddad chegou a acusar diretamente Bolsonaro por propagar desinformação. Ter o voto influenciado por conteúdos falsos é uma preocupação de 75% dos eleitores, segundo pesquisa divulgada na quarta-feira (3) pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Entre os mais jovens, com até 34 anos, o receio sobe para 82%.

O canal de combate aos boatos contra Lula, Fernando Haddad e Manuela D’Ávila que circularam pelo Whatsapp e pelas demais redes sociais recebeu 15 mil denúncias em menos de 24 horas, desde que foi criado também na quarta-feira (3). Na Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral criou, em dezembro de 2017, um conselho para lidar com as notícias falsas na eleição. No entanto, o grupo não se reuniu durante toda a campanha e não conseguiu chegar a conclusões nem tomar medidas concretas nessa área.

Atentado

No dia 7 de setembro de 2018, durante um comício em Juiz de Fora (MG), Jair Bolsonaro foi alvo de um atentado contra sua vida. O candidato do PSL foi atacado com uma facada no abdome. Em estado grave, teve atendimento cirúrgico e permaneceu internado até ser liberado na semana anterior às eleições em 1º turno.

O episódio representou um ponto de virada na corrida eleitoral. Além de atentar contra a vida de um dos candidatos, desafiou a democracia brasileira ao incitar a violência como forma de definição de conflitos. A organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch publicou uma manifestação sobre o atentado, na qual condenou “fortemente o ataque criminoso”. A organização disse, também, que “diferenças políticas ou ideológicas devem ser resolvidas por meio de diálogo e nunca da violência”. Os adversários de Bolsonaro também publicaram comunicados condenando o ocorrido.

Mesmo afastado da agenda pública, Bolsonaro permaneceu líder nas pesquisas de intenção de voto. Sua campanha passou a ser conduzida e representada por seus filhos e pelo candidato a vice, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB).

Jair Bolsonaro

Eleito em 1990 com discurso conservador, Bolsonaro permaneceu no Legislativo por mais seis legislaturas em oito partidos diferentes. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jair Messias Bolsonaro nasceu em Campinas, em no interior de São Paulo, em 21 de março de 1955. Passou sua infância e adolescência em Eldorado, onde se aproximou do convívio militar. Em 1970, tropas do Exército se instalaram na cidade para conter a oposição de Carlos Lamarca, líderes guerrilheiro contrário à Ditadura Militar. Sete anos depois, Bolsonaro forma-se pela Academia Militar das Agulhas Negras, passando a servir ao Exército em Nioaque, no Mato Grosso do Sul. Ele também é formado em Educação Física pela Escola de Educação Física do Exército.

Em 1987, segundo documentos revelados pelo jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro foi marcado por atos de “indisciplina e deslealdade” em sua carreira militar. O processo apurava o contexto em torno do artigo, escrito por Bolsonaro e publicado na revista Veja, em que pedia aumento de salário para os militares e seu envolvimento em um plano para explodir bombas em unidades militares do Rio de Janeiro. Na época, Bolsonaro negou as acusações e, uma ano depois, foi inocentado pela maioria dos ministros do Superior Tribunal Militar. No mesmo ano, ele foi para a reserva do Exército, com a patente de capitão. Logo depois, ingressou na política como vereador no Rio de Janeiro pelo PDC (Partido Democrata Cristão) – em mandato que durou apenas dois anos com sua candidatura para deputado federal.

Eleito em 1990 com discurso conservador, Bolsonaro permaneceu no Legislativo por mais seis legislaturas em oito partidos diferentes. Em 27 anos como deputado federal, foi autor de 162 projetos de lei – dos quais apenas dois foram aprovados. Um deles estabelecia a prorrogação de benefícios fiscais ao setor de informática. O outro autorizava o uso da fosfoetanolamina, mais tarde conhecida como “pílula do câncer”, cujos resultados nunca foram cientificamente comprovados.

Nos últimos anos, foi alvo de processos por injúria, apologia ao estupro, racismo e homofobia por declarações públicas. Bolsonaro construiu sua imagem com declarações violentas – que agradam parte do eleitorado que o chama de “mito” e endossa suas opiniões. Em 1999, Bolsonaro afirmou que seria necessário “matar 30 mil” para resolver os problemas do Brasil. Em 2014, uma ação foi aberta contra o então deputado no Supremo Tribunal Federal (STF) após Bolsonaro afirmar que a deputada Maria do Rosário (PT) era tão feia que nem mereceria ser estuprada. Em 2017, afirmou que quilombolas “não serviriam para procriar”.

Outras contradições marcaram sua carreira política. Mesmo não sendo citado em processos da Lava Jato – o que consta como trunfo em sua campanha – Bolsonaro manteve o benefício do auxílio-moradia, mesmo sendo proprietário e residindo em um apartamento próprio. Além disso, sua atual esposa foi exonerada, em 2008, pelo STF, de um cargo no gabinete do então deputado após o colegiado entender que sua contratação seria exemplo de nepotismo.

Fernando Haddad

Haddad, em comício no largo Glenio Peres, em Porto Alegre. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Fernando Haddad nasceu em São Paulo, em 25 de janeiro de 1963. Cresceu na capital paulista e ingressou na Universidade de São Paulo (USP) em 1981, para cursar Direito. Durante a faculdade, iniciou sua trajetória política na militância estudantil.

Trabalhou como analista de investimento e consultor após sua graduação. Em 1983, se filiou ao Partido dos Trabalhadores. Tem mestrado em economia política e doutorado em filosofia. Em 1997, tornou-se professor de economia política na USP – cargo que ocupou até licenciar-se em 2003, quando foi nomeado assessor especial do Ministério do Planejamento no governo Lula. Haddad voltou às salas de aula em 2015 e hoje está licenciado novamente.

Em 2001, comandou o gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico na prefeitura de São Paulo. Após, integrou o governo Lula participando da formatação da Lei das PPPs (Parcerias Público-Privadas), na pasta do Planejamento. Depois, passou a compor o Mistério da Educação, até ser nomeado ministro em 2005. Em sua gestão, foram criados projetos como o ProUni- que concede bolsas em universidades para estudantes de baixa renda -, a ampliação do Fies (Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), a criação do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), e, por fim, a reformulação do Enem (Exame Nacional de Ensino Médio), em 2009.

O Exame, no entanto, foi central para os críticos do então ministro. No mesmo ano da reformulação, provas foram vazadas. Um ano depois, falhas na gestão do Fies também renderam críticas à sua gestão. Haddad deixou o MEC em 2012, quando foi eleito prefeito de São Paulo.

Logo após assumir, em 2013, teve que se posicionar frente às Jornadas de Junho – inciadas em São Paulo por conta do reajuste das tarifas do transporte público. Seu mandato foi marcado pela ênfase em obras viária, criando faixas para ônibus, ciclovias e reduzindo os limites de velocidade. Também se destacou com a implementação do programa Braços Abertos, focado no atendimento a usuários de drogas, além da Controladoria Geral do Município, que expôs esquemas de corrupção em São Paulo. Em 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff (PT), Haddad foi derrotado ao tentar a reeleição pelo empresário João Doria (PSDB).

A instalação de um dos trechos das ciclofaixas resultou em um processo de improbidade administrativa, do qual Haddad se tornou réu em agosto de 2018 e nega qualquer falha. Ainda neste ano, o ex-prefeito teve o nome envolvido em desdobramentos da Lava Jato, quando foi acusado de receber propina para sua campanha de 2012. Em fase inicial, os processos não o enquadraram na Lei da Ficha Limpa e Haddad foi indicado pelo então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, a representar o partido na corrida eleitoral de 2018 à presidência – após o ex-presidente ter a candidatura negada pelo STF.

 


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