Débora Fogliatto
Usuários de programas esportivos realizados em parques, praças e ginásios municipais temem o encerramento das atividades em razão de uma nova determinação da Prefeitura de Porto Alegre. No início da semana passada, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) convocou professores cedidos a outras secretarias para que retornem às salas de aula, o que inclui os docentes de educação física que atuam na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte (SMDSE) desenvolvendo atividades de esportes, ginástica, dança, yoga, alongamento, caminhadas, em diversos espaços de Porto Alegre.
A SMDSE possui 32 professores cedidos pela Secretaria de Educação que atuam nessa rede de praças e parques municipais. No final desta segunda-feira (24), a vereadora Sofia Cavedon (PT) protocolou ofício direcionado ao prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), assinado por 22 vereadores de diversos partidos, os quais se manifestam contrariamente à medida que retira os professores da SMDSE. “Isso desmonta oficinas, esportes, afetando milhares de pessoas, a maioria idosos, que nas praças e parques mantêm atividades físicas de saúde. Isso esvazia as praças, os ginásios, da presença de pessoas”, lamenta a vereadora.
Sofia relata que, em Encontro sobre o Envelhecimento realizado nesta sexta-feira (28), no Parque Ararigboia, o assunto do desmonte das atividades foi muito abordado. “Inclusive o professor organizador desse ato há 24 anos é um dos que está na lista para assumir na Smed. O Parque Ararigboia estava lotado de idosos de todos os lugares, com faixas, cartazes pedindo que o prefeito não tire esses esportes”, relata. Segundo ela, a medida atingirá as atividades do Ginásio Tesourinha, Cegeb, Ramiro souto, Darcy Azambuja, Lupi Martins, Ceprima, Alim Pedro, Tamandaré, Futebol. O programa De Bem Com a Vida, que há 20 anos atende idosos, deve ser um dos afetados.
Para Sofia, causa estranhamento o fato de que os professores de educação física não estariam entre os que mais faltam nas escolas. “Verificando a necessidade de professores, seriam outras áreas, não educação física que seriam necessárias. Há uma escola que necessita de 19 professores e nenhum é de educação física, então não tem o que justifique”, opinou.
O que também preocupa os usuários é o grande número de aposentadorias diante da falta de novos concursos. De acordo com Simone Keller Searau, frequentadora das atividades do Parque Alim Pedro, alguns educadores do local já vêm sinalizando em conversas informais que o programa pode ficar esvaziado. “Os professores vêm apontando que não têm concurso público para educadores físicos há muitos anos na Prefeitura e muitos estão por se aposentar. Já há bastante tempo vêm sinalizando que a comunidade poderia ficar sem professores”, relata.
Simone diz que sua mãe tem 83 anos e faz ginástica no parque e que o professor dela é um dos que disse que se aposentaria no próximo ano. “Meu professor de ginástica também está em vias de se aposentar. Agora a Secretaria de Educação pediu de volta professores de educação física cedidos, fiquei sabendo em aula que três professores do Alim Pedro foram já convocados para atender escolas novamente”, afirma.
Dentre os três profissionais, dois seriam professores de futebol para crianças. “Essa é a perda imediata da qual estou a par”, conta Simone. Moradora do bairro IAPI há 20 anos, ela frequenta as aulas de ginástica de reeducação postural, com duas turmas que reúnem mais de 50 pessoas no parque. “É uma atividade em que eu criei amigos, a gente se reúne constantemente em aniversários, debatemos política, temos grupos de WhatsApp. Comecei a conhecer a vizinhança ao frequentar a ginástica, fazer amizades”, relata.
Para ela, o principal prejuízo seria para os idosos. “Eu vejo como um direito, em qualquer faixa etária mas principalmente dos idosos. Eles não estão na escola, não têm mais tanto locais que agregam, de formar turma, acho muito importante para a terceira idade. O parque tem um campo de futebol, uma pista atlética, todo dia tem gente caminhando, acaba conhecendo a vizinhança”, aponta. O Alim Pedro conta com escolinhas esportivas de basquete, futebol, futsal e vôlei, orientação para caminhadas, danças, ginásticas, Grupos de Terceira Idade, recreação e eventos comunitários.
Os XVII Jogos Municipais da Terceira Idade de Porto Alegre, inclusive, terão início na próxima terça-feira (2) no Ginásio Tesourinha. Segundo Sofia, está planejado um ato na abertura do evento para protestar contra o desmonte. Os Jogos apresentam esportes Adaptados para Idosos e integram o programa De Bem com a Vida.
Prefeitura garante que atividades continuam
Em nota, a pasta responsável pelo esporte afirma, porém, que apenas 14 dos 89 professores da secretaria devem retornar para a Smed. “A SMDSE tem no seu quadro 57 professores de concurso de origem no esporte. Com a redução de apenas 16% do seu quadro, haverá reorganização das escalas de trabalho, otimizando o atendimento das atividades esportivas gratuitas oferecidas à comunidade de Porto Alegre nos sete centros esportivos, seis parques, uma praça e dois ginásios”, garante.
A Secretaria assegura que nenhum equipamento esportivo deixará de oferecer atividades à comunidade. “Em um esforço para atender à solicitação da Smed, a SMDSE trabalha para viabilizar o retorno dos professores cedidos, preservando as competências individuais específicas e a situação regular e funcional dos servidores”, diz a nota.
Também por nota, a Smed afirma que desde o ano passado, mais de 300 professores e 50 monitores aprovados em concursos públicos foram nomeados para suprir as necessidades da rede municipal de ensino, além de 61 monitores, igualmente aprovados em concursos, totalizando 393 novos profissionais que ingressaram na rede. No entanto, a pasta menciona que, da necessidade inicial de 4 mil horas semanais, “com novas aposentadorias, exonerações e reduções voluntárias de regimes, há ainda hoje uma falta residual de docentes em torno de 1,2 mil horas semanais”, o que justificaria o chamamento dos professores cedidos para outras secretarias.
Secretaria extinta
Sofia menciona que essa medida é apenas mais uma das tomadas pelo governo de Marchezan que prejudicam a comunidade no sentido do sucateamento dos esportes. Ano passado, a Prefeitura extinguiu a Secretaria Municipal de Esportes (SME), com aprovação da Câmara. Ela preside a Frente em Defesa do Esporte, criada na ocasião. “A gente, desde o ano, passado lutou contra a extinção da Secretaria e sabíamos que isso ia acontecer. O prefeito disse que ia manter mesmo orçamento para o esporte e ele está descumprindo as promessas que fez”, denuncia.
Ela já solicitou audiência com as promotorias responsáveis pelos Direitos Humanos e dos Idosos no Ministério Público, que deve ser realizada no dia 10 de outubro, para tratar do assunto.
