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15 de junho de 2018
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20:27

Guaranis fazem retomada em área da Fazenda Arado Velho em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Foto: Divulgação

Da Redação

Quatro lideranças indígenas guarani-mbya começaram uma nova retomada em Porto Alegre, na manhã desta sexta-feira (15). A área ocupada por eles fica na antiga Fazenda Arado Velho, na região conhecida como Ponta do Arado. A orla já é reconhecida como área de preservação, mas a parte de matas é de propriedade privada.

A ideia de retomada é de que os indígenas estariam buscando o que foi retirado deles, em algum momento da história, por proprietários ou mesmo pelo próprio Estado. É o retorno a um território ancestral.

“Essa retomada guarani-mbya tem um significado religioso e político. Religioso porque as lideranças tradicionais do povo guarani dizem que aquela terra é sagrada, é indicada por Ñaderu. Os karai e as kunhã karai sonharam em voltar para aquela terra. Existe o significado da mística guarani da busca pela boa terra, da busca pelo tekoá e do lugar de ser guarani”, explica Roberto Liebgott, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Já o contexto político está ligado à realidade de vida dos povos indígenas no Rio Grande do Sul. “Os guaranis ficam relegados a viver nas margens das rodovias ou em pequenas porções de terras degradadas, que são as sobras do que o Estado lhes oferece. Então, no caso da Ponta do Arado, a área tem as condições ambientais, ecológicas, espirituais, tem água boa, mata boa, animais. É uma área que tem significado profundo no modo de ser guarani, da vida no tekoá”, diz Liebgott.

A área da Fazenda do Arado, com 426 hectares, é reconhecida como um importante sítio arqueológico, com marcas de ocupação guarani, do período pré-colonial. Algumas das peças encontradas na região encontram-se em exposição no Museu Joaquim José Felizardo, na Cidade Baixa, em Porto Alegre.

A parte da Fazenda em si, com construções que datam dos séculos XIX e XX, teve como últimos donos a família Caldas, proprietários do jornal Correio do Povo.

Em um site mantido pelo grupo Preserva Arado, que defende a conservação da antiga fazenda, os ativistas lembram ainda da sua importância cultural para a identidade da própria região. A área está ligada à realização da pesca artesanal, criação de gado e cavalos, navegação e cultivo de alimentos. Além de ser uma referência no “núcleo urbano de Belém Novo”, “uma região marcada pela tranquilidade e qualidade de vida” na Zona Sul.

Há anos, moradores do Belém Novo tentam barrar o projeto que pretende transformar a antiga fazenda em um condomínio de 2,3 mil unidades residenciais e comerciais. Em 2015, a Câmara de Vereadores aprovou um projeto que retirou a área da zona rural da cidade e ampliando as possibilidades de uso da mesma, com aumento dos índices construtivos, na definição do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA). Em agosto do ano passado, porém, a decisão foi suspensa na Justiça.


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