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1 de setembro de 2020
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21:13

Nova proposta do governo do Estado prevê volta às aulas já na próxima semana

Por
Sul 21
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Mesmo sob críticas, Eduardo Leite insiste no retorno às aulas presencias ainda com o RS em fase crítica da pandemia. Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Luciano Velleda

O Governo do Estado anunciou, nesta terça-feira (1º), um novo calendário para o reinício das aulas presenciais no Rio Grande do Sul. O governador Eduardo Leite (PSDB) agora propõe que as aulas retornem já a partir da próxima terça-feira (8), começando pela educação infantil. Na sequência, dia 21 de setembro, recomeçam as aulas no ensino superior, médio e técnico; dia 28 de outubro, voltam os anos finais do ensino fundamental, e dia 12 de novembro, os anos iniciais do ensino fundamental. O governo planeja que a rede estadual retome as aulas do ensino médio a partir do dia 13 de outubro. 

O retorno às aulas presencias enquanto o Estado ainda passa por um momento difícil da pandemia do novo coronavírus — nesta terça-feira, Porto Alegre, por exemplo, bateu novo recorde na ocupação de leitos de UTI, com 345 casos confirmados — e o reinício pelas crianças de 0 a 5 anos, têm sido criticado por prefeitos, médicos e professores das redes pública e privada. 

Durante o anúncio, Leite enfatizou que a medida trata da “retirada de restrições” e, com isso, primeiro caberá aos prefeitos autorizar o retorno e, depois, aos pais decidirem se enviam ou não seus filhos. O governador ainda enfatizou que a pandemia encontra-se estável no Rio Grande do Sul. “A gente continua vivenciando aquela estabilidade que se verifica desde o final de julho”, disse. E acrescentou: “Não é um retorno à qualquer custo e nem desorganizado, e nem um retorno à normalidade. Trata-se de um calendário para autorizar, ou deixar de restringir, e não obrigar o retorno”. 

O governo estadual destaca que a retirada de restrições que permitirão a volta às aulas presenciais ocorrerá apenas nas regiões que estiverem em bandeira amarela ou laranja há duas semanas – no mapa do governo do Estado –  e serão num modelo híbrido, ou seja, combinado com as aulas on-line. Coincidência ou não, nesta segunda-feira (31), o mapa definitivo da 17ª semana do Distanciamento Controlado apresentou mudanças significativas em relação àquele apresentado na última sexta.

Após análise dos pedidos de reconsideração feitos no fim de semana, apenas quatro regiões permaneceram em bandeira vermelha: Santo Ângelo, Cruz Alta, Ijuí e Santa Rosa. Duas destas quatro regiões em vermelho – Santo Ângelo e Ijuí – já aderiram ao sistema de cogestão e estão adotando protocolos intermediários (menos restritivos que os da bandeira vermelha). Porto Alegre, que estava em bandeira vermelha desde 23 de junho, teve pedido de reconsideração aceito e também passou para a bandeira laranja. Para permitir a mudança na bandeira, houve alteração na regra da trava de segurança. Para o governo estadual, a “estabilização dos indicadores” da doença no RS permite que haja flexibilizações. 

Leite reconheceu que a decisão de a volta às aulas começar pela educação infantil tem relação com o retorno das atividades econômicas e, consequentemente, a necessidade dos pais trabalharem e não poderem mais ficar com os filhos em casa. Ciente de que o argumento econômico tem sido alvo de críticas, dessa vez o governador também destacou que a longa permanência em casa pode causar problemas de saúde e afetar a capacidade cognitiva das crianças. “E isso nos preocupa muito. Tem uma série de itens ligados à economia, mas também à saúde das crianças”, afirmou. “A decisão é dos pais. Se eles se sentem seguros para dar, em casa, os estímulos necessários, têm o direito de assim fazer, e os pais que precisam do apoio da escola no desenvolvimento dos filhos, poderão ter.”

Decisão arriscada

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAMED/UFRGS), o infectologista Alexandre Zavascki pondera que, do ponto de vista epidemiológico, houve pouca mudança desde meados de agosto, quando o governador propôs que as aulas presencias voltassem no final daquele mês. A situação segue estável, porém em nível alto. O médico enfatiza que o Estado tem, atualmente, uma média de transmissão muito elevada, e que esse deve ser o indicador a ser observado para definir a volta às aulas.

Zavascki critica não ter havido aprimoramento em testagem e em rastreamento de pessoas contaminadas e seus contatos. Para o infectologista, o aumento que houve foi o da pressão política. “Do ponto de vista de saúde pública, é uma medida muito arriscada”, analisa, lembrando que nenhum país abriu as escolas com a contaminação ainda elevada.

O professor da UFRGS não concorda com o discurso do governo de que os pais devem escolher se levam ou não os filhos à escola. Zavascki afirma que cabe ao governo decidir o que é ou não arriscado. “O Estado não pode deixar a critério das pessoas se acreditam ou não na epidemia, se acreditam ou não nos riscos. Está se passando a responsabilidade para as escolas e municípios, sem oferecer estrutura para a ampliação de testes”, observa o infectologista. 

Como exemplo, de modo simples, ele faz uma analogia com o uso obrigatório do cinto de segurança, em que não cabe ao pai decidir se coloca ou não no filho. A partir de estudos técnicos, o Estado sabe que o uso do cinto de segurança protege a vida. É, portanto, lei.

O médico ainda acrescenta que o modelo de bandeiras, usado como um dos critérios pelo governo Leite, foi criado para evitar o colapso do sistema de saúde e é inapropriado para avaliar o melhor momento de retorno às aulas presenciais. “O sistema de bandeiras não tem nada a ver com volta às aulas. As coisa que tinham que ser feitas, não foram feitas.”


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