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14 de novembro de 2019
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20:49

Lula: ‘O Brasil nunca teve a sua verdadeira história contada’

Por
Sul 21
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“Saí da cadeia mais forte, mais humano e mais certo das lutas que temos que travar”. Foto: Ricardo Stuckert

Da RBA

Em sua primeira reunião partidária depois da liberdade, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quinta-feira (14) de reunião da executiva nacional do PT em Salvador. Por mais de uma hora, Lula saudou o apoio que recebeu durante os 580 dias em que ficou preso em Curitiba, contou histórias da sua vida e se emocionou ao falar de sua família.

“Será que os petistas têm consciência de que nós conseguimos criar o mais importante partido de esquerda da América Latina?”, questionou.

Lula comemorou a diversidade do partido e lembrou que a inclusão sempre foi seu objetivo quando presidente. “Tem muita gente que bota defeito no PT. E muitas vezes nós acabamos acatando essas deficiências que mostram para a gente (…) Esse partido foi criado por muita gente anônima”, disse.

“Não acredito que tenhamos tido algum presidente mais amplo do que eu. Nem empresários que governaram, ninguém foi tão amplo. Recebi no Palácio do Planalto os maiores empresários, recebi príncipes. Naquele Palácio entrava sem-teto, LGBT, pessoa com deficiência. O objetivo era mostrar que esse país era de todos efetivamente, e que esse país não poderia ser tão desigual”, lembrou.

Sobre uma suposta necessidade de autocrítica muito cobrada do PT, o ex-presidente provocou: “Vocês já viram alguém pedir para o FHC fazer uma autocrítica? Quem quiser que o PT faça uma autocrítica, que faça você. Por que eu vou tirar o papel da oposição para ficar me criticando?”

Liberdade e história

Do cárcere, Lula disse ter refletido muito sobre a liberdade e o que isso representa para a sociedade brasileira, em todo seu contexto histórico. “Aprendi algumas coisas importantes. Li muito, mais do que quando estava em liberdade. Li muito sobre a história desse país, sobre a independência, a abolição e a escravidão. Posso dizer para vocês uma coisa: esse país nunca teve a sua verdadeira história contada“, afirmou.

Lula disse que não saiu da cadeia mais forte, e sim mais humano, “mais certo das lutas que temos que fazer”. E uma dessas tarefas é ajudar o Brasil a contar sua verdadeira história. “Todos os nossos heróis tiveram o que chamavam de ‘uma morte para sempre’. Tinha que matar, cortar a cabeça, esquartejar e jogar em lugares diferentes. Foi assim em todas as revoltas populares nesse país”, disse, ao lembrar da revolta dos Malês, que aconteceu em Salvador com um levante de escravos em 1835.

Em uma crítica ao mundo acadêmico e às esquerdas brasileiras, Lula clamou para que voltem os olhares para histórias como a dos Malês ou da Guerra de Canudos, que também aconteceu na Bahia (1896 e 1897). “A nossa esquerda conhece muito mais sobre os heróis das revoluções russa, cubana, francesa, do que os nossos heróis. Aprendemos que Conselheiro era um beato, fanático, ignorante, que queria ficar defendendo a monarquia. É preciso ler os poucos livros verdadeiros para aprender a história daquilo. Não sabemos quase nada da história das nossas rebeliões.”

Ódio ao PT

Lula fez uma crítica à relação entre as elites oligárquicas e o Judiciário – que explicaria em parte a manutenção dos privilégios de uma minoria rica e a luta dessa minoria contra movimentos populares. “Está claro na minha cabeça o que foi a Lava Jato. Está claro na minha cabeça por que tanto estigma e tanto ódio ao PT (…) Não sei quantos negros tem no MP. A tendência natural é que quase todos pertençam a uma casta em que o único grande trabalho foi prestar um concurso, mas não entendem efetivamente dos problemas do povo brasileiro”, disse.

“Sou defensor de uma Polícia Federal forte, e trabalhei para isso. Ninguém investiu mais na PF do que eu, mas toda instituição forte tem que ter mais responsabilidade. Ganham bem, tem estabilidade, com a obrigatoriedade de serem sérios, e não fazerem politicagem. O que tentaram fazer agora com a Dilma, tentando prender a Dilma (…) Dois agentes me intimaram às 6h da manhã na minha cela. Mas eu já estava preso”, disse, arrancando gargalhadas nervosas em sua última sentença. “Fiscais que multaram o Instituto Lula em R$ 18 milhões depois foram presos no Rio de Janeiro achacando. Mas a imprensa não divulga isso.”

O ex-presidente voltou a afirmar que amadureceu e trabalha para não ter ódio. “Preciso me conter, não posso ter ódio. Não quero me vingar de ninguém. Eles não vão conseguir me devolver 580 dias (…) Sou apenas agradecido a todos que estiveram comigo”, disse.


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