Manifestantes anti-Lula impedem chegada do ex-presidente em Passo Fundo

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Brigada Militar foi acionada, mas não liberou as vias bloqueadas por manifestantes contrários à presença de Lula em Passo Fundo | Foto: PT Divulgação

Luís Eduardo Gomes

O quinto dia da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Rio Grande do Sul foi marcado pela primeira vitória dos manifestantes contrário à presença de Lula no Estado. Depois de horas de tentativas sem sucesso de liberação do tráfego no trevo de acesso à cidade de Passo Fundo, os organizadores da caravana decidiram desistir do evento marcado para a cidade e partir para a próxima parada, em São Leopoldo.

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A Caravana pelo Sul começou o dia em Sarandi, onde a comitiva passou a noite. De lá, partiram para o primeiro ato desta sexta-feira (23), marcado para as 9h30 no município de Ronda Alta. Ali, Lula, Dilma Rousseff, Olívio Dutra, Miguel Rossetto e o restante da comitiva foram recebidos por centenas de agricultores familiares e trabalhadores locais na propriedade da família Pasquetti, em um ato que tratou da situação dos pequenos e médios agricultores da região noroeste do Estado.

Manifestates em apoio ao ex-presidente chegaram a se reunir e esperar por ele em Passo Fundo | Foto: PT Divulgação

Após tomar café com a família anfitriã, a caravana partiu para uma parada rápida em Pontão, onde foi realizado um pequeno ato com assentados do movimento sem terra da região, um dos berços da reforma agrária no Estado – a cidade tem suas origens na fazenda Annoni, ocupada pelo MST em 1985. O encontro acabou por volta das 12h30 e a caravana deveria seguir para Passo Fundo, onde estava marcado um novo ato às 13h, na região central da cidade. Contudo, desde a manhã, uma manifestação organizada por sindicatos rurais da região bloqueava o trevo de acesso à cidade. Segundo informações da rádio Uirapuru, entre 800 e mil pessoas se encontravam no local. A Brigada Militar foi mobilizada, mas não liberou a via. Agricultores organizaram bloqueios em diversos pontos da rodovia queimando pneus. Segundo a organização da caravana, os manifestantes estavam armados com pedras preparadas para atirar nos ônibus, assim como ocorreu na passagem por São Borja e Santa Maria.

Por mais de quatro horas, os ônibus permaneceram em Pontão, no local do ato com o MST, esperando que a BM liberasse o acesso a Passo Fundo, o que não ocorreu. Por questões de segurança, decidiu-se então que o ex-presidente Lula e uma parte dos membros da caravana seguiriam de carro até Chapecó, onde pegariam avião para Porto Alegre e de lá se dirigiriam para São Leopoldo, onde se encerra a caravana no RS.

Também segundo a Rádio Uirapuru, após a confirmação de que a caravana não seguiria para Passo Fundo, os manifestantes anti-Lula organizaram uma carreata pelas ruas centrais de Passo Fundo em comemoração. Nesse mesmo momento, apoiadores do ex-presidente, que chegaram a somar cerca de 800 pessoas no centro da cidade, se desmobilizaram.

Ronda Alta

Há 30 anos Vilson Pasquetti tem uma pequena propriedade no município de Ronda Alta, onde mora e trabalha junto com outros quatro membros de sua família. Ali, eles produziam soja, milho e outros grãos. Era uma vida simples e boa, mas sentia a necessidade de “girar mais dinheiro”. Queriam entrar no ramo leiteiro. “Então eu acessei o programa Mais Alimentos, que tinha juro de 2% o ano e podia pagar em 10 anos. Adquiri assim o gado leiteiro, caminhonete, trator. Fomos adquirindo e crescendo a propriedade”, conta.

Vilson Pasquetti recebeu Lula em casa para o café da manhãFoto: Guilherme Santos/Sul21

Na manhã desta sexta-feira (23), a propriedade da família Pasquetti recebeu a visita dos ex-presidentes Lula e Dilma, e da comitiva que acompanha a caravana pelo sul do País, e serviu a eles um café colonial com os produtos da agricultura familiar. “A gente nem acreditou, mas é uma alegria para a família Pasquetti receber a visita dos presidentes. Isso é uma coisa inédita”, disse.

Além da comitiva, também recebeu centenas de pequenos e médios agricultores e trabalhadores de Ronda Alta que foram ao local para ver o ex-presidente. Rui Valença, coordenador-geral da Fetraf, entidade que representa trabalhadores da agricultura familiar, lembrou que Lula esteve em Ronda Alta há 17 anos, quando fez, em 2001, uma caravana pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina para visitar justamente o trabalho da agricultura familiar.

“Dezessete anos depois, muita coisa mudou”, disse. “Mudou a paisagem, mudou a vida. Os filhos dos agricultores tiveram o direito de ir para a universidade, pelo ProUni e nas federais, inclusive os meus”, complementou Valença, que entregou ao ex-presidente um documento com sugestões da categoria para o plano de governo do PT, incluindo políticas que permitam a pequenos e médios competir em melhores condições com os grandes agricultores e com o mercado. “Não dá para largar um tubarão junto com um lambari na piscina. O que nós queremos é condições para produzir alimentos, políticas públicas, não destruir as políticas como esse governo golpista têm feito”.

Pela manhã, caravana passou por Ronda Alta, em clima bem diferente de Passo Fundo | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Prefeito de Ronda Alta, Miguel Gasparetto (PT), afirmou que, nesse período, graças ao fortalecimento do Pronaf, milhares de pessoas ascenderam à classe média.

No ato, Lula destacou que, quando chegou ao governo, o orçamento do Pronaf destinado a financiaentos era de R$ 2,2 bilhões. Quando Dilma concluiu seu primeiro mandato, em 2014, já superava os R$ 30 bilhões.

Uma das famílias que ascendeu foi justamente os Pasquetti, mas Vilton não se tornou um daqueles agricultores que Lula vinha citando nas suas paradas anteriores da caravana, que pegaram dinheiro a juros subsidiados nos governos petistas e hoje destilam ódio contra ele e Dilma. E a prova disso vinha no trator que ajudou a levar o ex-presidente do ônibus da caravana para o palco, que exibia o nome do programa que o ajudou a ascender.

Em Ronda Alta a luta era para enxergar Lula | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Marli Maria Kramer, que veio de Lajeado Bonito, cidade próxima na região, para ver a caravana passar, também viu as condições de vida melhorarem após a criação de programas de financiamento da agricultura familiar. “Melhorou muito coisa, porque a gente conseguiu financiar um trator pelo Mais Alimentos, a gente conseguiu reformar a casa, construir uma nova pelo Minha Casa, Minha Vida. Tá muito bom na agricultora familiar. A gente não troca Dilma e Lula por nada”, disse.

Antônio Pereira não é agricultor, mas, como morador de Ronda Alta há 45 anos, viu a cidade melhorar com o crescimento da agricultura familiar e, para a família dele, viu programas educacionais de acesso à universidade permitirem que sua filha se formasse assistente social e sua neta enfermeira. “Eu agradeço muito que foi através do Lula que eu tenho uma filha e uma neta formadas na universidade, pelo ProUni. Não gastamos um pila, porque nós não tinha para gastar. Só tenho a agradecer”, afirmou.

Ao final do ato, antes de tomar o café na casa dos Pasquetti, Lula fez uma promessa de campanha. “Se nós voltarmos, vamos terminar a reforma agrária definitivamente”.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
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