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22 de maio de 2020
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20:26

Celso de Mello retira sigilo e STF divulga vídeo de reunião ministerial de 22 de abril; confira

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Sul 21
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Celso de Mello retira sigilo e STF divulga vídeo de reunião ministerial de 22 de abril; confira
Celso de Mello retira sigilo e STF divulga vídeo de reunião ministerial de 22 de abril; confira
Reunião ministerial de 22 de abril. Foto: Marcos Corrêa/PR

Da Redação

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou o acesso ao vídeo da reunião ministerial realizada no dia 22 de abril, no Palácio do Planalto. A decisão foi tomada no inquérito que apura declarações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro acerca de suposta tentativa do presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal. Com a decisão, qualquer cidadão poderá ter acesso ao conteúdo do encontro de ministros com o presidente Jair Bolsonaro.

A decisão não atendeu aos apelos da Advocacia-Geral da União, que queria que a divulgação fosse restrita aos trechos em que o presidente trata sobre a “segurança” dele. A única restrição imposta foi a trechos específicos em que há referência a dois países com os quais o Brasil mantém relação diplomática.

‘Eu não vou esperar foder a minha família toda’

Em determinado trecho do vídeo, o presidente Bolsonaro começa a falar sobre as denúncias contra membros da sua família e diz que já tentou trocar “gente da segurança” no Rio de Janeiro, no que ele aparenta se referir ao comando da Polícia Federal e ser uma crítica ao agora ex-ministro Sergio Moro.

“Aí a bosta da Folha de São Paulo, diz que meu irmão foi expulso dum açougue em Registro, que tava comprando carne sem máscara. Comprovou no papel, tava em São Paulo esse dia. O dono do … do restaurante do … do pa … de … do açougue falou que ele não tava lá. E fica por isso mesmo. Eu sei que é problema dele, né? Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, diz.

Em outro momento, ele reclama da falta de informações e diz “vou interferir e ponto final”. “E me desculpe, o serviço de informações nosso, todos, é uma … são uma vergonha, uma vergonha! Que eu não sou informado! E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma … urna extrapolação da minha parte. É uma verdade. Como eu falei, né? Dei os ministérios pros senhores. O poder de veto. Mudou agora. Tem que mudar, pô. E eu quero, é realmente, é governar o Brasil”, diz.

“Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as … as inteligências das Forças Armadas que não tenho informações. ABIN tem os seus problemas, tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, pô! Aparelhamento etc. Mas a gente num pode viver sem informação”.

Ministros do STF na cadeia

Entre as falas que se destacam no vídeo está uma do ministro da educação, Abraham Weintraub, que cita os ministros do STF. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”, disse ele.

“A gente tá perdendo a luta pela liberdade. É isso que o povo tá gritando. Não tá gritando pra ter mais Estado, pra ter mais projetos, pra ter mais… o povo tá gritando por liberdade, ponto. Eu acho que é isso que a gente tá perdendo, tá perdendo mesmo… o povo tá querendo ver o que me trouxe até aqui. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”, diz ele.

O ministro também manifesta toda sua ira contra algumas expressões: “Esse país não é … odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo. Odeio. O ‘povo cigano’. Só tem um povo nesse país. Quer, quer. Não quer, sai de ré. É povo brasileiro, só tem um povo. Pode ser preto, pode ser branco, pode ser japonês, pode ser descendente de índio, mas tem que ser brasileiro, pô! Acabar com esse negócio de povos e privilégios”.

Na sequência, diz que está levando “bordoada” e faz críticas a quem, segundo ele, estaria “mantendo essa estrutura”: “Isso é um absurdo, a gente chegou até aqui. O senhor levou uma facada na barriga. Fez mais do que eu, levou uma facada. Mas eu também tô levando bordoada e tô correndo risco. E fico escutando esse monte de gente defendendo privilégio, teta. Tendeu? É isso. Negócio. Empréstimos. A gente veio aqui pra acabar com tudo isso, não pra manter essa estrutura. E esse é o meu sentimento extremamente chateado que eu tô vendo essa oportunidade se perder”.

Privatização do BB

Outro momento revelador do vídeo é a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, defendendo a privatização do Banco do Brasil. “O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam’. Aí se falar assim: ‘bota o juro alto’, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização. É um caso pronto e a gente não tá dando esse passo. Senhor já notou que o BNDE e o … e o … e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”, diz.

‘Oportunidade’

Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugere em sua fala aproveitar a “atenção da imprensa (…) voltada quase exclusivamente pro Covid” e “dar de baciada a simplificação”. “A oportunidade que nós temos, que a imprensa… tá nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas que o mundo inteiro, nessas viagens [a] que se referiu o Onyx [Lorenzoni], certamente cobrou dele”, diz o ministro, apontando para o desmonte de mecanismos de proteção ao meio ambiente.

“Nesse aspecto eu acho que o Meio Ambiente é o mais difícil, de passar qualquer mudança infralegal em termos de (…) instrução normativa e portaria, porque tudo que a gente faz é pau no Judiciário no dia seguinte”, prosseguiu o ministro.

“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, acrescenta. “E deixar a AGU –o André [Mendonça, então advogado-geral da União] não tá aí, né? E deixar a AGU de stand-by pra cada pau que tiver. Porque vai ter.”

‘Todos que tiveram coronavírus poderão abortar?’

Por sua vez, a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, fala em prisão de governadores e prefeitos por medidas no combate ao coronavírus. “A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos. E nós tamo subindo o tom e discursos tão chegando. Nosso ministério vai começar a pegar pesado com governadores e prefeitos”, afirma.

Damares também dá um recado ao então recém empossado ministro da Saúde, Nelson Teich: “E quando eu falo valores aí eu quero olhar pro nosso novo ministro aqui da saúde e dizer: ministro, valores estão lá no seu ministério também. Neste momento de pandemia a gente tá vendo aí a palhaçada do STF trazer o aborto de novo para a pauta, e lá tava a questão de … as mulheres que são vítima do zika vírus vão abortar, e agora vem do coronavírus? Será que vão querer liberar que todos que tiveram coronavírus poderão abortar no Brasil? Vão liberar geral? O seu ministério, ministro, tá lotado de feminista que tem uma pauta única que é a liberação de aborto. Quero te lembrar ministro, que tá chegando agora, este governo é um governo pró-vida, um governo pró-família. Então, por favor. E aí quando a gente fala de valores,
ministro, eu quero dizer que nós estávamos sim no caminho certo”.

A cereja do bolo é uma declaração da ministra dizendo que a há uma “contaminação criminosa de indígenas” na Amazônia e em Roraima para “colocar nas costas do presidente Bolsonaro”. “Eu tive que ir pra lá com o presidente da Funai e me reuni com generais da região e o superintendente da Polícia Federal, pra gente fazer uma ação ali meio que sigilosa, porque eles precisavam matar mais índio pra dizer que a nossa política não tava dando certo”, diz Damares.

Ataques a governadores e prefeitos

Além de Damares, Bolsonaro também volta sua ira para governadores e prefeitos na reunião ministerial. Em um trecho, o presidente afirma: “O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas. Um bosta. Que quem não conhece a história dele, procura conhecer, que eu conheci dentro da Câmara, com ele do meu lado!”.

Sobre o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), Bolsonaro prossegue: “nós sabemos o … o que, a ideologia dele e o que ele prega. E que ele sempre foi. O que a … tá aproveitando agora, um clima desse, pra levar o terror no Brasil. Né? Então, pessoal, por favor, se preocupe que o de há mais importante, mais importante que a vida de cada um de vocês, que é a sua liberdade. Que homem preso não vale porra nenhuma”.

No boletim da última quinta-feira (21), o Amazonas contabilizava 25.367 casos de covid-19,  12.317 deles em Manaus (48,56%) e 13.050 do interior do estado (51,44%). O número de vítimas fatais chegava a 1.620, tornado o Estado um daqueles em situação mais grave diante do avanço da pandemia.


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