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28 de fevereiro de 2018
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16:24

“Não quero mais passar frio”: Ocupação Senhor do Bom Fim tem reintegração de posse marcada e moradores pedem alternativas

Por
Sul 21
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A faixa mostrava as mãos, nome e idade de crianças moradoras da Senhor do Bom Fim.
Famílias da Ocupação Senhor do Bom Fim protestam em frente à Prefeitura. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Diogo, 4 anos. Bernardo, 2 anos. Nícolas, 1 ano. Dois jovens seguravam uma faixa com os nomes e as mãos de mais de 100, das 386 crianças moradoras da Ocupação Senhor do Bom Fim, no bairro Sarandi na zona norte de Porto Alegre. No final de 2016, as 364 unidades construídas pelo programa Minha Casa, Minha Vida foram ocupadas pelos atuais moradores.

Inicialmente, a parceria entre a Prefeitura, que fez a doação do terreno, e a Caixa Econômica Federal, responsável pela construção deveria destinas os apartamentos para as famílias da Vila Nazaré – que devem ser removidas por conta das obras de ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho. No entanto, atrasos nas construções e crescentes problemas na política de auxílio-moradia da capital levaram mais de 300 famílias, que já não tinham onde morar, a ocupar o empreendimento.

Ainda em 2017, a Justiça acolheu o processo de reintegração de posse feito pela Caixa. No entanto, os atuais moradores têm participado de negociações para encontrar alternativas de moradia. Porém, nas últimas semanas, receberam a data limite para saírem dos apartamentos: 6 de março.

As famílias organizaram uma assembleia para decidir como iriam proceder. “Eu só não quero mais passar frio”, disse uma das moradoras. Assim, na manhã desta quarta-feira (28), decidiram ir até o Paço Municipal protestar e pressionar a prefeitura para que sejam ouvidos.

Os manifestantes não vestiam camisetas ou seguravam bandeiras ligadas aos movimentos sociais. Simplesmente, saíram de suas casas mães, pais, crianças, jovens e idosos para garantir sua permanência no local que já consideram casa. “Queremos moradia”, gritavam, elevando cartazes com dizeres como: “Que ‘pátria mãe’ é essa que expulsa seus filhos de casa?”.

Dezenas de pessoas se concentraram em frente à Prefeitura.
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Solange está grávida de sete meses. Ela é diarista, mas desde o início do terceiro trimestre não consegue trabalhar. Além disso, tem três filhos – fora a menina que está para vir. Sentada nas escadarias da prefeitura, os olhos se enchem de lágrimas quando ela fala que não tem opções de moradia, fora a Senhor do Bom Fim. “Procurei todas as instituições pública; conselho tutelar, CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social)… E o que me disseram é que não tem abrigo pra família, só para as crianças.” Ou seja, Solange seria separada de seus filhos por tempo que não pode determinar, abrindo possibilidade para que perdesse a guarda das crianças.

Ela não conseguiu comprar o material escolar nesse ano, com medo de precisar do dinheiro se a reintegração se confirmar. “São 364 famílias que já estão estabelecidas há um ano e três meses. A reintegração aconteceria no dia seis de março, mas até lá muitos não receberão seu salário. Como eles querem que a gente saia sem nos dar, pelo menos, tempo para conseguirmos alugar alguma coisa”, afirma Adriano Silva, um dos líderes da Ocupação. “Como um juiz, que ganha auxílio-moradia, pode julgar a nossa comunidade? Que país é esse?”, questiona Adriano.

“Olha o povo que te elegeu!”, gritava uma das manifestantes, ao lembrar que o prefeito Nelson Marchezan Jr. visitou a comunidade em que morava na época da campanha. Até o final da manhã, as lideranças não sabiam se conseguiriam se reunir com representantes da prefeitura.

Famílias tentaram conseguir reunião com representantes do município.
Foto: Joana Berwanger/Sul21

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