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5 de outubro de 2020
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11:30

Porto Alegre: Eleição com recorde de candidaturas expõe rachas em todos os espectros políticos

Por
Luís Gomes
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Presidente do CAU/RS diz haver avanço no debate urbanístico, embora obras de melhorias ainda costumem acontecer longe das áreas periféricas. Foto: Ivo Gonçalves/PMPA
Presidente do CAU/RS diz haver avanço no debate urbanístico, embora obras de melhorias ainda costumem acontecer longe das áreas periféricas. Foto: Ivo Gonçalves/PMPA

Os porto-alegrenses que forem às urnas no dia 15 de novembro terão 13 opções de candidaturas entre as quais escolher o futuro prefeito ou prefeita da cidade, o maior número de postulantes da história da Capital (o recorde anterior era de 12, em 1996).

O pleito colocará em disputa pelos votos do eleitorado diversas caras já conhecidas, uma vez que oito dos nomes já ocuparam a Prefeitura, concorreram ao cargo ou foram candidatos a vice-prefeito. São eles: o atual prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), o ex-prefeito José Fortunati (PTB), o atual vice-prefeito Gustavo Paim (PP), o ex-vice-prefeito Sebastião Melo (MDB), e os ex-candidatos Manuela D’Ávila (PCdoB), Valter Nagelstein (PSD), Júlio Flores (PSTU) e Juliana Brizola (PDT), esta última candidata a vice em 2016.

Entre as caras novas, três já passaram pela Câmara Municipal e agora ocupam cargos no Congresso, no governo do Estado e na Assembleia Legislativa — Fernanda Melchionna (PSOL), João Derly (Republianos) e Rodrigo Maroni (PROS). Concorrem pela primeira vez Luiz Delvair (PCO) e Montserrat Martins (PV), que foi candidato ao governo do Estado em 2010.

Uma das marcas das eleições anteriores na Capital era a formação de amplas coligações para a disputa do Paço Municipal, o que garantia vantagem em termos de espaço na propaganda eleitoral gratuita de rádio e televisão. Em 2012, o então prefeito José Fortunati liderou uma aliança de nove partidos até a vitória. Seu vice, Sebastião Melo, encabeçou uma aliança ainda maior em 2016, composta por 15 partidos, o que lhe garantiu quase 40% da propaganda eleitoral. Acabou derrotado por Marchezan, que liderava uma coligação de cinco partidos e tinha quase um quinto do tempo de rádio e TV.

A nova regra eleitoral que impede a formação de coligações proporcionais é um dos elementos que ajudou a pulverizar as candidaturas neste ano, uma vez que alianças já não contribuem de forma direta para a formação de bancadas na Câmara de Vereadores. A maior coligação, em termos numéricos, mais uma vez será a de Sebastião Melo, que é apoiado por seis partidos. Contudo, o maior tempo de TV será do atual prefeito, uma vez que os dois partidos que Marchezan conseguiu atrair para sua chapa — PSL e PL — possuem robusta representação no Congresso Nacional — parâmetro usado para definir a distribuição do espaço eleitoral gratuito.

Por outro lado, seis candidatos competem em 2020 com a chamada “chapa pura”, sem formar coligações. O PSOL também terá o prefeito e vice-prefeito da chapa encabeçada por Fernanda Melchionna, mas conta com apoios de PCB e UP (partidos sem representação no Congresso).

 

Marchezan e Paim, Fortunati e Melo: prefeitos e vices na disputa. Fotos: Anselmo Cunha/PMPA, Guilherme Santos/Sul21 e Joana Berwanger/Sul21

Um dos cenários que se projeta para o pleito é a disputa por uma das vagas no segundo turno entre nomes que estiveram no comando da cidade nos últimos 12 anos. Após o racha entre o prefeito Marchezan e o vice-prefeito Gustavo Paim, em 2019, a chapa vitoriosa de quatro anos atrás estará dividida em 2020, com ambos concorrendo à mesma cadeira.

Contudo, essa não é a única chapa pregressa que estará dividida nas urnas. Vitoriosos em 2012, José Fortunati e Sebastião Melo também irão travar uma disputa pelo voto de centro e centro-direita que o deputado estadual almejava representar neste ano. Após perder no segundo turno como representante da gestão anterior, Melo já se anunciava há anos como candidato mais uma vez. Contudo, ele disputará o posto de representante do governo passado com o ex-prefeito, que entrou na disputa em agosto.

Melo também enfrentará sua ex-colega de chapa de 2016. Candidata a vice, Juliana Brizola (PDT) se aliou ao PSB, que fez parte do governo Fortunati, e à Rede. Juliana também é a candidata do partido pelo qual Fortunati governou a cidade.

Já Fortunati, que administrou Porto Alegre em uma aliança de centro e centro-direita, concorre desta vez pelo PTB, que foi o principal partido de sustentação do prefeito Marchezan. Apesar disso, ele adota em sua campanha um discurso de “nem esquerda, nem direita”.

 

Maroni, João Derly e Nagelstein. Fotos: Joana Berwanger/Sul21, Reprodução Facebook/João Derly, Guilherme Santos/Sul21

A disputa entre ex-aliados tem ainda o vereador Valter Nagelstein (PSD), que foi secretário de Urbanismo no final da gestão Fortunati, e que chegou a fazer parte da base aliada de Marchezan em 2019, quando ainda estava no MDB. Este é o mesmo caso do Republicanos, partido que terá João Derly como candidato e que ocupou cargos nas gestões Fortunati e Marchezan e até agora era secretário do governo Leite (PSDB), e do deputado Rodrigo Maroni, que foi base do governo anterior e chegou a votar com o atual prefeito antes de trocar a Câmara pela Assembleia Legislativa, em 2019.

No campo de centro, centro-direita e direita, há ainda a candidatura do médico Montserrat Martins (PV). Os verdes não ocuparam nenhuma cadeira na Câmara na última legislatura e tiveram candidatura própria em 2016, mas apoiaram Marchezan no segundo turno.

 

Fernanda, Manuela, Juliana, Julio Flores e Luiz Delvair. Fotos: Guilherme Santos/PSOL, Giulia Cassol/Sul21, Reprodução Facebook/Juliana Brizola, Guilherme Santos/PSOL e Reprodução Facebook/PCO Porto Alegre

Durante as gestões Fogaça-Fortunati, a oposição à Prefeitura na Câmara Municipal consistia na tríade PT, PCdoB e PSOL. Durante o governo Marchezan, no entanto, os comunistas perderam suas cadeiras. Com as diversas crises políticas entre o governo e os vereadores, partidos como PDT e PSB, que iniciaram a gestão formando o chamado bloco dos independentes, passaram a exercer também o papel de oposição programática ao governo.

Neste pleito, é possível dizer que há três candidaturas que representam a oposição ao prefeito na Câmara. Manuela D’Ávila (PCdoB), apoiada pelo PT, Fernanda Melchionna (PSOL) e Juliana Brizola (PDT), apoiada pelo PSB e pela Rede — partido que tinha o líder do governo na Casa, vereador Mauro Pinheiro, que migrou para o PL em 2020.

Candidato a Prefeito de Porto Alegre pelo PV, Montserrat Martins. Foto: Divulgação Montserrat Martins/Facebook

O desafio da oposição para o pleito é retornar ao Paço Municipal depois de 16 anos sem governos autodeclarados de esquerda e após 12 anos sem sequer chegar ao segundo turno. Após as quatro gestões da Frente Popular, entre 1989 e 2004, a esquerda chegou ao segundo turno em 2008, foi derrotada ainda em primeiro turno em 2012 e ficou de fora da disputa quatro anos depois.

As três candidaturas femininas de oposição rememoram o cenário político de 2008, quando Manuela, Maria do Rosário (PT) e Luciana Genro (PSOL) concorreram contra José Fogaça. Na ocasião, Rosário foi ao segundo turno com 22% dos votos válidos, deixando Manuela em terceiro, com 15%, e Luciana em quarto, com 9%. A diferença em relação àquela disputa, contudo, é que a pulverização de candidaturas também deverá afetar o campo da centro-direita. Apesar de, em 2008, nomes conhecidos como Onyx Lorenzoni (DEM) e o atual prefeito Marchezan terem concorrido, Fogaça conseguiu concentrar os votos desse espectro.

A oposição programática ao governo Marchezan também conta com mais dois representantes, Julio Flores (PSTU) e Luiz Delvair (PCO), que concorrem por partidos de esquerda sem representação na Câmara.

  • Nelson Marchezan Júnior (PSDB), candidato a prefeito. Coligação Mais Porto Alegre, com apoios de PSL e PL. Vice: Gustavo Jardim (PSL).
  • Sebastião Melo (MDB), candidato a prefeito. Coligação Estamos Juntos Porto Alegre, com apoios do Solidariedade, do Cidadania, do Democracia Cristã, do PTC e do PRTB. Vice: Ricardo Gomes (DEM).
  • Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata à prefeita. Coligação Movimento Muda Porto Alegre, com apoio do PT. Vice: Miguel Rossetto (PT).
  • Juliana Brizola (PDT), candidata à prefeita. Coligação Porto, Alegre de Novo, com apoios do PSB e da Rede. Vice: Maria Luiza Loose (PSB).
  • José Fortunati (PTB), candidato a prefeito. Coligação Porto Alegre Somos Todos Nós, com apoios do Podemos, PSC e Patriota. Vice: André Cecchini (Patriota).
  • Fernanda Melchionna (PSOL), candidata à prefeita. Coligação Porto Alegre Pede Coragem, com apoios da UP e do PCB. Vice: Márcio Chagas (PSOL).
  • Gustavo Paim (Progressistas), candidato a prefeito. Coligação Porto Alegre Para Ti, com apoio do Avante. Vice Carmen Santos (Avante).
  • João Derly (Republicanos), candidato a prefeito. Vice: Fernando Soares (Republicanos).
  • Valter Nagelstein (PSD), candidato a prefeito. Vice: João Carlos da Luz Diogo (PSD).
  • Rodrigo Maroni (PROS), candidato a prefeito. Vice: Edelberto Mendonça (PROS).
  • Julio Flores (PSTU), candidato a prefeito. Vice: Vera Rosane de Oliveira (PSTU).
  • Montserrat Martins (PV), candidato a prefeito. Vice: Alda Miller (PV).
  • Luiz Delvair Martins Barros (PCO), candidato a prefeito. Vice: Delaine Kalikosky de Oliveira (PCO).

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