Geral
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10 de setembro de 2018
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16:43

O que esperamos da cidade onde vivemos? CAU/RS debate o exercício da arquitetura e do urbanismo

Por
Sul 21
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Para Tiago Holzmann da Silva, a população deve participar efetivamente da elaboração de políticas para o desenvolvimento urbanístico das cidades. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Como exercer a arquitetura e o urbanismo em um contexto de contradições sociais? Como o planejamento urbano pode contribuir para o desenvolvimento social? A partir de questionamentos como esses, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS) desenvolveu um seminário, nos dias 13 e 14 de setembro, focado no exercício profissional para aprofundar conceitos apresentados, muitas vezes, de forma generalizada durante a formação e discutir um mercado de trabalho diverso.

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“Há um buraco no atendimento à cidade. Convivemos com um déficit habitacional muito grande. E nós entendemos que não podemos ficar sem fazer nada”, resume o coordenador da Comissão de Exercício Profissional do CAU/RS Oritz Campos. O presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann da Silva, explica que o Conselho é organizado por meio de comissões. Das reuniões entre os representantes de cada área surgiu a provocação de debater, com outros colegas e a própria sociedade, as diferentes atribuições da profissão.

Assim, estabeleceram cinco eixos principais de discussão: a assistência técnica, o patrimônio histórico, o plano diretor, contratos públicos, além da própria atuação profissional. “A Lei de Assistência Técnica está completando 10 anos. Ela  representa uma espécie de SUS (Sistema Único de Saúde) da arquitetura e, ainda assim, é subutilizada por uma série de razões”, exemplifica o presidente.

Holzmann também destaca a abordagem sobre os planos diretores. Representando o mapeamento do planejamento urbano da cidade, os planos deverão ser revistos em diversas cidades brasileiras até 2019. “Essa é uma questão extremamente atual, que merece ser tratada em profundidade por requerer a participação popular”. Segundo ele, se mal executado, o Plano Diretor pode representar impasses quanto ao pertencimento à cidade.

Para Campos, a reavaliação desses documentos deve ser feita para acompanhar o desenvolvimento das cidades. Assim como questões relacionadas a contratos e repasses públicos. Holzmann conta que há um movimento em conjunto com grupos de engenheiros para enfrentar práticas de licitação e contratação que são danosas à qualidade do trabalho. “Por isso é importante, também, trabalhar as atribuições do que é ser arquiteto e provocar um olhar mais aberto para todas as áreas, inclusive o patrimônio histórico. Infelizmente, temos assistido a alguns retrocessos com relação à proteção.”

Campos relembra o que chama de ‘apogeu’ na urbanização de Porto Alegre, na década de 1980. “Tínhamos um setor muito forte de planejamento urbano dentro da Prefeitura. Infelizmente, a cidade perdeu a força desse setor – que chegou a ter o status de secretaria”. Ele enfatiza a necessidade de antecipação na gestão pública. “Temos que estabelecer de forma clara quais são os rumos da cidade. No entanto, tivemos um esvaziamento muito grande dessa reflexão. Por isso, hoje, vemos os reflexos disso. É só andar pela cidade que vemos que os investimentos e os planos propostos pelas últimas gestões não estão atendendo às necessidades impostas”.

Banner do Seminário de Exercício Profissional do CAU/RS. Imagem: Divulgação/CAURS

De acordo com ele, por mais que haja uma proximidade entre os profissionais e a cidade, deve-se trabalhar para promover o pertencimento dos cidadãos. “A população sofre as consequências mas, muitas vezes, não entende a necessidade do planejamento e de políticas que mantenham, não só a questão do patrimônio, mas também o meio ambiente, a mobilidade, a habitação… São temas que exigem políticas de longo prazo”. Holzmann defende que a população participe efetivamente da elaboração dessas políticas. “Para que as consequências sejam boas, no final. Mas o desafio é buscar quais são as pontes possíveis para que se avance”.

Campos classifica o momento atual como um ponto de construção desorganizada. “Quando falamos da materialização do exercício profissional, estamos nos referindo à edificação das cidades. Eu acho que é uma questão de cidadania saber como está o lugar onde moramos e o que esperamos dele. Planejamento deveria ser matéria obrigatória para todos os cidadãos. Temos que tomar o espaço que nos é dedicado”. Para ele, considerar que o planejamento pertence só aos técnicos abre precedentes para uma descaracterização do espaço. “Na verdade, estamos à serviço dos interesses dessa coletividade”.

Este ano, o Conselho já realizou um evento relacionado ao ensino da arquitetura e urbanismo. “Mas não serão os únicos”, promete Holzmann. “Pretendemos seguir com programações no interior do Rio Grande do Sul, junto às faculdades, para promover a arquitetura e o urbanismo”.

Serviço

O quê? Seminário de Exercício Profissional do CAU/RS

Quando? 13 e 14 de setembro (quinta e sexta-feira)

Onde? Fundação Iberê Camargo

Como acompanhar? Os ingressos já estão esgotados, porém, na página do CAU/RS no Facebook haverá uma transmissão ao vivo durante os dois dias de evento.

Confira a programação completa aqui.


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