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24 de abril de 2018
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20:09

Após venda de ações ‘às escuras’, bancários realizam ato para impedir perda de serviço do Banrisul

Por
Sul 21
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Ato dos bancários em defesa do Banrisul ocorreu em frente à central do Banco, na rua Caldas Júnior. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Giovana Fleck

“Isso pra mim é um indício muito forte de um sistema que privilegia, que corrompe e que destrói o patrimônio de todos os gaúchos e gaúchas”, resumiu o deputado estadual Jefferson Fernandes (PT) no ato convocado pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) nessa terça-feira (24), para alertar a sociedade sobre o significado da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), da operadora de cartões do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, a Banrisul Cartões.

Os manifestantes criticaram a venda de ações realizada pelo governo do Estado há três semanas (dia 10 de abril). Foram vendidas 26 milhões de ações preferenciais classe B (PNB) do banco – sem direito a voto -, uma transação intermediada pelo BTG Pactual, o que gerou uma arrecadação de R$ 484,9 milhões, R$ 18,65 por cada ação. O valor mínimo para a venda das ações era de R$ 18, o que representa que o valor comercializado foi 3,61% acima do mínimo. O volume comercializado representa 12,75% do total de ações PNB e 6,35% do capital do banco. A transação foi intermediada pelo BTG Pactual.

Para o deputado, o governador José Ivo Sartori explora o Rio Grande como se fosse seu patrimônio próprio. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Para o deputado, se – em sua campanha – o governador José Ivo Sartori (MDB) afirmava que seu partido é o Rio Grande, hoje, explora o Rio Grande como se fosse seu patrimônio próprio. “Entregando as riquezas para quem já tem muita lucratividade”, completa, lembrando da definição concedida pelo ministro Eliseu Padilha de que o banco seria uma das “joias da coroa” no patrimônio do RS. “Vocês sabem que se fosse para entregar todo o banco, tinha que ter plebiscito. Por isso, mascaram a venda”, completa.

Hoje, a Banrisul Cartões administra todos os cartões do Banrisul, incluindo seu principal produto, o Banricompras. Presidente do SindBancários, Everton Gimenis disse que o ato serviu para se posicionar sobre a assembleia de acionistas do Banrisul Cartões, realizada na tarde dessa terça-feira. Segundo ele, apenas esta divisão do banco foi responsável por um quarto do lucro total do Banrisul, em 2017. “E o banco está vendendo ela por uma ninharia.” Segundo o sindicato, a Banrisul Cartões lucrou cerca de R$ 220 milhões no ano passado – o que representa mais de 20% do lucro líquido do Banrisul. Para o sindicato, entregar qualquer volume de ações, ou parte da empresa, significa reduzir o lucro líquido do Banrisul. Procurado pela reportagem, o Banrisul não se manifestou sobre essas afirmações.

Sérgio Hoff afirma que o lucro do Banrisul Cartões representa cerca de 56% em dividendos para o estado. Foto: Guilherme Santos/Sul21

De acordo com Sérgio Hoff, funcionário do Banrisul há 10 anos e diretor da Federação dos Bancários, os lucros da Banrisul Cartões, até a venda das ações do banco pelo Governo Sartori, representavam cerca de 56% em dividendos para o estado. “A gente pode fazer uma conta rápida e dizer que representa R$ 500 milhões em dinheiro investido no Rio Grande do Sul.” Para ele, com a abertura de capital, esse valor será destinado a iniciava privada – deixando de ser repassado para a população, mesmo que de forma indireta. “É no financiamento do pequeno empresário, do agricultor. Que é o papel do banco estatal e eles estão descaracterizando a principal função do Banrisul”, afirma.

Sérgio assumiu seu cargo no banco em 2007, na mesma época em que o governo de Yeda Crusius (PSDB) obteve R$ 1,26 bilhão com o IPO do Banrisul na Bolsa de Valores. “Até então, o RS detinha 100% das ações. A partir da venda de 43%, o banco mudou. A pressão por metas começou naquela época. Produtos, venda casada para clientes… Isso forçou o banco a se adequar ao mercado. E de lá para cá só tem aumentado mais os questionamentos sobre o abuso do sistema financeiro e o que é melhor para a população.”

No final da tarde da quarta-feira, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público realizará um ato para tratar das vendas de ações. Segundo o presidente do SindBancários, o sindicato já está organizando ações judiciais para apurar se houve improbidade administrativa e gestão temerária. No dia 29 de março (quinta-feira), o sindicato e a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS) ingressaram com um protesto judicial para preservar o caráter público da instituição. “Foi na calada da noite, com preços abaixo do mercado. De forma suspeita. O que dá a entender que foi uma ação já direcionada com um comprador em mente, e que pode se repetir”, afirma.

Segundo Everton Gimenis, o SindBancários já está organizando ações judiciais para apurar se houve improbidade administrativa e gestão temerária. Foto: Guilherme Santos/Sul21

 


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