|
29 de março de 2021
|
16:49

Demissão de Ernesto Araújo deve reforçar que problema maior é Bolsonaro

Por
Sul 21
[email protected]
Demissão de Ernesto Araújo deve reforçar que problema maior é Bolsonaro
Demissão de Ernesto Araújo deve reforçar que problema maior é Bolsonaro
Ernesto Araújo assumiu o cargo com o compromisso de levar a política ideológica de Bolsonaro, e também do filósofo Olavo de Carvalho, para as relações externas. Foto: Carolina Antunes/PR

Da RBA

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deixou o cargo nesta segunda-feira (29). O chanceler do Itamaraty foi um principais representantes da chamada ala ideológica do presidente Jair Bolsonaro e responsável por minar toda a credibilidade do Brasil com outros países. Ernesto Araújo se reuniu com Bolsonaro no final da manhã de hoje para tratar da demissão, depois de sofrer forte pressão do Congresso Nacional – da oposição ao centrão.

A presidente da Comissão das Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), voltou a atacar Araújo e o acusou de querer esconder os motivos de uma eventual demissão. “Incompetência. Só posso imaginar o desespero deste senhor”, afirmou a senadora em entrevista à GloboNews. Diversos parlamentares criticaram Araújo de ser um dos responsáveis pelo agravamento da pandemia de covid-19 no país. Ele foi acusado de executar na política externa o negacionismo de Bolsonaro na pandemia, o que teria feito o Brasil perder muito tempo nas negociações por vacinas e insumos para o combate ao vírus.

Um dos exemplos foi o desgaste do ministro com a China, maior parceiro comercial do Brasil e país exportador da matéria-prima utilizada na produção de imunizantes. O agora ex-ministro usou termo “comunavírus” para se referir a um suposto “vírus ideológico” que se sobrepõe ao coronavírus e faz “despertar para o pesadelo comunista”. Alguns jornais, no entanto, informam que um provável substituto seria o atual embaixador do Brasil em Paris, Luís Fernando Serra.

O embaixador é tido como um olavista (seguidor do terraplanista Olavo de Carvalho) e, portanto, uma indicação com sérios risco de manter o Itamaraty sob um comando negacionista, com visão externa submissa aos Estados Unidos. A eventual nomeação de Serra reforçaria o entendimento de que o maior problema da política externa brasileira não é o titular do Itamaraty, mas o comando de Jair Bolsonaro.

Pária internacional

Ernesto Araújo assumiu o cargo com o compromisso de levar a política ideológica de Bolsonaro, e também do filósofo Olavo de Carvalho, para as relações externas. Porém, não obteve tanto sucesso e, em outubro do ano passado, disse que se o posicionamento do governo “faz do Brasil um pária internacional, então que o país seja esse pária”. No últimos sábado, mais de 300 diplomatas publicaram uma carta pública acusando a política externa atual de causar “graves prejuízos para as relações internacionais e à imagem do Brasil” e pedindo a saída de Ernesto Araújo da chefia do Ministério das Relações Exteriores.

Ontem (28), Kátia Abreu (PP-TO) já havia chamado o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de “marginal”, depois de o chanceler acusá-la, pelo Twitter, de fazer lobby chinês pelo 5G. A parlamentar rebateu dizendo que o ministro “insiste em viver à margem da boa diplomacia” e “à margem da verdade dos fatos”.

O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, lembra que Ernesto Araújo “fez campanha para Donald Trump, atacou a China, foi humilhado pela Índia e, como embaixador, sua única articulação sólida foi com Olavo de Carvalho. “O Brasil de Bolsonaro deixou de ser o quinto país do mundo para virar uma republiqueta. A saída de Ernesto Araújo até soa como um alívio para o país. Mas em um governo de Bolsonaro, é como fazer um gol depois de tomar sete”, tuitou.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora