Jair Bolsonaro é eleito presidente do Brasil

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Sul 21
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Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito presidente neste domingo (28).  Foto: Guilherme Santos/Sul21

Da Redação 

Com 55,20% dos votos, o deputado Jair Messias Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL, foi eleito o novo presidente da República. Seu adversário, o petista Fernando Haddad, encerrou a votação com pouco mais de 44,80% dos votos válidos.

A eleição de Bolsonaro, capitão da reserva, foi marcada pela polarização, pela controvérsia e pelo questionamento da própria democracia. O novo presidente será o primeiro político saído do Exército a assumir o comando do país desde 15 de março de 1985. Primeira legislatura após a redemocratização, 85 foi o ano em que o general João Baptista Figueiredo deixou a Presidência para dar lugar ao advogado José Sarney – vice de Tancredo Neves na chapa eleita indiretamente pelo Congresso. Representante do Partido Social Liberal (PSL), a vitória de Bolsonaro também marca o fim da polarização entre PT e PSDB que governava o Brasil desde 1994.

A vitória foi assegurada por volta das 19h30, no momento em que Bolsonaro registrou 55,54% dos votos, quando Haddad aparecia com 44,46%. A pesquisa de boca de urna do Ibope apontava 56% dos votos para Bolsonaro e 44% para Haddad. O resultado projetado confirma as últimas pesquisas de intenção de voto, que tinham mostrado uma aproximação entre os dois candidatos na reta final do segundo turno.

A posse será em 1º de janeiro de 2019. Seu vice, Antônio Hamilton Martins Mourão (PRTB), de 65 anos, é general da reserva do Exército.

Silêncio

Pela primeira vez desde que o Brasil voltou a ter eleições diretas, após duas décadas de ditadura militar, uma eleição com segundo turno terminou sem os tradicionais debates cara a cara na televisão. Bolsonaro recusou os convites de seis emissoras na segunda etapa da corrida presidencial após ter sido vítima de um atentado a faca, no dia 6 de setembro, ainda no primeiro turno.

Bolsonaro participou dos dois primeiros debates na televisão na primeira etapa da corrida presidencial, nos dias 9 e 17 de agosto, quando ele era o segundo colocado nas pesquisas e o candidato do PT ainda era Luiz Inácio Lula da Silva. Preso em Curitiba, Lula não foi autorizado pela Justiça a deixar a cadeia para debater. Quando Haddad foi oficializado candidato, em 11 de setembro, após Lula ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, Bolsonaro já estava hospitalizado por causa da facada.

Após mais de um mês de recuperação, o candidato – que já estava concedendo entrevistas em rede nacional – chegou a admitir que a ausência nos debates faria parte de uma “estratégia”. Os projetos do PSL e do PT, portanto, nunca foram confrontados ao vivo pelos seus candidatos à Presidência.

Denúncias de agressão

Após a decisão do primeiro turno, uma série de atos de violência por todo o país começaram a ser registrados. Apoiadores do então candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, foram acusados de agredir e até matar opositores políticos – entre eles o capoeirista Moa do Katendê.  Em pronunciamento na quarta-feira (10), Bolsonaro se distanciou dos acontecimentos, dizendo que não tem controle sobre as pessoas e que é “a prova viva” da intolerância, em referência ao atentado contra sua vida em Minas Gerais.

“Esta pergunta não deveria ser invertida? Quem levou a facada foi eu. Um cara lá, que tem uma camisa minha, comete um excesso, o que eu tenho a ver com isso? Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre milhões de pessoas que me apoiam. Agora, a violência vem do outro lado, e eu sou uma prova viva disso”, disse.

Segundo levantamento feito pela Agência Pública, mais de 50 ataques violentos em todo o Brasil foram registrados, dos quais 14 teriam ocorrido na região sul.

WhatsApp

Após um primeiro turno marcado pelo grande fluxo de compartilhamento de informações falsas, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que empresas contrataram disparos massivos de mensagens de WhatsApp contra o PT e a favor de Jair Bolsonaro (PSL), em contratos que chegavam a R$ 12 milhões. Além de contar com apoio financeiro não declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a partir de pagamentos com CNPJs, o que é proibido desde 2015, os contratantes contavam com bases de dados de terceiros, prática também ilegal.

A coligação que sustentou a candidatura de Fernando Haddad (PT) à presidência da República e o PSOL entraram com pedidos no TSE para que a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) fosse investigada.

A pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a Polícia Federal abriu uma investigação sobre a compra de pacotes de disparos no WhatsApp.

‘Um grande exército’

Pronunciamento de Bolsonaro logo após a vitória. Foto: Agência Brasil

Em pronunciamento oficial após o resultado, Bolsonaro afirmou que: “Alguém sem fundo partidário, com a mídia colocando numa posição vexatória, ganhou a eleição. [Os brasileiros] passaram a ser integrantes de um grande exército que sabia para onde o Brasil estava marchando. Todos sabíamos para onde o Brasil estava indo. Não podíamos mais compactuar com o socialismo. O que eu mais quero é seguir os ensinamentos de Deus. Começar a fazer um governo que possa fazer o Brasil um lugar de destaque. Temos tudo para ser uma grande nação. Todos os compromissos assumidos com o povo e as bancadas serão cumpridos. Meu muito obrigado a todos vocês pelo apoio, pela consideração e pela confiança. Vamos juntos mudar o futuro do Brasil. Peço a Deus coragem para poder bem decidir o futuro do Brasil”.

Biografia

Jair Messias Bolsonaro nasceu em Campinas, no interior de São Paulo, em 21 de março de 1955. Passou sua infância e adolescência em Eldorado, onde se aproximou do convívio militar. Em 1970, tropas do Exército se instalaram na cidade para conter a oposição de Carlos Lamarca, líderes guerrilheiro contrário à Ditadura Militar. Sete anos depois, Bolsonaro forma-se pela Academia Militar das Agulhas Negras, passando a servir ao Exército em Nioaque, no Mato Grosso do Sul. Ele também é formado em Educação Física pela Escola de Educação Física do Exército.

Em 1987, segundo documentos revelados pelo jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro foi marcado por atos de “indisciplina e deslealdade” em sua carreira militar. O processo apurava o contexto em torno do artigo, escrito por Bolsonaro e publicado na revista Veja, em que pedia aumento de salário para os militares e seu envolvimento em um plano para explodir bombas em unidades militares do Rio de Janeiro. Na época, Bolsonaro negou as acusações e, uma ano depois, foi inocentado pela maioria dos ministros do Superior Tribunal Militar. No mesmo ano, ele foi para a reserva do Exército, com a patente de capitão. Logo depois, ingressou na política como vereador no Rio de Janeiro pelo PDC (Partido Democrata Cristão) – em mandato que durou apenas dois anos com sua candidatura para deputado federal.

Eleito em 1990 com discurso conservador, Bolsonaro permaneceu no Legislativo por mais seis legislaturas em oito partidos diferentes. Em 27 anos como deputado federal, foi autor de 162 projetos de lei – dos quais apenas dois foram aprovados. Um deles estabelecia a prorrogação de benefícios fiscais ao setor de informática. O outro autorizava o uso da fosfoetanolamina, mais tarde conhecida como “pílula do câncer”, cujos resultados nunca foram cientificamente comprovados.

Nos últimos anos, foi alvo de processos por injúria, apologia ao estupro, racismo e homofobia por declarações públicas. Bolsonaro construiu sua imagem com declarações violentas – que agradam parte do eleitorado que o chama de “mito” e endossa suas opiniões. Em 1999, Bolsonaro afirmou que seria necessário “matar 30 mil” para resolver os problemas do Brasil. Em 2014, uma ação foi aberta contra o então deputado no Supremo Tribunal Federal (STF) após Bolsonaro afirmar que a deputada Maria do Rosário (PT) era tão feia que nem mereceria ser estuprada. Em 2017, afirmou que quilombolas “não serviriam para procriar”.

Outras contradições marcaram sua carreira política. Mesmo não sendo citado em processos da Lava Jato – o que consta como trunfo em sua campanha – Bolsonaro manteve o benefício do auxílio-moradia, mesmo sendo proprietário e residindo em um apartamento próprio. Além disso, sua atual esposa foi exonerada, em 2008, pelo STF, de um cargo no gabinete do então deputado após o colegiado entender que sua contratação seria exemplo de nepotismo.


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