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9 de julho de 2019
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17:36

A crônica do (quase) nada

Por
Sul 21
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A crônica do (quase) nada
A crônica do (quase) nada
Governador Eduardo Leite (PSDB) com deputados e secretários | Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini

Antonio Escosteguy Castro (*)

 A recente aprovação pela Assembleia Legislativa da venda da CEEE, Sulgás e CRM levantou duras críticas da sociedade e da imprensa independente , para além da privatização em si , sobre a ausência de projetos de Governo Estadual para aplicação dos valores que serão arrecadados e da inércia do Piratini em tomar medidas que impulsionem o crescimento de nossa economia. Se vamos vender patrimônio público, que pelo menos se empregue o dinheiro obtido em medidas que alavanquem o desenvolvimento do Estado e não se desperdice pagando contas atrasadas. Aliás, o Governador Eduardo Leite , em sua campanha eleitoral ,tinha prometido exatamente isto. Agora, parece ter mudado de idéia…

As críticas atingiram o alvo e nesta segunda-feira, 8 de julho, a Zero Hora , uma espécie de diário oficioso do Governo Eduardo Leite , estampa duas páginas nobres sobre um Plano de Parcerias com que o Governo Estadual buscaria “ driblar a crise financeira e a baixa capacidade de investimento do Estado”.

Esforço de propaganda à parte, a leitura atenta da matéria é decepcionante. São pouco mais de meia dúzia de projetos , de baixíssimo impacto no desenvolvimento do Estado , na criação de empregos e no alavancamento econômico. E os poucos que têm alguma possibilidade de influência real na economia são projetos de longa maturação , como as PPPs envolvendo hidrovias. Há quanto tempo se espera que as PPPs da CORSAN saiam do papel? Os próprios “especialistas” entrevistados para elogiar o Governo consideraram o Plano pouco ousado…

A falta de ousadia na verdade significa falta de norte , de visão de desenvolvimento do Estado. A concessão de rodovias, já se viu no Governo Brito, tem como única consequência enriquecer as concessionárias para manter as faixas de trânsito  pintadas e alguns veículos de socorro em troca de pedágios caríssimos. Aeroportos regionais têm baixo impacto nos negócios, nestes tempos da internet. E o resto são concessões de parques e do Tudo Fácil , que provavelmente reduzirão o emprego nestas unidades.

O Governo Eduardo Leite claramente não tem um diagnóstico da economia do Rio Grande e não sabe que medidas tomar para fazer seus setores mais dinâmicos  puxarem o desenvolvimento do Estado como um todo. Agravada a situação com uma depressão econômica causada pela receita ultra-liberal de Bolsonaro e Paulo Guedes, as autoridades gaúchas  optaram por uma ofensiva de propaganda onde o cunho ideológico ( enaltecer a parceria com o setor privado) em muito supera a utilidade real destas medidas em minorar ,pelo menos, a grave crise por que passamos.

O Governo do Estado, assim como o Governo Bolsonaro, vive na ilusão de que alguns determinados fatos teriam,por si sós, a capacidade de recuperar a confiança de empresários e consumidores e lançar o país em novo ciclo de  crescimento. Já foi o impeachment de Dilma, a  PEC do Teto de Gastos, a Reforma Trabalhista e agora é a Reforma da Previdência (recomenda-se a leitura da coluna de Flávio Fingelspan, Eles estão chegando, aqui no Sul21 sobre este tema).

A realidade , porém, tem se negado a dar razão a estas ilusões. Derrubou-se Dilma , aprovou-se a PEC, fez-se a Reforma Trabalhista e a economia só piorou. Com a Reforma da Previdência acontecerá a mesma coisa.

A retomada do crescimento da economia depende em muito da capacidade e da qualidade do investimento do Estado. E quanto a isto , o tímido Plano de Parcerias anunciado é pouco, muito pouco , mais que nada. Eduardo Leite , na melhor das hipóteses , vai nos legar uma época de crescimento zero. Pobre Rio Grande.

(*) Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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