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20 de abril de 2020
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22:21

Hospital de Gravataí nega racismo e agressão a idoso, erradamente acusado de furto

Por
Sul 21
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Polícia Civil de Gravataí apura a denúncia de racismo e violência cometida por funcionários do hospital contra idoso. Foto: Arquivo/MPT-RS

O Hospital Dom João Becker, em Gravataí (RS), se viu envolvido no último final de semana em uma acusação de agressão a Everaldo da Silva Fonseca, de 62 anos, que teria sofrido violência verbal e física, com chutes e socos, após ser apontado como responsável pelo furto de um celular. Fonseca estava no hospital para acompanhar a esposa, Maria Gonçalves, internada com problemas no fígado, e que, segundo ele, sofreu uma parada cardíaca após vê-lo ser espancado por funcionários do hospital.

Em nota enviada à redação do Sul21 no início da noite de domingo (19), o hospital nega que a suspeita de furto contra Everaldo da Silva Fonseca tenha acontecido por motivo racial. A instituição, mantida pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, também nega ter havido agressão física ou verbal.

“Por volta de 4h, houve um episódio de suspeita de furto de celular nas dependências do hospital, no qual lamentavelmente, por circunstâncias, o familiar acabou sendo envolvido. Contudo, a situação foi prontamente esclarecida. A suspeita não decorreu de motivo racial, tampouco houve agressão ou injúria racial conforme especulado indevidamente em redes sociais”, afirma a nota do Hospital Dom João Becker.

Jonatas Lopes Fonseca, filho do casal, disse em entrevista ao site Giro de Gravataí que o pai lhe telefonou por volta das 3h de sábado contando da agressão sofrida e da morte da mãe. “Eles pegaram o meu pai, na frente da minha mãe, que estava acamada, chutaram, deram um monte de socos no meu pai. Fizeram um monte de coisa para ele, tocaram as coisas do meu aqui na rua. A enfermeira teve a capacidade de pegar, entrar lá dentro, ir lá onde a minha mãe tava acamada, deitada numa cama, pegar e revirar todinhas as fraldas dela para ver se o celular não tava lá”, afirmou.

Segundo o filho, o celular depois foi encontrado e os funcionários do hospital se desculparam com seu pai. “Mas o que adianta pedir desculpa depois que eles fizeram o meu pai passar vergonha na frente de todo mundo. Chamaram até meu pai de negro, um segurança, isso aí é racismo”, diz. “E coitada da minha mãe acabou falecendo, gritando socorro para ninguém fazer isso com meu pai. Ela veio a falecer, às 3h da manhã.”

A morte da mãe durante a briga também é rechaçada pelo hospital Dom João Becker. A instituição alega que ela estava dormindo no momento da confusão, e que veio a falecer na manhã de domingo.

“No momento do fato a paciente encontrava-se dormindo e não tomou conhecimento do ocorrido. O óbito ocorreu por volta de 9h50 por causas naturais, devido à gravidade de doença crônica pré-existente, não havendo qualquer relação plausível de causa e consequência entre os eventos, conforme atestam todos os documentos de registro assistencial”, diz o hospital, em nota.

De acordo com o delegado Márcio Zaquelo, da 1˚ Delegacia de Polícia Civil de Gravataí, onde o caso foi registrado, a apuração dos fatos ainda está em fase inicial. Zaquelo diz que os responsáveis pelo hospital ainda não forma ouvidos, que está em busca de testemunhas e solicitou as imagens das câmeras do local. “Vamos com muita cautela, estamos no início da investigação.”

Procurada pela reportagem na tarde desta segunda-feira (20), Joyce Fonseca, também filha do casal, disse que a família provará a verdade dos fatos. “Deixa eles (o hospital) falarem o que quiserem. Do jeito que ela morreu, ninguém merece”, afirmou, destacando que outros pacientes presenciaram a cena. Seu pai, Everaldo da Silva Fonseca, deve depor na próxima quarta-feira (22).

Leia, abaixo, a íntegra da nota do Hospital Dom João Becker:

Com relação aos fatos ocorridos nas dependências do Hospital Dom João Becker na madrugada do último sábado, 18/04, envolvendo familiar de paciente, salientamos que, na manhã deste domingo, 19/04, foi iniciada uma sindicância interna para averiguação do evento, com base no Código de Conduta vigente em todos os hospitais da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Assim, com base nos elementos apurados até o momento, cabe informar:

1. A paciente foi levada ao hospital Dom João Becker pela SAMU na manhã do dia 17/4, em estado grave em razão de doença pré-existente. Recebeu todo atendimento médico necessário ao quadro clínico.
2. Por volta de 4h00, houve um episódio de suspeita de furto de celular nas dependências do hospital, no qual lamentavelmente, por circunstâncias, o familiar acabou sendo envolvido. Contudo, a situação foi prontamente esclarecida. A suspeita não decorreu de motivo racial, tampouco houve agressão ou injúria racial conforme especulado indevidamente em redes sociais;

3. No momento do fato a paciente encontrava-se dormindo e não tomou conhecimento do ocorrido. O óbito ocorreu por volta de 9h50 por causas naturais, devido à gravidade de doença crônica pré-existente, não havendo qualquer relação plausível de causa e consequência entre os eventos, conforme atestam todos os documentos de registro assistencial;
4. A Direção do Hospital Dom João Becker lamenta profundamente o ocorrido, que está em total desalinhamento com seus padrões éticos e de conduta e informa que os envolvidos foram afastados de suas funções até à conclusão das apurações.

Por fim, informamos que a apuração, para maior detalhamento dos fatos, ainda está em curso e os resultados serão divulgados oportunamente.
Hospital Dom João Becker
Gravataí, 19 de abril de 2020.


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