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13 de maio de 2018
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11:13

‘Presente’: obra da Bienal homenageia vereadora Marielle Franco

Por
Sul 21
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‘Presente’: obra da Bienal homenageia vereadora Marielle Franco
‘Presente’: obra da Bienal homenageia vereadora Marielle Franco
Obra ‘Presente’, da artista Camila Soares, homenageia vereadora executada. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Por Annie Castro

Há 60 dias, a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro foi executada com quatro tiros na cabeça enquanto voltava do debate ‘Jovens Negras Movendo as Estruturas’. Morreu na hora, aos 38 anos. Marielle Franco era mulher, negra, mãe, lésbica, nascida no Complexo da Maré, socióloga, mestre em Administração Pública, vereadora pelo PSOL-RJ, ativista pelos direitos humanos e militante na denúncia de abuso policial nas periferias – poucas semanas antes de sua morte, havia sido nomeada relatora da comissão que acompanharia a atuação da intervenção federal na segurança do RJ. Desde a notícia de seu assassinato, que também culminou na morte do motorista Anderson Gomes, atingido por outros três do total de nove tiros disparados contra o carro em que estavam, a frase “Marielle, Presente” ecoou pelas ruas de diversas cidades do Brasil e do mundo durante manifestações pedindo por justiça para a morte da vereadora e de Anderson.

Leia mais sobre o andamento das investigações.

No primeiro protesto que ocorreu em Porto Alegre, a artista brasiliense Camila Soato esteve entre as milhares de pessoas que se reuniram na Esquina Democrática. Há cerca de quatro anos Camila acompanhava e admirava o trabalho de Marielle. Envolvida pela indignação e pela dor de ver uma militante de causas sociais assassinada brutalmente, Camila resolveu criar uma obra para homenagear a vereadora e todas as mulheres que, assim como ela, lutam e resistem. Dessa forma, desde o dia 6 de abril vida e luta de Marielle são homenageadas na 11ª edição da Bienal do Mercosul, que este ano tem como tema o Triângulo Atlântico, debatendo os processos de colonização e a relação entre os povos das Américas, da África e da Europa.

A pintura intitulada ‘Presente’, feita em óleo sobre tela, mostra a vereadora rodeada por outras mulheres durante um protesto. Ao lado dela, as frases “se conhecem, se apoiam e se organizam” traduzem a intenção de Camila. “Não é um contexto só dela. É um contexto de todas as mulheres. É a luta de todas as mulheres. Então eu coloquei ela junto dessas mulheres e em contexto de luta, onde elas estão organizadas e estão tomando o seu espaço. Queria mostrar lá dentro (do museu) que a gente se conhece, se organiza, se apoia e luta”, conta.

A artista Camila Soato tem 11 obras participando da Bienal. Foto: Arquivo Pessoal

Assim, ao longo dos três dias seguintes à manifestação que participou na capital gaúcha, Camila dedicou-se à criar a obra e tentar negociar com a organização da Bienal para que a homenagem pudesse integrar a mostra, ao lado de outras 10 pinturas suas que já estavam prontas e selecionadas para ficar em exposição no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli. No momento em que decidiu fazer a homenagem, a artista sabia que tentaria fazer o local ser o destino final da pintura: “É para ocuparmos todos os espaços institucionais e para que todo mundo que entre lá no museu lembre e tenha isso na memória”.

Outra preocupação da artista era de que a obra dialogasse com suas outras pinturas, que questionam de forma sarcástica o sistema branco colonizador e as opressões causadas por esse processo. Nelas, Camila faz uma releitura de obras de artistas do século XX, criticando a visão romantizada com que eles apresentam o colonialismo. Para ela, essas pinturas, somadas com aquela em homenagem à Marielle, que durante sua trajetória também foi vítima de um sistema racista, preconceituoso e opressor, são uma ferramenta de luta. “Temos que trabalhar com as ferramentas que a gente tem em prol de construir um lugar mais igualitário. Em todas as instâncias, acho que é muito importante lançarmos mão dessas ferramentas poéticas para não deixar isso cair no esquecimento. Nesse momento eu estava na Bienal e tinha acesso ao museu, que é um espaço não muito convidativo para classes baixas e população negra. O espaço do museu, em geral, ainda é austero, branco e elitista. Então, isso foi uma maneira de eu corromper o sistema por dentro dele”, explica Camila. Até 3 de junho, a obra manterá a lembrança de Marielle presente no MARGS.

Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

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