Miguel Rossetto: ‘Nós sempre fomos governos de reconstrução do Rio Grande’

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Luís Gomes
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O candidato do PT ao governo do Estado, Miguel Rossetto, participa da série de entrevistas ao Sul21 | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Ao aproximar-se dos 60 anos, Miguel Rossetto está renovando os seus hábitos. Ao menos três vezes por semana, acorda cedo e tenta correr. Em geral, considera uma boa corrida aquela em que percorre 5 km beirando os 30 minutos. Mas diz que está preparando o condicionamento para ir mais longe. Ex-vice-governador, ex-ministro e tendo ocupado cargos importantes durante os 13 anos de governos petistas na Presidência, ele tem agora o seu maior desafio político pela frente, eleger-se para um cargo majoritário e levar o PT de volta ao Palácio Piratini.

Nascido Miguel Soldatelli Rossetto em 4 de maio de 1960, em São Leopoldo, teve uma trajetória de estudos em algumas das mais tradicionais escolas da região do Vale dos Sinos. O então ginásio foi feito na Pedrinho, a tradicional escola Pedro Schneider, de sua cidade natal. Depois transferiu-se para a ainda hoje muito concorrida Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo, onde cursou o técnico em Mecânica Industrial.

A vida profissional e política de Rossetto se assemelha à de muitas das lideranças do Partido dos Trabalhadores no Estado e no Rio Grande do Sul. Metalúrgico de formação, trabalhou no Polo Petroquímico de Triunfo. Ali ingressou na atividade sindical, antes de ingressar nos quadros das direções estadual e nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Logo em sua primeira eleição, em 1994, foi eleito deputado federal, com 25.455 votos.

Na segunda, compôs a chapa ao governo do Estado ao lado de Olívio Dutra, sendo eleito vice-governador para o período entre 1999 e 2002. “Foi um grande aprendizado de saber governar na crise”.

Com a chegada de Lula ao poder, em 2003, Rossetto começaria uma trajetória que se confundiria à dos governos petistas pelos 13 anos seguintes. Começou como ministro do Desenvolvimento Agrário, pasta em que ajudou a desenvolver programas como o Mais Alimentos. Foi derrotado por Pedro Simon (PMDB) em sua tentativa de chegar ao Senado em 2006, retornando ao governo federal no ano seguinte para trabalhar no desenvolvimento de uma política de combustíveis renováveis na Petrobras.

Depois de 13 anos no governo federal, Rossetto volta a disputar eleições no RS | Foto: Joana Berwanger/Sul21

“A experiência que tivemos foi de tirar o RS da crise de 1998, que era gravíssima. E é a mesma experiência que eu vou ter em 2003, porque, quando o Lula assume, o Brasil passa por uma crise enorme. Nós reorganizamos o País. Esta experiência de governar a partir de uma crise, com planejamento, montar uma equipe a partir dos interesses claros do povo e de quem mais precisa, é que vai me ajudar agora”, diz o ex-ministro.

Com a Dilma Rousseff, retornaria ao MDA. Depois ainda passaria pela secretaria-geral da Presidência da República e pelo ministério do Trabalho e da Previdência. Permaneceria fiel à presidenta, como um de seus principais porta-vozes, até os dias finais de seu governo. “Foram experiências extraordinárias de governar sempre dialogando. Quando a gente dialoga, aprende a escutar e acerta mais”, diz.

Com o impeachment, ele retornou a Porto Alegre. Em 2017, ingressou no Mestrado de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Depois de iniciar os estudos universitários ainda no final dos anos 1970, só completou sua graduação em Ciências Sociais, pela Unisinos, em 2009. Para Rossetto, voltar à universidade depois de tanto tempo foi uma experiência nova para quem já tinha uma extensa vida pública. “Isso me permitiu ter um grau de reflexão sobre a política que não é possível ter dentro do governo”, diz.

Rossetto é reservado quando fala de sua vida pessoal. Tem três filhos, mas prefere não falar muito deles para não atrair a atenção nesses tempos de ódio incessante nas redes sociais. Vive atualmente sozinho em um apartamento de frente para a Redenção. “É um privilégio para um gaúcho morar num bairro chamado Farroupilha”, diz. Se aproveita a localização privilegiada para correr, lamenta que não tenha mais espaço para tocar o seu saxofone. Quando muito, o faz dentro do armário, com proteção no instrumento para não incomodar muito a vizinhança. “Mas não é a mesma coisa”.

Mesmo com toda a descrença pela qual o Partido dos Trabalhadores passa, especialmente no Rio Grande do Sul, vindo de uma eleição, em 2016, na qual a legenda conquistou apenas duas prefeituras entre as dez maiores cidades do Estado — São Leopoldo e Rio Grande –, Rossetto confia que estará no segundo turno e diz ter energia de sobra para confirmar essa expectativa na campanha. Se eleito, promete, como primeira medida, colocar o pagamento dos servidores públicos em dia. Como segunda, a retomada da participação popular, pois acredita que mais democracia é a única solução para a crise de representação que vive a política.

“Toda a alternativa a essa crise passa por uma radicalização da democracia, um maior controle popular sobre a representação política. A falência do sistema político é a ruptura com a soberania popular, o golpe é a maior expressão disso. Rompeu com o poder e a soberania popular”.

Sul21 – Como o senhor pretende lidar com o pagamento do salário dos servidores estaduais?

Miguel Rossetto: Governar em situações difíceis exige escolhas, estabelecer prioridades e compromissos claros. A minha escolha é clara, a primeira medida será regularizar, pagar salários em dia, recuperar a autoridade do governo do Estado e sinalizar a mudança. Valorizar quem trabalha, recuperar valorização de professores, professoras, policiais, trabalhadores da estrutura do Estado, e a partir daqui recuperar a escola pública, a segurança pública, reorganizar os nossos serviços públicos com qualidade.

Sul21 – Como o senhor irá lidar com o pagamento da dívida com a União e como fará para que essa questão seja equacionada a longo prazo, não apenas em seu mandato?

Rossetto: O atual governo não paga esta dívida desde julho de 2016. O Tarso e a Dilma fizeram um movimento importante quando renegociaram e reduziram a taxa de juros de 6% para 4% e modificaram o indexador do IGP-DI para o IPCA. Isto reduziu em R$ 22 bilhões o valor dessa dívida futura. Isso foi importante, mas não o suficiente. Precisamos avançar na negociação com o próximo presidente da República. O RS já pagou 20 anos essa dívida e é impensável pagar por mais 30 anos. Nenhum país que perdeu guerra pagou 50 anos uma dívida nessas condições, portanto essa será uma agenda prioritária com o próximo presidente da República. O Rio Grande do Sul não pode pagar uma dívida em recessão. Nós temos queda da arrecadação produzida pelo governo federal, portanto, nós vamos buscar uma renegociação justa com o novo presidente da República sobre esse tema. O que é fundamental? Esta dívida só poderá ser paga com recuperação da atividade econômica do RS, capacidade de aumento da nossa arrecadação e na medida em que o Estado possa cumprir com suas obrigações junto ao seu povo, recuperar a nossa escola pública, a nossa segurança e saúde públicas. Será uma negociação em novas bases. Ao mesmo tempo, nós vamos exigir as perdas provocadas pela Lei Kandir. Aqui, o Estado é credor de R$ 4 bilhões (anuais) do governo federal, portanto a negociação que envolve esta dívida será feita justamente com os créditos que o RS tem junto ao governo federal, que deve ao povo gaúcho.

Rossetto diz que sua prioridade número um será o pagamento em dia do funcionalismo público | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21 – O RS tem apresentado resultados negativos nos índices de avaliação escolar e mantém congelados os salários dos professores. Como o senhor pretende melhorar a qualidade da educação no Rio Grande do Sul?

Rossetto: A nossa rede estadual responde rapidamente, em termos de qualidade de educação, quando os professores são valorizados e quando a escola recebe investimentos. Nós vimos isso no nosso último governo do Tarso [Genro-PT]. Como ela responde negativamente quando é desvalorizada. Hoje, nós vemos uma destruição da rede da escola pública, professores desmotivados, desvalorizados, as escolas abandonadas, é isto o que eu tenho recolhido em todas as visitas, e são muitas, às escolas públicas. Falo com professoras, professores, visito salas de aula e as nossas escolas. É uma percepção real, um sentimento de abandono da escola, destruição da rede, dessa ideia da comunidade escolar participando ativamente da educação. Nós temos que revalorizar a nossa rede de ensino individual. Nós temos que reconectar a escola à rede dentro de um grande programa pedagógico, que estimule professoras, professores, a comunidade escolar e os alunos. A escola deve ser o espaço de paz, de aprendizado, um espaço alegre, com energia, bonito, de participação dos alunos e de envolvimento da comunidade. Nós temos que pensar em medidas de curto prazo, dentro delas eu anuncio delas: primeiro, o pagamento em dia dos salários de professores, recuperar uma relação de respeito básico com esses profissionais; segundo, investimentos emergenciais em escolas que estão sem energia elétrica, sem telhado, sem água, sem banheiro, precisamos recuperar a nossa escola a curto prazo; e a terceira medida é proteger as escolas do crime. Hoje, eu visito escolas em que as alunas e os alunos me dizem que não vão à aula porque têm medo de ficar na parada de ônibus. Nós precisamos garantir e já estou trabalhando para ter um termo um patrulhamento, uma proteção da Brigada Militar nas escolas. Eu não posso aceitar que uma aluna ou um aluno deixe de frequentar a escola por que tem medo de ficar numa parada de ônibus a 50 metros da escola. Nós temos que garantir a proteção dos alunos nas escolas.

Em paralelo a isso, nós temos que garantir um processo permanente de valorização da escola pública. A escola como um centro dinâmico da comunidade e da cidade, de educação e de aprendizado. Nós estamos planejando um processo de 10 anos de investimentos continuados, portanto um projeto para além de governo, um projeto da sociedade e do Estado gaúcho, organizando fundos próprios de financiamentos dos investimentos e uma agenda de recuperação salarial dos professores. Nós temos que reconhecer e perguntar como é que nos chegamos a uma situação no Estado do RS em que o menor salário dos trabalhadores seja daqueles que educam o povo gaúcho. Nós temos que reverter essa situação, e faremos no médio prazo. Portanto, medidas de curto prazo para reagirmos e retiramos a escola desse abandono. E, ao mesmo tempo, um planejamento consistente de médio prazo para a transformação da nossa escola em uma escola de excelência, de educação integral, que atraia os nossos alunos. Eu estou falando, especialmente, do ensino de nível médio, responsabilidade direta do Estado. Nós temos uma rede grande, são mais de 2,3 mil escolas, são quase 1 milhão de jovens que estão nessa rede e têm que ter um tratamento muito respeitoso e qualificado.

Sul21 –  Na saúde, como o senhor irá lidar com um cenário de congelamento de gastos, que impede os investimentos em saúde pelo governo federal pelas as próximas duas décadas?

Rossetto: A Emenda Constitucional 95 é insustentável. Congelar gastos em saúde e educação, por 20 anos, é insustentável e de uma irresponsabilidade monstruosa. Não existe federação e não existe projeto de nação com a manutenção desta norma. Ela é destruidora e, na minha opinião, insustentável politicamente, tamanha a crise a que ela submete estados e municípios. Não tem como financiar o Sistema Único de Saúde só através dos orçamentos municipais e estaduais. Sem crescimento econômico do País e do RS e sem que a União volte a funcionar, investindo e assumindo as suas responsabilidades, nós teremos uma destruição das redes de seguridade social, de educação, de saúde e assistência social no RS, o que é inaceitável. Como governador eleito, eu vou participar ativamente de uma agenda política de revogação da Emenda 95, por meio de uma articulação com prefeitos e prefeitas do RS, criando um bloco político sólido, com movimentos populares e com a sociedade, para trabalharmos com muita determinação na revogação.

O governo tem responsabilidades, que eu vou assumir integralmente, como o repasse de 12% do orçamento do estado para o SUS. Hoje, o governo Sartori deve R$ 500 milhões. O governo Sartori não só deve aos servidores, deve aos municípios R$ 500 milhões. É um governo irresponsável do ponto de vista fiscal. Isso tem provocado uma enorme fragilização e destruição de uma rede de atenção à saúde do Estado do RS. Hoje, são as prefeituras que sustentam com os seus orçamentos os investimentos na saúde pública do RS. As prefeituras, que têm obrigação legal de investir 15%, hoje, em média, investem 21%, 22% dos seus orçamentos. Isso está chegando no limite. Eu falei que o meu primeiro ato será assegurar o pagamento em dia dos servidores. O segundo movimento será chamar prefeitos, gestores do SUS, conselheiros, profissionais, essa grande rede do SUS, e acertar um planejamento financeiro de repasse de recursos e ao mesmo tempo critérios públicos para a qualificação da regionalização. Quer dizer, uma saúde regionalizada e com qualidade nos nossos hospitais, clínicas e exames. E o fortalecimento da atenção básica em saúde. Nós vamos recuperar o ambiente de cooperação do governo do Estado com prefeituras, gestores da saúde, e interromper essa relação de descompromisso e irresponsabilidade do atual governo.

Sul21 – Em termos de segurança, é possível apresentar melhores resultados sem recuperar os quadros das forças de segurança, que estão com seus menores contingentes na história?

Rossetto: A situação da segurança é dramática no RS. Nossa população vive com medo e ele é justificado pela destruição do sistema de segurança pública pelo Sartori. Hoje, nós temos 80% de aumento em roubos e assaltos no RS. Em Porto Alegre, na região metropolitana, é 100%. Os homicídios cresceram 35%, 45%. Porto Alegre tem um número de assassinatos por habitantes maior que o Rio de Janeiro. É o segundo estado em chacinas no Brasil. Esta violência, esta criminalidade tem nome, é de responsabilidade do atual governo. Segurança pública se faz com segurança social, com trabalho, com emprego, com uma boa escola pública. Agora, não se faz mais segurança pública com menos policiais. Nós temos que recuperar o efetivo da Brigada Militar e da Polícia Civil, que tem o menor efetivo em toda a sua história. É óbvio que há muito o que se fazer na melhoria da gestão e faremos isso, mas, em paralelo, nós vamos ter um plano de recuperação de efetivos. Eu quero uma BM no policiamento comunitário, nas vilas, nos bairros, protegendo preventivamente as nossas comunidades. Eu quero uma Polícia Civil melhorando cada vez mais a sua capacidade de investigação. Serviços de inteligência articulados, quer dizer, uma polícia preventiva e não uma polícia reativa, correndo atrás do crime, correndo atrás da violência. Nós temos que nos antecipar ao crime. No meu governo, não serão as facções que irão controlar os presídios. Nós vamos fortalecer a Susepe, nós vamos fazer uma grande discussão sobre o sistema prisional, inclusive dialogando com o poder judiciário. Os presídios hoje, infelizmente, não são espaços de contenção de criminosos e ressocialização. Muitos deles são espaços de organização do crime. Nós temos que discutir uma política prisional. Hoje, 50% dos apenados do RS não têm sentença definitiva, nós temos que discutir isso. Nós temos que pensar, paralelo ao fortalecimento da Susepe, novas experiências, como Apacs, e outras experiências positivas em relação, especialmente, aos apenados com crime de baixa violência, que podem ter penas alternativas e programas alternativos de punição e ressocialização. Portanto, é um grande debate a ser feito. O fato é que nós estamos pensando um plano de segurança pública para o RS que terá medidas de forte impacto de curto prazo para a população gaúcha. Nós temos que recuperar uma condição de vida, tranquila, em paz, nos bairros, vilas e cidades do RS.

Candidato do PT defende  a utilização dos bancos públicos para estimular o desenvolvimento da economia estadual | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21 – A crise econômica também é um problema de falta de crescimento. Qual a sua estratégia para desenvolver a economia do Rio Grande do Sul?

Rossetto: Nós temos que disputar um projeto nacional, o Brasil precisa voltar a crescer. A economia gaúcha é integrada à economia nacional. Então, por isso que é tão importante nessas eleições a disputa de um projeto nacional. Nós apoiamos o Lula, nós queremos mudar, derrotar a agenda golpista, que é uma agenda recessiva e destruidora de emprego e de trabalho, da indústria e da economia brasileira. O País vive hoje, com reflexo no RS, uma regressão da sua indústria, da sua capacidade tecnológica, simbolizada no desemprego industrial enorme e na destruição da Embraer. Um polo tecnológico nacional que está sendo transferido para a Boeing americana, o que é um crime contra esta nação.

Ao mesmo tempo, um governador tem espaços importantes para liderar uma agenda econômica de crescimento. Nós vamos usar todos os instrumentos que nós temos para estimular a economia. Banrisul, BRDE e Badesul, por isso é muito importante que eles permaneçam como bancos públicos e estatais. Serão instrumentos importantíssimos na alavancagem de investimentos, na agricultura, nas cooperativas, na indústria, no serviço. Terão um papel fundamental de retomar os investimentos hoje paralisados. No último governo nosso, o Banrisul alavancou investimentos diretos de quase R$ 17 bilhões para a economia gaúcha, o que foi muito importante. Hoje, a carteira de investimentos do RS é exatamente a mesma do que em 2014. Portanto, esses bancos terão papel muito importante na retomada do investimento no Estado do RS, juntamente com as nossas cooperativas de crédito, que são instrumentos importantes. Banco do Brasil, Caixa Federal e BNDES também deverão ser estimulados a aportar recursos no RS. Nós vamos retomar investimentos importantes na infraestrutura.

Nós vamos junto ao governo federal, que tem responsabilidade, concluir obras importantes. Precisamos concluir a duplicação da BR-116. Temos que avançar na duplicação da BR-290 e da BR-289, que são rodovias muito importantes para o Estado e são investimentos necessários. Nós vamos liderar uma retomada do polo naval de Rio Grande, que não é uma agenda do passado. São três estaleiros modernos, competitivos. É inaceitável o silêncio do governo estadual frente à destruição desse patrimônio industrial do RS. Nada é mais importante para a indústria gaúcha do que a recuperação do polo naval de Rio Grande. Agendas que nós queremos retomar com força do polo carboquímico, tanto em Candiota, como aqui em Charqueadas. É uma possibilidade importante de recuperação do nosso carvão para a produção de energia a um custo barato e de fertilizantes. Hoje, as tecnologias nos permitem uma avaliação ambiental mais positiva. Quer dizer, resolvida a questão ambiental, nós vamos nos dedicar muito aos polos carboquímicos na região sul e aqui no nosso polo carbonífero do RS. Iniciativas para preservar a produção de leite, retomar a produção agropecuária e a agroindústria do RS também são iniciativas importantes. Portanto, esta é uma agenda de recuperação econômica do RS. A economia gaúcha é exportadora e, portanto, nós precisamos de uma infraestrutura logística competitiva para escoar a nossa produção que é exportada para o exterior ou para outros estados do Brasil. Por aí nós vamos retomar o crescimento do RS.

Sul21 – A agricultura é uma das principais atividades econômicas do Rio Grande. Qual será a sua política para o pequeno agricultor, e para o agronegócio?

Rossetto: O RS é um grande produtor agropecuário e quero trabalhar para que continue sendo, respeitando todos aqueles que produzem e que trabalham. Nós vamos trabalhar muito para que o RS tenha uma marca como um Estado produtor de alimentos saudáveis, o que é muito importante. Nós temos experiências muito positivas. Vamos estimular a agregação de valor, pensar as cadeias de valor para toda a produção primária, sejam as nossas carnes, cereais ou frutas. Temos muita possibilidade de expandir a nossa agroindústria e a industrialização dos nosso produtos primários, o que agrega valor e dá potência à nossa produção. Eu realizei uma grande caravana da agricultura familiar. Fizemos sete dias, 19 municípios, 58 reuniões, mais de 2 mil km, e pude perceber que, se por um lado tu assiste à destruição das políticas públicas que nós construímos quando eu fui ministro do MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário], aqui no governo do Estado o PAA, plano de safra estadual, estrutura da governança para produção do leite, ao mesmo tempo nós vemos muito entusiasmo, muita energia dos nossos agricultores. Visitei muitos produtores de leite. É inaceitável que 25 mil produtores tenham abandonado a produção de leite depois de investirem muito em suas propriedades e, mais uma vez, nós vemos um silêncio irresponsável de um governo do Estado. Ninguém produz leite com melhor qualidade que o RS, nós temos capacidade de produção com muita qualidade, somos competitivos e podemos ampliar essa produção, garantindo preço e rentabilidade para o agricultor e toda a estrutura produtiva. Vamos apostar nisso, num Estado produtor de alimentos saudáveis, que valorize a sua agroindústria, vamos revalorizar o sabor gaúcho como marca da agroindústria familiar. Estamos já trabalhando para o fortalecimento das cooperativas, inclusive buscando um selo e uma identidade para elas, fortalecendo e usando os instrumentos fiscais e de crédito para valorizar as nossas cooperativas.

Um tema central para a agricultura e para a nossa juventude, para pensar um futuro, é uma estrutura adequada para as propriedades. Terá um papel central no nosso programa levar internet para as propriedades agrícolas. É uma condição de permanência da juventude e desenvolvimento no meio rural. A agroecologia faz parte dessa agenda. Nós estamos discutindo a recuperação da Fepagro como instituição de pesquisa voltada 100% para o desenvolvimento de tecnologias agroecológicas. Portanto, reorganizar uma rede de serviços que fortaleça e valorize essa imensa base da agricultura familiar que produz muito no RS.

Rossetto foi ministro do desenvolvimento agrário durante os governos Lula e Dilma | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21 – Acompanhamos, recentemente, as polêmicas envolvendo a concessão da Freeway à Concepa. No mesmo sentido, uma das grandes demandas dos gaúchos é a qualificação das estradas. Qual será a sua política para ampliar e fazer a manutenção das rodovias estaduais? Qual a sua política para os transportes?

Rosseto: O abandono da Freeway é a expressão da irresponsabilidade do Temer e do Sartori. Deixar uma Freeway abandonada, como deixaram, é expressão da irresponsabilidade para com o Estado do RS. Nós temos uma grande agenda de reconstrução das nossas rodovias estaduais. Nós temos que avançar na duplicação delas. Nós vamos concluir a RS-118, que é muito importante na RMPA. Nós temos que avançar e concluir a duplicação da RS-122, ligando Caxias, que é o grande polo econômico do Estado, com a região metropolitana. Por incrível que pareça, nós ainda não temos duplicado São Vendelino-Farroupilha, uma zona central, de economia forte. Avançarmos na duplicação da RS-287. Portanto, a EGR é um instrumento poderoso, para além do orçamento do Estado, e eu considero uma experiência positiva. A EGR é um bom carro, mal pilotado. Uma das grandes virtudes da empresa era o controle comunitário dos pedágios, onde a sociedade e a região, por meio de conselhos, definiam investimentos e fiscalizavam as obras. O governo Sartori acabou com os conselhos regionais. Nós vamos recuperar isso, porque eles que asseguram transparência e qualidade dos investimentos regionais. Portanto, a EGR será valorizada e terá uma gestão melhor. Pedágios mais baratos e rodovias com melhor manutenção.

Nós vamos exigir do governo federal a duplicação de malhas, como já fiz referência, a BR-116, de Guaíba até Pelotas, no que é fundamental a conclusão da segunda Ponte do Guaíba. É uma logística fundamental para o crescimento do RS. A Ferrovia Norte-Sul tem que ser recuperada, ela é viável. O RS é um Estado exportador, precisamos ter uma estrutura que garanta a competitividade dos nosso produtos. Nós vamos recuperar o debate da Ferrovia Norte-Sul como estratégica para o RS. E também vamos voltar a trabalhar com a malha hidroviária, da Lagoa dos Patos até Taquari, é muito importante essa qualificação. Portanto, essa é uma agenda que vai combinar busca de financiamentos internacionais ou nacionais, busca de recursos diretos do governo federal nas BRs e esforços do nosso orçamento. O que é fundamental é que eu vou lutar para uma malha logística que dê segurança, eu não quero mais acidentes e mortes nas nossas estradas, quero conforto e competitividade econômica para a nossa economia. Nós temos ainda municípios que ainda não têm ligação asfáltica e temos que avançar nessa direção e, ao mesmo tempo, precisamos fazer ligações regionais muito importantes. Nas viagens que tenho feito, fica evidente que temos que avançar nesta condição. Estamos discutindo internet para todos e ainda não temos estradas com garantia de conforto e asfalto para todos. Temos que perseguir a qualificação para todos os municípios e regiões.

Sul21 – Há uma narrativa de que os governos do PT são responsáveis pela crise nas finanças do Estado. Como o senhor pretende lidar com ela na campanha e com a questão do controle das finanças públicas?

Rossetto: Impondo a narrativa verdadeira, que é exatamente outra. A narrativa verdadeira é que nós fomos governos de reconstrução do Estado do RS. Sempre que o MDB, o PSDB, o PP e esses partidos conservadores governam, destroem o RS. O Antonio Britto renegociou muito mal a nossa dívida e apoiou a Lei Kandir, que drena recursos do Estado. Vendeu CRT, dois terços da CEEE e acabou com a Caixa Econômica Estadual. Contra a destruição do Britto e do governo do MDB, o povo gaúcho chamou o PT e o Olívio para reorganizar o Estado. Depois do desastre do governo Yeda, que vendeu metade do Banrisul e submeteu o serviço público a uma desorganização enorme — dou como exemplo o salário dos policiais militares, que era o menor do Brasil, criou uma crise extraordinária no serviço público do RS –, de novo o povo gaúcho chamou o PT e o Tarso Genro para cuidar o RS. Nós somos governos que reorganizam o Estado, reorganizam as finanças, os servidores públicos. Como imaginar uma condição hoje do Estado sem a recomposição salarial garantida pelo governo Tarso Genro para professores e brigadianos? Nós viveríamos uma crise aberta no RS. Eu não tenho nenhuma dúvida que vai voltar a acontecer depois do desastre do governo Sartori, que vende patrimônio — é sempre assim –, desorganiza a nossa economia, aumenta o desemprego e destrói o serviço público. Nós temos experiência em reorganizar o Estado. Sempre governamos em situações de grande dificuldade, sempre fizemos escolhas de crescimento. Nunca atrasamos o salário, pagamos em dia. Fomos governos de crescimento. Construímos a UERGS, investimos nas escolas. Hoje, o testemunho de todos os hospitais do RS é uma memória positiva dos nossos governos, que estabeleceram relações corretas de investimento na rede pública de saúde. Sempre é bom lembrar que fomos nós, em 1999, o primeiro governo a pagar a renegociação da dívida e ter prejuízo com a Lei Kandir. Portanto, os governos do PT são governos de reorganização e reconstrução do RS. Estou me preparando para reorganizar o Estado e cuidar da população gaúcha.

Rossetto defende a ideia de que os governos do PT no Estado foram de “reconstrução”  | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sul21 – Como a situação político-jurídica do ex-presidente Lula irá entrar na campanha para governador?

Rossetto: Nós vamos trabalhar com a candidatura do presidente Lula e com a candidatura do PT, frente a uma eventual situação de injustiça de uma impossibilidade do Lula estar na urna. Nós acreditamos, e eu acredito, na viabilidade jurídica e na legalidade deste direito. Caso este direito seja recusado, nós vamos disputar. O PT será competitivo em qualquer condição. Nós estaremos no segundo turno em qualquer condição.

Sul21 – Por que o senhor decidiu ser candidato ao governo do Estado?

Rossetto: Eu quero governar para tirar o Rio Grande do Sul dessa profunda crise. Crise qua aparece no enorme desemprego, são 510 mil gaúchos e gaúchas desempregados. Crise que ocorre com a destruição da escola pública por conta do atraso de salários de professores, com o abandono das políticas para os agricultores familiares, com a destruição do serviço público do RS. O Estado hoje empobrece, exclui e se torna mais violento. Eu quero liderar e governar o Rio Grande para recuperar uma agenda de desenvolvimento, trabalho e emprego para todos, recuperação do serviço público, escola pública para a nossa juventude com qualidade, SUS chegando para a nossa população, especialmente a mais idosa, um sistema de segurança reorganizado. O RS hoje é o segundo estado em chacinas do Brasil. Criminalidade e violência absurdas, insustentáveis. Nós queremos afastar o temor e o medo com que vive a população gaúcha e voltar a viver numa ambiente de paz e tranquilidade. Combater a violência contra as mulheres. Quero governar o Estado para recuperar desenvolvimento, paz, tranquilidade e esperança para o povo gaúcho.

Sul21 – Qual é a primeira coisa que a população gaúcha poderá cobrar se o senhor for eleito?

Rossetto: O salário é um direito sagrado para quem trabalha. Como governador eleito, eu vou assegurar, como primeiro ato, o pagamento em dia do salário de professoras, professores, brigadianos, policiais, trabalhadores do Estado do Rio Grande do Sul. São eles que, com o seu trabalho, asseguram os direitos fundamentais do povo gaúcho.


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