Em último debate, candidatos ao governo do RS concentram ataques em Sartori e Leite

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Sul 21
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Débora Fogliatto

Cinco candidatos ao governo do Rio Grande do Sul participaram, na noite desta quarta-feira (3), do debate promovido pela RBS TV, o último antes do primeiro turno eleitoral. Durante as duas horas de discussão, os candidatos que lideram as pesquisas de intenção até agora, Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) foram alvos um do outro e dos outros três candidatos, Jairo Jorge (PDT), Miguel Rossetto (PT) e Roberto Robaina (PSOL).

Os candidatos do PSDB e do MDB aparecem à frente nas pesquisas de intenção de votos, com Leite pontuando 30% e Sartori, 29% na última pesquisa Ibope, divulgada na semana passada. A emissora afirmou que não chamou Julio Flores (PSTU), Mateus Bandeira (NOVO) e Paulo Medeiros (PCO) porque seus partidos não possuem a representação legislativa mínima que torna obrigatório o convite para participar.

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Como é de praxe durante os debates, os espectadores acompanharam pelas redes sociais, utilizando no Twitter a hashtag #DebateRS para comentar as respostas dos candidatos. A hashtag chegou a alcançar a primeira posição nos trending topics de Porto Alegre e a terceira de todo o Brasil, o que significa que era um dos assuntos mais comentados na rede social. Dentre os comentários dos internautas, a maioria criticava Sartori, enquanto os mais elogiados foram Jairo e Leite.

Um dos momentos mais marcantes no Twitter foi quando o atual governador falou que a administração está reformando escolas e alguns estudantes usaram a rede social para criticá-lo. “Vocês não têm noção o quão ruim ‘tá’ a situação da minha escola desde que o Sartori assumiu”, afirmou um usuário. Uma estudante twittou um vídeo de uma escola com água entrando pelo teto e fez o comentário “‘tá’ aqui a escola de qualidade do Sartori”, enquanto outra disse que no local onde estuda os alunos organizaram eventos e os professores tiraram dinheiro dos próprios bolsos para realizar reformas.

Candidatos ao governo do estado do RS que participaram do debate: Robaina, Leite, Rossetto, Sartori e Jairo Jorge.

Críticas a Sartori

O debate já começou no formato de perguntas entre os candidatos, com Rossetto sendo o primeiro após definição por sorteio. Ele optou por questionar Sartori ironizando seu slogan de campanha: “O senhor diz que está certo, mas como pode estar certo 500 mil desempregados? Como hospitais fechados, professores sem salário em dia pode estar certo?”, indagou. O governador respondeu que procura “falar com a população mostrando a realidade financeira do Estado”. Utilizando uma frase que já disse diversas vezes – e que nesse debate voltou a dizer mais de uma vez -, afirmou que sua administração está “arrumando a casa”.

No bloco seguinte, os dois voltaram a se enfrentar quando Sartori perguntou a Rossetto sobre privatizações. O candidato petista disse ter um plano de desenvolvimento econômico, diferente do que atribuiu ao PMDB, PSDB e PP, que ao longo dos anos colocaram um “modelo fracassado” de venda de estatais. “O meu plano é crescimento econômico, diferente do seu plano, que é profunda recessão, desemprego, busca vender o patrimônio público”, afirmou. Sartori demonstrou sua vontade de privatizar mais órgãos ao colocar que do dinheiro da SulGás “não fica um centavo no Rio Grande” e defendeu que a CEEE também não “precisa do Estado para distribuir energia”.

Robaina também o questionou “em que o gringo está certo” ao perguntar sobre educação. O governador afirmou que a comunidade escolar “sabe do nosso esforço na manutenção das nossas escolas” e disse que nenhum estado brasileiro atingiu as metas do Ideb. “Não tenho dúvida de que o problema é nacional, mas o RS está em decadência e o Sartori fica fazendo propaganda de que está tudo bem. Professores estão em situação desesperadora e vocês têm o costume de responsabilizar os servidores pela crise”, criticou Robaina.

Governador foi criticado e cobrado por demais candidatos | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Já Jairo criticou a proposta de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal feita por Sartori, dizendo que ela “engessa” o Estado e lembrando que o ex-governador Antônio Britto, também do MDB (que se chamava PMDB na época) afirmou que havia acabado com a dívida ao assinar acordo semelhante, mas acabou gerando mais juros, fazendo com que ela aumentasse. “Estamos ouvindo aqui muitas promessas, muitas mágicas. É preciso ter esses recursos para investir mais em saúde, educação, segurança”, defendeu-se Sartori.  Jairo criticou as propostas de Sartori: “ele em 2015 disse que precisava aumentar imposto, aumentou e não resolveu, depois disse que tinha extinguir as fundações, extinguiu e não resolveu. Só ideias novas é o caminho”, afirmou.

Os dois embates diretos entre Sartori e Leite ocorreram no quarto bloco, quando o tucano questionou o governador sobre saúde, mencionando o fechamento de leitos e as dificuldades de manutenção das prefeituras. “Nós renegociamos com prefeituras municipais, hospitais filantrópicos, conseguimos criar condições. Tivemos menor índice de mortalidade infantil da história, mesmo com toda a crise”, respondeu Sartori. Leite, como de costume, lembrou de seu tempo na prefeitura de Pelotas e afirmou que na cidade sua administração focou “na prevenção e não apenas no tratamento”.

Eles voltaram a se enfrentar em seguida, quando o governador perguntou por que Leite não havia se manifestado a favor do plebiscito que decidiria sobre a privatização das estatais de energia. O ex-prefeito de Pelotas disse que o prazo de discussão seria muito apertado e que nunca houve um plebiscito junto com eleição, como era a proposta de Sartori. “Seria temerário ter tão pouco tempo para que se formasse a consciência e boa discussão que esse tema exige. Temos preocupação com os servidores e suas famílias”, assegurou. O governador voltou a afirmar que quer privatizar as empresas e disse que “a experiência na vida me ensinou a não ter medo de mudança e transformação”.

Ele foi então criticado por Robaina, que lembrou das parcerias com empresas privadas na área da segurança. “Os grupos empresariais que fornecerem viaturas vão escolher para onde vai a segurança. Os grupos empresariais não vão pensar nos pobres”, colocou. Leite ainda o questionou sobre cultura, ocasião em que o governador falou da Sala de Orquestras da OSPA, inaugurada em seu governo, e Leite disse entender a área como “fundamental”, ambos lembrando de projetos que levaram para as cidades de Caxias do Sul e Pelotas, das quais foram prefeitos.

Candidatos questionam Leite sobre exames em Pelotas

Sem a presença de Mateus Bandeira, seu principal crítico, Leite não foi alvo de tantos ataques quanto Sartori. O principal assunto sobre o qual foi questionado foram as possíveis fraudes em exames de colo de útero na cidade de Pelotas. Quem abordou o tema inicialmente foi Robaina, que disse ter notado que o candidato do PSDB se preocupa em “se afastar da responsabilidade dessas fraudes” de exames, que teriam sido feitos por amostragem. Leite disse que a Prefeitura da cidade havia acionado judicialmente o laboratório e conseguiu decisão judicial para que exames sejam refeitos para comprovar se houve exames malfeitos. A atual prefeita, Paula Mascarenhas, era sua vice e foi eleita como continuidade de seu mandato.

Candidatos questionaram falta de ação de Leite sobre exames feitos por amostragem | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Robaina destacou que a Prefeitura tinha a obrigação de fiscalizar o laboratório. O assunto voltou à tona quando Jairo Jorge citou quatro oportunidades nas quais Leite ou Paula, enquanto prefeitos, poderiam ter dado atenção às denúncias de fraudes, mas não o fizeram. “Nessa unidade, tinha reduzido a zero [os resultados positivos dos exame], e em anos anteriores era 2, 3. Temos 50 unidades em Pelotas, isso foi apenas nessa”, defendeu-se o tucano, dizendo que o laboratório em questão foi contratado em 2000, quando ele “tinha 15 anos”.

“O senhor teve quatro oportunidades. Até entendo que na primeira ou na segunda não teve chegado ao senhor, mas houve memorando feito para a secretária da Saúde. São 44 mil exames que estão sendo reavaliados, em 150 exames que já foram reavaliados, 11% apareceram com alteração”, destacou Jairo. Leite disse que quando surgiu a suspeita através de um memorando em 2017, ele não era mais prefeito, e que nada havia sido comprovado ainda nesse caso.

Outros destaques e propostas

Em geral, ao longo do debate, as propostas e críticas feitas pelos candidatos não se diferenciaram daquelas apresentadas em situações anteriores. Algumas das posições expressas pelos candidatos foram:

  • Rossetto, Jairo e Robaina se colocaram como contrários às privatizações, enquanto Sartori e Leite, na maior parte das vezes, as defenderam. “Além do desastre que é o governo de [Michel] Temer, o povo gaúcho é vítima de um segundo desastre que é o governo Sartori, que privatiza, parcela salários, aumenta impostos. Vamos fazer diferente, recuperar investimento”, prometeu o candidato do PT, que foi o único a abordar o cenário nacional, também citando Lula, Haddad e Manuela, além de mencionar as manifestações do movimento #EleNão, criticando o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL).
  • Para Leite, “nosso Estado precisa ser mais acolhedor a investimentos e investidores, temos que reduzir a carga tributária para que sejamos competitivos”. Nesse quesito, ele se assemelha a Jairo, que também defende que haja menos impostos e mais incentivos a empresários e investidores. “Para mim, é menos impostos e menos burocracia. Imposto alto gera beco sem saída”, disse em certo momento o pedetista, que acabou sendo o candidato que mais conseguiu apresentar propostas concretas ao longo do debate. Ele também mencionou que em Santa Catarina a gasolina é mais barata que no RS devido ao fato do ICMS ser mais baixo no estado vizinho.
  • Em outro momento, ao questionar Robaina, Leite perguntou qual era a fórmula do candidato do PSOL para as despesas do Estado, considerando que “nossas despesas são maior que as receitas e 80% está no funcionalismo”. Robaina respondeu que “a proposta é combate à sonegação, que representa R$ 8 bilhões. E não podemos mais dar isenções fiscais sem justificativa para empresários”.
  • Rossetto e Jairo também falaram bastante de educação, criticando medidas tomadas por Sartori nas rodadas em que perguntaram entre si. Na ocasião, ambos se comprometeram a acabar com o parcelamento de salários, o que Jairo disse que fará em seis meses. Os dois também falaram sobre violência contra a mulher, situação em que o petista afirmou que irá ter um governo com, no mínimo 50% de mulheres nas secretarias. Jairo focou-se na segurança das mulheres diante do aumento da violência prometendo trazer tecnologia, investir na integração policial, na educação, e em um novo sistema prisional.

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