Sindicatos, associações e DCEs de universidades se posicionam após pichações com ameaças

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Débora Fogliatto

Nos últimos dias, diversas universidades brasileiras foram alvo de pichações e desenhos de caráter preconceituoso e, por vezes, com apologia ao nazismo e ao massacre de Columbine. Os casos mais recentes foram divulgados pelo jornal Estado de S. Paulo nesta quarta-feira (18) e dizem respeito à Universidade de São Paulo (USP), onde suásticas foram pichadas nas portas de apartamentos de moradias estudantis, além da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade Nacional de Brasília (UnB), onde foram encontrados escritos com ameaças nos banheiros.

Na UFU, foi escrito “Pretaiada vai voltar para a senzala”, enquanto no sanitário da UnB, foram encontrados os dizeres “Se Bolsonaro for eleito, é Columbine na UnB”. A frase pichada na UnB faz referência a um massacre realizado nos Estados Unidos em 1999, quando dois estudantes entraram armados em uma escola de ensino médio e mataram 12 alunos e um professor. O episódio é um dos mais conhecidos massacres em escolas, os quais se tornaram epidêmicos no país norte-americano desde então.

Frase com referência a massacre foi escrita na UnB | Foto: Reprodução/ Twitter

A Universidade brasiliense informou, por meio de nota, que o ocorrido foi informado à Polícia Federal. No início do mês, a UnB relatou que cinco livros sobre direitos humanos do acervo da Biblioteca Central tinham sido propositalmente danificados, tendo algumas páginas rasgadas e riscadas. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade lançou nota em que defende “nenhum voto no ódio” e critica o discurso de ódio que vem tomando conta “das ruas e das redes”.

Uma frase referindo-se a Columbine já havia sido pichada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no último dia 15. Os dizeres “vai ter massacre #Columbine” foram encontrados na biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) instituição, juntamente com desenhos de suásticas e as palavras “poder branco”.

Segundo nota divulgada pela universidade, imagens do circuito de câmera interno estão sendo analisadas para tentar identificar o autor das pichações e um boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil. “A Unicamp repudia toda manifestação ou ato que implique em violação dos direitos humanos e em discriminação de qualquer natureza e tomará todas as providências para apurar o fato”, afirma a instituição.

Também na quarta-feira, foram registradas pichações de suásticas nas portas de apartamentos de moradias estudantis da Cidade Universitária da USP. Os desenhos, segundo a Agência Brasil, foram feitos nas portas de quatro apartamentos do bloco A do Conjunto Residencial, onde vivem estudantes com rendimentos até três salários mínimos. A Reitoria da USP lançou nota em que se compromete a tomar “todas as atitudes cabíveis” para que essas atitudes não se repitam.

Casos de frases com ameaças e ofensas também foram registrados na Faculdade São Judas, em São Paulo, e na Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais. Nesta última, foi escrito “lugar de preto é na senzala” em um banheiro, na semana passada.

A Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior (ANDES-SN) tem se preocupado com o assunto. Em reunião realizada nesta quinta-feira (18) em Brasília, professores relataram o clima de insegurança, com pessoas armadas, casos de violências verbal e física, intimidações a docentes em salas de aula, pichações racistas, machistas e LGBTfóbicas. Segundo o site da entidade, as seções sindicais aprovaram a “construção de uma ampla unidade entre os trabalhadores para enfrentar o fascismo, defender a democracia, os direitos e a universidade pública”.

Universidades gaúchas se posicionam

Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), um professor foi ameaçado por e-mail há cerca de duas semanas. O remetente, que afirmava estar em contato direto com a campanha de Jair Bolsonaro (PSL), disse que o docente estaria fazendo “campanha comunista” na universidade. “O mesmo [Bolsonaro] está ciente do ativismo político-comunista que a UFPel está fazendo, assim como outras. Saiba que a teta vai secar e o governo não vai mais financiar pesquisas inúteis”, diz a mensagem.

Os professores da Universidade realizaram, na terça-feira (16), assembleia em que deliberaram por integrar a frente antifascista suprapartidária criada em Pelotas. Na mesma ocasião, os professores da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), cidade vizinha a Pelotas, aprovaram a construção de uma frente local para “defender a democracia, os direitos, a universidade pública e combater o fascismo”, segundo a Associação dos Docentes da UFPel.

A UFPel não foi a única no Estado a registrar casos de intolerância. De acordo com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), nos últimos dias ocorreram dois casos de racismo na instituição. “Estes fatos são inadmissíveis e demonstram a necessidade urgente de discutirmos mais sobre casos de racismo e toda e qualquer forma de discriminação, além da realização de intervenções, sem perder de vista os processos e possíveis punições ao agressor/a, para que não voltem a acontecer novos casos, e para que essa opressão não seja naturalizada dentro da UFSM”, diz o Diretório em nota.

Plenária de estudantes, docentes e técnico-administrativos em educação da UFSM | Foto: SEDUFSM

Nesta sexta (19), o DCE da UFSM, em parceria com a Associação de Pós-Graduandos (APG), promoveu a mesa de debate “Ascensão do fascismo, ultrapolítica e Estado Democrático de Direito”. A atividade faz parte de uma agenda que foi definida em Plenária Unificada ocorrida na última terça-feira na universidade, que reuniu estudantes, professores e técnico-administrativos.

A Reitoria da universidade também se manifestou, lançando nota em que defende a paz e a democracia. “O momento requer reflexão, serenidade, responsabilidade e tolerância para que nossas decisões e posicionamentos possam contribuir para um Brasil melhor onde a paz, a democracia, o respeito aos direitos humanos e a soberania constituam os fundamentos da nação voltada ao bem-estar e aos interesses do seu povo”, afirma a instituição.

Na Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), foi realizado um ato na última quarta-feira (17), organizado pelo coletivo Unisinos Antifa. Também nesta semana, a Associação dos Docentes da Unisinos divulgou uma carta aberta à comunidade, em que lamenta “a disseminação de atos de constrangimento, silenciamento, violência física e moral, ocorridos em todo o país por motivação política-eleitoral, processo que só agudizou um cenário social de intolerância que há muito assola nosso país”.

No documento, os professores defendem uma série de pautas, entre elas o respeito aos direitos e reivindicações das classes trabalhadoras; a defesa incondicional da democracia; a garantia dos direitos das mulheres, da população negra, dos povos indígenas, das pessoas LGBT e o compromisso da Universidade com estas demandas sociais e políticas; entre outros pontos.

Campanha lançada pela ADufrgs | Foto: Divulgação

Já o Conselho Universitário (Consun) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aprovou, na quinta-feira da semana passada (11), uma nota em defesa da “universidade pública, gratuita, autônoma, laica, pluralista, de qualidade, socialmente referenciada, de gestão democrática, centrada nos órgãos deliberativos e conectada às demandas da sociedade”. No documento, a instituição se posiciona contra o autoritarismo e a violência política na vida cotidiana.

O Sindicato Intermunicipal dos Professores de Instituições Federais de Ensino Superior do Rio Grande do Sul (ADufrgs) lançou, no dia 4 de outubro, a campanha “Diga NÃO à Intolerância, à Violência e ao Preconceito Diga SIM à Democracia e à Educação Pública e Libertadora”.

Comitê UFRGS Haddad 13 pela Democracia

Também na UFRGS, na quinta-feira (18) foi realizada uma Plenária da comunidade na sede da Associação dos Servidores da universidade (Assufrgs), em que foi aprovada a criação de um comitê para unificar as articulações de diversos coletivos ligados à instituição em prol da candidatura de Fernando Haddad (PT): a Seção Sindical do ANDES-SN,o Coletivo Professores pela Democracia, o DCE e a Associação de Pós-Graduandos, assim como a própria Assufrgs.

Segundo nota, o Comitê “unificará as agendas de mobilização das entidades, proporá materiais e acolherá denúncias de ameaças sofridas por membros da Comunidade da UFRGS em decorrência do avanço do fascismo – realidade já enfrentada por professores de outras universidades brasileiras, inclusive gaúchas”.

Para os integrantes da comunidade escolar, “a Universidade precisa ser palco de resistência ao projeto antinacionalista, antidesenvolvimentista e antipovo representado na candidatura de Bolsonaro. Seu projeto fomenta o ódio e o avanço do fascismo no Brasil. É dever de nossas instituições defender a educação pública e sobretudo a democracia”.


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