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11 de fevereiro de 2020
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18:51

Evento reúne cristãos contra o fascismo em Porto Alegre: ‘a causa de Cristo sempre foi a do oprimido’

Por
Luís Gomes
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Evento “Fé, Amor e Revolução” debateu o papel da esquerda e dos cristãos no combate ao fascismo. Da esquerda para a direita: Tiago Santos, César Souza, Bianca Ramires, Fernanda Melchionna e Henrique Vieira | Foto: Luiza Castro/Sul21

Da Redação

Cerca de 200 pessoas se reuniram na sede do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), na noite de segunda-feira (10), para participar do evento “Fé, Amor e Revolução”, que teve como objetivo refletir sobre como é possível articular a fé das pessoas com a defesa da democracia e as populações mais vulnerabilizadas socialmente.

Principal palestrante da noite, o pastor Henrique Vieira, conhecido nacionalmente por pregar a importância de conectar a defesa democracia e da diversidade com os valores cristãos, argumentou que Jesus pregava para as pessoas comuns, que não eram vistas como importantes para a sociedade da época, e que ao longo da história muitos grupos de poderosos tentaram afastar a fé cristã das pessoas mais simples.

“Precisamos devolver o Evangelho à sua origem, que não era o império romano, mas sim a periferia da Galileia. Infelizmente, poucas coisas traíram tanto Jesus quanto o cristianismo pregado por alguns. Jesus tem uma história revolucionária que temos que devolver ao povo. O reino de Deus é um confronto ao reino de César. Quem ouvia Jesus à época era gente que não era ninguém. A causa de Cristo sempre foi a causa do oprimido. Todo cristão é discípulo de um prisioneiro político”, disse Vieira no evento, que foi uma iniciativa do coletivo Cristãos Contra o Fascismo em parceria com o mandato da deputada federal e pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre Fernanda Melchionna (PSOL).

O pastor também falou sobre como os discursos de ódio que acabam fazendo parte de alguns espaços de igrejas tem como resultado afastar pessoas da fé e estimular ainda mais vulnerabilidades em direitos humanos causadas pelo preconceito e pela discriminação. “Conheço muitos LGBTs que acabam tendo pensamentos de morte por não conseguir olhar para si com amor. O fascismo está lutando para controlar nossos desejos e nossos corpos. Não podemos tolerar isso”, disse.

Cerca de 200 participantes acompanharam o evento | Foto: Luiza Castro/Sul21

Em sua fala, Melchionna argumentou que construir uma unidade de ação com todos os setores da sociedade que estão contra os ataques às liberdades democráticas é uma tarefa necessária da esquerda. “Vivemos uma tentativa de fechamento do regime político com Bolsonaro atacando frequentemente as liberdades democráticas que se reflete também a nível municipal, por isso fico muito feliz em ver um grupo tão importante se engajando na luta contra o autoritarismo e enchendo este auditório. Nós do PSOL, por meio da nossa pré-candidatura à prefeitura e de ações como esta anunciada hoje, estamos construindo uma alternativa para combater o obscurantismo e fazer uma Porto Alegre das pessoas”.

Também participaram da mesa três membros do grupo Cristãos Contra o Fascismo, o teólogo Tiago Santos, a professora Bianca Ramires e o psicólogo César Souza. O primeiro pontuou que é uma contradição viver em um país que possui quase 90% da população se declarando como cristã, ter o Brasil como o país mais católico do mundo e, mesmo assim, ver uma rotina de tanto preconceito e discriminação no cotidiano. Ele também relembrou a dificuldade das pessoas com ideias progressistas de permanecerem nos seus espaços de fé durante o último processo eleitoral de 2018. “O ar nos templos religiosos ficou irrespirável e muitas pessoas abandonaram suas igrejas. Nós não podíamos mais aceitar sermões de domingo desconexos da realidade. Jesus foi morto pelos ditos ‘cidadãos de bem’ da época em que viveu. Nossa missão é lutar por quem Jesus defendeu”, disse.

Bianca salientou que grande parte desta situação confusa na política brasileira é gerada por uma lógica de que religião e política não se discutem e que a esquerda precisa compartilhar a responsabilidade por isso. “A esquerda abriu mão de dialogar com o público religioso. Venho da periferia e as igrejas que elegeram Bolsonaro estão lá. Nós precisamos nos dedicar a construir pontes em vez de muros”, afirmou.

Por fim, César afirmou que é necessário trabalhar a religião de forma com que ela ocupe um espaço saudável das vidas das pessoas. “As pessoas lidam com a fé carregadas de culpa. Igrejas com discursos fascistas e autoritários estimulam e se aproveitam disso produzindo medo. Eu acredito que a fé pode ser um instrumento de cura, diferentemente do que vimos acontecer em 2018, que foi muito pesado para mim e para muitos outros cristãos”, disse.


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