Luís Eduardo Gomes
Após serem despejadas duas vezes e a Prefeitura determinar a demolição do prédio em que haviam se abrigado na Cidade Baixa, em Porto Alegre, as famílias da Ocupação Baronesa estão de “casa nova”. Os organizadores da Baronesa anunciaram na segunda-feira (29) que ocuparam um outro imóvel abandonado, na Travessa Comendador Batista nº 26, também na Cidade Baixa. A nova ocupação, no entanto, ocorreu ainda no dia 21 de julho, na segunda-feira anterior.
“A gente ficou em silêncio para não alertar, até por toda a violência que a gente sofreu”, diz Alice de Oliveira Martins, representante do movimento que organiza a ocupação. Pelo mesmo motivo, não ocorre neste momento a divulgação do número de famílias que está no local. “Ontem, quando completamos uma semana de ocupação, anunciamos para dizer que a gente está novamente na resistência na Cidade Baixa”, complementa Alice.
O movimento diz que tem a intenção de organizar uma cooperativa para fazer a compra e a restauração do imóvel recentemente ocupado, o que também era a proposta para o casarão da Baronesa do Gravataí. A ideia é que, a partir da ocupação, as famílias consigam estabelecer projetos culturais e atividades de geração de renda. “Pretendemos realizar momentos de conversa, rodas de poesia e arte, brechó, grupos de apoio e outras atividades, compatíveis com o espaço e que não causem transtorno, pautadas por uma ética cidadã, humana, inclusiva e orientada para o bem viver em sociedade”, diz manifestação publicada na página da ocupação.
Distante cerca de 2 km do casarão da Baronesa, o novo imóvel é um sobrado de dois andares. Diferentemente do primeira ocupação, que era em um prédio de propriedade da Prefeitura, a nova moradia é privada. Alice diz que o local foi escolhido por estar há muitos anos “sem cumprir sua função social”. Segundo ela, apoiadores do movimento realizaram uma assessoria técnica e atestaram que o sobrado está em condições de ser habitado. O mesmo grupo está ajudando na elaboração de um projeto de restauração que tem como proposta transformar o local em um espaço ecologicamente sustentável, com placas de energia solar e um sistema de cisternas para a reposição de água.
Nesta quarta-feira (31), as famílias irão participar de uma reunião com os conselheiros da Região de Planejamento 1, do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental (CMDUA) de Porto Alegre, em que a situação da ocupação será debatida. A reunião será na nova Ocupação Baronesa.
Histórico
A Ocupação Baronesa surgiu em maio, com cerca de 10 famílias, em um antigo casarão abandonado há 12 anos na esquina das ruas Baronesa do Gravataí e 17 de Junho, na Cidade Baixa. A primeira operação de reintegração de posse ocorreu no início de junho. Sem ter para onde ir e com a forte queda na temperatura em Porto Alegre, as famílias voltaram a ocupar o prédio. No dia 10 de julho, mais uma desocupação. Mas cinco famílias seguiam sem ter para onde ir. Retornaram então para a calçada, onde montaram acampamento no dia 17.
Na madrugada do dia 18, duas patrolas foram ao local para derrubar o casarão. Em poucas horas, apenas escombros restavam do prédio construído em 1926. Ainda sem ter para onde ir, voltaram ao local no final da tarde do mesmo dia, acenderam uma fogueira ao lado dos escombros e passaram a noite ali. Na manhã seguinte, deixaram o local em definitivo.
