Da Redação
“Nós estamos falando de uma proposta para países com economia de ponta num país com economia negativa, combalida e num forte processo de desindustrialização. Então, a captação de recursos, num cenário como esse, é de países desenvolvidos, como na Europa, Estados Unidos, China, enfim, outros países que têm já uma tradição industrial e que investem, essas indústrias, na pesquisa e desenvolvimento junto às universidades”. A avaliação inicial sobre algumas propostas do programa Future-se, apresentado nesta quarta-feira (17) pelo Ministério da Educação, é do reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Paulo Afonso Burmann, que esteve em Brasília para o evento.
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Burmann destaca ainda que, nem a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), nem as universidades participaram, em qualquer momento, da discussão dessa proposta. “Ela foi totalmente desconhecida até a tarde de ontem”, diz ele.
O reitor também lembrou que, “em hipótese alguma”, o programa pode substituir o compromisso da União com o orçamento para as universidades. “É preciso que o recurso que está bloqueado, urgentemente, seja liberado, permita que as universidades deem continuidade a suas atividades”.
Ainda segundo Burmann, a questão não está na captação de recursos, uma das metas do novo programa. Para ele, o que precisa é desburocratizar o processo de captação de recursos próprios para as universidades. “Elas o fazem, no entanto, esse recurso próprio retorna para a conta única da União e raramente ele é reorçamentado, por conta até da limitação estabelecida na lei do teto [lei do Teto dos Gastos].
O reitor falou ainda sobre o que mais o assusta na proposta: o fato de, a curto ou médio prazo, haver Organizações Sociais (OSs) fazendo a gestão das universidades. “Isso é um processo que não encontra respaldo, não encontra boas referências em nenhuma universidade”. Para Burmann, é importante, neste momento, estar aberto à discussão, ao debate, já que é o primeiro contato que os reitores estão tendo com essa proposta, mas também é preciso apresentar soluções que efetivamente venham ao encontro da necessidade atual de financiamento das universidades públicas do país, que, de acordo com ele, são “ensino, pesquisa e extensão gratuitos, de qualidade, num país que depende muito de ciência e tecnologia e de formação de profissionais qualificados e capacitados, comprometidos com o futuro e com a soberania nacional”.