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30 de março de 2019
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19:08

Paulo Coelho narra torturas que sofreu durante a ditadura militar e questiona: ‘É isso que Jair Bolsonaro que celebrar?’

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Sul 21
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O escritor Paulo Coelho foi preso três vezes durante a ditadura militar. Em uma delas, sofreu sessões de tortura. Foto: Reproduição/Twitter

Redação

“O carro para. Sou retirado e espancado enquanto ando por aquilo que parece ser um corredor. Grito, mas sei que ninguém está ouvindo, porque eles também estão gritando. Terrorista, dizem. Merece morrer. Está lutando contra seu país. Vai morrer devagar, mas antes vai sofrer muito”. A narrativa em primeira pessoa foi escrita por Paulo Coelho, escritor e compositor brasileiro que foi torturado durante a ditadura militar no Brasil. O texto foi publicado no The Washington Post, na última sexta-feira (29) e ganhou grande repercussão nas redes sociais, chegando a levar o nome do autor para os assuntos mais comentados do momento no Twitter no país.

No texto, Paulo Coelho conta detalhadamente sobre sua prisão, ocorrida em 28 de maio de 1974, quando homens armados invadiram seu apartamento, e sobre as torturas que sofreu nas dependências do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) com métodos como espancamento e eletrochoques. “Começa o interrogatório com perguntas que não sei responder. Pedem para que delate gente de quem nunca ouvi falar. Dizem que não quero cooperar, jogam água no chão e colocam algo no meus pés, e posso ver por debaixo do capuz que é uma máquina com eletrodos que são fixados nos meus genitais”, relata no texto.

O escritor também menciona na publicação o impacto que sua prisão causou a sua família: “Anos depois, minha irmã me conta que minha mãe chorava o tempo todo, meu pai se trancou em um mutismo e não falava.”

Além de ser um relato pessoal sobre as torturas físicas e psicológicas que enfrentou durante o governo militar, o texto também questiona a decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de recomendar que os quartéis brasileiros comemorem o aniversário de 55 anos do golpe militar no país, que em dia 31 de março de 1964 destituiu do poder o ex-presidente João Goulart e deu inicio à ditadura militar que durou 21 anos. “São essas décadas de chumbo que o Presidente Jair Bolsonaro – depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo – quer festejar nesse dia 31 de março”, diz Paulo Coelho em um trecho do texto.

No dia em que foi divulgada a sugestão de Bolsonaro para que houvesse a celebração do golpe de 64, a hashtag #DitaduraNuncaMais foi utilizada nas redes sociais para lembrar crimes de tortura, censura e repressão cometidos pelo governo militar e repudiar a medida. Na ocasião, Paulo Coelho fez uma publicação em sua conta pessoal no Twitter onde contava ter sido preso três vezes durante a ditadura, sendo torturado em uma delas. “Motivo da prisão: ‘compositor'”, dizia o post.

No último dia 28, o escritor também publicou no Twitter a reprodução de uma ficha onde a Divisão de Censura de Diversões Públicas, do Departamento da Polícia Federal, vedava a liberação comercial da música ‘Óculos Escuros’, de autoria de Paulo Coelho e do cantor Raul Seixas, e a acusava como “veículo de mensagem subversiva”. Segundo o documento, a letra apresentava mensagem “negativa, que induz flagrantemente ao descontentamento e insatisfação no que tange ao regime vigente”. Na publicação, a imagem da ficha estava acompanhada da hashtag #CensuraNuncaMais.

 


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