Nove anos após criação de cotas, n° de candidatas mulheres ainda não supera mínimo exigido por lei

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Congresso masculino: atualmente, menos de 10% dos legisladores são mulheres na Câmara de Deputados | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Débora Fogliatto

Em 2009, entrou em vigor a lei que determina que cada partido deve registrar no mínimo de 30% de candidaturas femininas nas eleições municipais, estaduais e federais nas chapas proporcionais. Além disso, segundo a legislação, pelo menos 5% dos recursos do Fundo Partidário de cada sigla devem ser usados para incentivar a participação feminina na política, e pelo menos 10% do tempo de propaganda partidária deve ser dedicada às mulheres. Mas em 2018, na terceira eleição federal e estadual desde a criação da lei, a participação feminina permanece no patamar do mínimo exigido pela lei.

Este é a primeira eleição, porém, em que será usado o recurso do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), criado pela minirreforma eleitoral de 2017, para as candidaturas, do qual 30%, por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ser destinado a candidaturas femininas. Este ano, o fundo distribuirá às siglas R$ 1,7 bilhão.

A destinação desse recurso pode fazer diferença para as mulheres candidatas, especialmente nas eleições majoritárias, visto que, mesmo com o estabelecimento de um mínimo de candidatas, ainda há uma discrepância muito grande na quantidade de homens e mulheres que efetivamente se elegem. Em 2014, dos 55 deputados eleitos para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, somente sete foram mulheres, duas a menos do que na legislatura anterior. Já para a Câmara Federal, foram eleitas 51 parlamentares, dentre 513 deputados, e cinco senadoras, das 27 cadeiras.

A resolução do TSE, no entanto, não definiu regras para a distribuição do valor entre as candidatas. Isto significa que, na prática, um partido pode concentrar os recursos em poucas candidaturas, deixando a maioria sem financiamento, visto que caberá aos partidos estabelecer os critérios de distribuição do montante entre seus candidatos, levando em consideração a cota reservada às mulheres. Está ainda em discussão se este fundo poderá ser usado para as candidaturas majoritárias (ou seja, de cargos para o Executivo) ou apenas nas proporcionais (cargos para o Legislativo).

Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no total de candidatos aos cargos de presidente(a), governador(a), senador(a) e deputados(as) federais e estaduais, 30,8% são mulheres e 69,2% são homens. Dentre os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, oito — incluindo o Rio Grande do Sul — não têm nenhuma candidatura de mulher para o governo. De todos os 199 candidatos ao cargo no Brasil, apenas 29 são do sexo feminino; enquanto para o Senado, são 60 de 348 candidatos.

Marina é candidata pela REDE e a única mulher que participa dos debates dos presidenciáveis | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Dentre mulheres candidatas, a maioria são brancas: 51,68%, enquanto 33,5% são pardas e 13,48%, negras. A maior parte tem entre 45 e 49 anos e nível superior completo. A quantidade de casadas e solteiras é praticamente igual: 40%.

Em termos nacionais, dos 13 candidatos à presidência, as únicas mulheres são Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU). É a primeira vez que temos duas mulheres negras disputando o cargo, mas, devido à falta de representatividade parlamentar mínima, Vera não tem sido convidada a participar dos debates exibidos pelas redes de televisão. Dentre os vices, o número dobra: Ana Amélia Lemos (PP), vice de Geraldo Alckmin (PSDB), Kátia Abreu (PDT), vice de Ciro Gomes (PDT), Professora Suelene Balduíno (PATRI), vice de Cabo Daciolo (PATRI) e Sônia Guajajara (PSOL), vice de Guilherme Boulos (PSOL). Esta última é a primeira mulher indígena a disputar eleições nacionais em uma chapa majoritária.

O fato de haver um número recorde de vices mulheres, tanto no âmbito federal quanto nos estados — são 74 candidatas a vice-governadora — gerou uma discussão acerca da possibilidade de se utilizar os 30% do FEFC nas candidaturas majoritárias. Há quem especule sobre as reais intenções dos partidos políticos em ter tantas vices mulheres exatamente neste ano, além de ser notável que a grande maioria dos que encabeçam as chapas continuam sendo homens.

Em entrevista à Agência Brasil, o cientista político Valdir Pucci menciona que o aumento no número de mulheres candidatas a vice pode significar uma maior conscientização sobre o papel do eleitorado feminino, que é a maioria da população votante. “Os partidos já perceberam que o eleitorado feminino tem uma força muito grande e que a mulher começa a se identificar com o seu gênero na hora de votar, por isso no caso dos presidenciáveis, grandes partidos têm mulheres na vaga de vice na chapa”, ressaltou.

Operária e sindicalista Vera Lúcia é candidata pelo PSTU | Foto: PSTU/Facebook

Nos estados, são um total de 29 mulheres buscando chegar aos governos, a maior parte das quais são de partidos de esquerda ou centro-esquerda, alguns deles de pouca expressividade parlamentar. Pernambuco e Piauí são os únicos que contam com três candidaturas femininas (de um total de sete e dez candidatos, respectivamente). Elas são dos mesmos partidos: do PSOL, Dani Portela (PE) e Professora Sueli (PI); do PSTU, Simone Fontana (PE) e Luciane Santos (PI); e do PCO, Ana Patrícia Neves (PE) e Maria de Lourdes (PI). Dentre os candidatos a vice, há 73 mulheres.

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, a situação é complicada em termos de representatividade feminina. Não há nenhuma candidata ao governo do Estado, embora três chapas tenham mulheres como vices, também de partidos de esquerda: Ana Affonso (PT), vice de Miguel Rossetto (PT), da chapa Por um Rio Grande Justo; Ana Clélia Teixeira (PSTU), vice de Júlio Flores (PSTU); e Profª Camila Goulart (PSOL), vice de Roberto Robaina (PSOL), da coligação Independência e Luta para Mudar o Rio Grande.

Dentre as 15 candidaturas gaúchas para o Senado, cinco são de mulheres. A Frente O Rio Grande tem Solução é a única que tem duas candidatas do sexo feminino: Dra. Sandra Weber (SD) e Ana Varela (PODE). Também são candidatas Abgail Pereira, do PCdoB (Por um Rio Grande Justo), Carmen Flores, do PSL (Brasil Acima de Tudo) e Marli Schaule, do PSTU (sem coligação).

Concorrendo a uma vaga na Câmara dos Deputados, são 132 mulheres no Estado, que representam 31% do universo de 417 postulantes ao cargo. O partido com maior número absoluto é o PSOL, com 13 candidatas (de 40 em sua nominata), seguido de PSB e PPS, cada um com 10 mulheres dentre os 30 candidatos. Mesmo assim, as três siglas ainda ficam apenas em torno dos 30% determinados por lei.

Nesse sentido, partidos com menos candidatos acabam se destacando quando se avalia a proporção. Os únicos que atingem 50% são o PMB — compreensivelmente, visto que se chama “Partido da Mulher Brasileira” –, com seis dos 12 candidatos, e o Solidariedade, que tem apenas dois candidatos, dos quais um é uma mulher. Avante e PSTU tem 2 de 5 (40%) cada, enquanto no PTC, PRP e PSDB, 3 dos 7 candidatos (42,8%) são do sexo feminino.

Por outro lado, nem todos os partidos atingem 30% na nominata específica de concorrentes ao cargo de deputado federal, como o PSC, com duas mulheres entre os 9 candidatos (22%); o PP, com cinco mulheres de 19 candidatos (26,3%); e o PHS, que tem o menor número, com apenas uma mulher entre os cinco concorrentes (20%).

Dos mais de 28 mil candidatos a todos os cargos políticos em 2018, apenas cerca de 8 mil são mulheres | Fonte: TSE

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