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9 de novembro de 2019
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19:58

‘Em 2022 a esquerda irá derrotar a ultradireita no Brasil’, diz Lula em pronunciamento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Por
Sul 21
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Foto: Ricardo Stuckert

Da Redação

Na tarde deste sábado (9), um dia após ter sido libertado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou um pronunciamento histórico na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, onde era esperado desde o meio da manhã por centenas de manifestantes. Durante o discurso que durou quase uma hora e foi realizado ao lado de lideranças políticas e sindicais, o ex-presidente agradeceu o apoio de seus seguidores, de seus companheiros políticos e sindicalistas e movimentos sociais e lançou críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), à realidade econômica e social do país neste ano, ao ministro Sério Moro, ao procurador Deltan Dallganol e ao processo que o levou à sua prisão em abril de 2018.

“Muitos de vocês não queriam que eu fosse preso no dia 7 de abril, eu lembro que eu precisei persuadir vocês a compreenderem o papel que eu tinha que cumprir”, disse o ex-presidente logo no inicio de seu discurso deste sábado, referindo-se ao fato de que ele estava no mesmo Sindicato quando se entregou para à Polícia Federal no ano passado. “Eu tomei a decisão de ir para a Polícia Federal porque eu precisava provar que o [então] juiz Moro não era juiz, mas sim um canalha que estava de juiz. Eu precisava provar que o [Deltan] Dallagnol não representa o Ministério Publico que é uma instituição séria. O Dallagnol montou uma quadrilha com a força-tarefa da Lava Jato, inclusive para roubar dinheiro da Petrobras e de outras empreiteiras. Se eu tivesse saído do Brasil seria tratado como fugitivo, então, eu resolvi ir pra pertinho deles e enfrentar as feras para poder provar pra sociedade”, afirmou Lula.

Diversas vezes durante sua fala o presidente afirmou não ter ódio e nem rancor dos envolvidos no processo que tirou sua liberdade, mas disse também que busca provar ser inocente das acusações que existem contra ele: “Quando eu sai daqui eu tinha uma missão. Eu fiquei numa solitária e durante 580 dias eu me preparei espiritualmente, eu me preparei para não ter ódio, para não ter sede de vingança; eu me preparei para não odiar meus algozes porque eu queria provar que, mesmo preso por eles, eu dormia com a minha consciência muito mais tranquila que a consciência deles.  Cá estou eu, livre como um passarinho e durmo com a consciência tranquila dos homens justos e honestos. Eu duvido que o Moro durma com a consciência tranquila. Duvido que o tal do Dallagnol durma com a consciência tranquila e duvido que o seu [Jair] Bolsonaro durma com a consciência tranquila. Que o ministro demolidor de sonhos, chamado Paulo Guedes durma com a consciência tranquila que eu tenho. E quero dizer para eles que estou de volta”.

Lula também afirmou que sua prisão aconteceu para que ele não pudesse disputar as eleições de 2018 e que espera o julgamento de um habeas corpus que foi ingressado no Supremo Tribunal Federal pedido a anulação de todos os processos que existem contra ele. “Existem argumentos suficiente para provar que o Moro é mentiroso, que o Dallagnol é mentiroso. Não é por causa [das reportagens] do Intercept, é por causa do que eles escreveram na minha defesa. Só tem uma explicação para esse processo, para me tirar da disputa eleitoral. O que eles não sabem é que um povo como vocês não dependem de uma pessoa, dependem do coletivo”.

Críticas ao governo Bolsonaro

Em seu discurso, o ex-presidente criticou o atual cenário econômico do Brasil e as políticas do governo Bolsonaro, como a reforma da Previdência. “Achei que minha prisão ia permitir que eles recuperassem o Brasil, mas o povo ficou mais pobre, tem menos saúde, menos emprego. Quase 50% da população tá ganhando 413 reais por mês. Seria importante que eles fizessem o que vocês fazem, pegassem 413 reais e sustentar a família, comprar comida, pagar transporte, ir no médico. Esse país é de 210 milhões de habitantes e não podemos permitir que os milicianos acabam com esse país que nós construímos. Esse país que era respeitado no mundo inteiro, admirado no mundo inteiro. Esse país que está sendo destruído. O que nós queremos é que essa gente saiba que esse país é nosso. Ñão posso aos 74 anos de idade ver essa gente destruir o pais que construímos”, disse Lula, que também afirmou que está pronto para “lutar para tentar recuperar o orgulho da gente de ser brasileiros”.

“Eu li muitas coisas perguntando ‘será que o Lula vai sair com ódio de lá?’, ‘sera que vai  querer vingança?’. Não quero nada, eu quero construir esse país com a mesma alegria que construímos quando governamos o país. A única coisa que tenho certeza é que eu tô com mais coragem de lutar que eu tava quando sai daqui. Lutar para que as mulheres possam levar seus filhos no supermercado e comprar o suficiente para eles comerem, para que o trabalhadores tenha emprego e ganhem o suficiente para sustentar toda família; para que o trabalhador tenha direito de ir ao cinema, ir ao teatro, ir num restaurante e todo final de semana reunir a família para fazer um churrasco e tomar um cerveja gelada, que é o que deixa a gente feliz. Se as pessoas tiverem onde trabalhar, salário, onde estudar, acesso à cultura, a violência vai cair. Contra a tentativa de distribuição de arma do Bolsonaro, vamos distribuir emprego, livros, acesso a cultura. Esse país que queremos e que sabemos como construir”, afirmou.

Ex-presidente realizou pronunciamento histórico ao lado de lideranças políticas e sindicais. Foto: Reprodução/TVT

Além de criticar o governo Bolsonaro, Lula afirmou que o presidente foi eleito democraticamente e que o resultado das eleições deve ser respeitados, mas pontuou que Bolsonaro foi “eleito para governar para o povo brasileiro” e cobrou explicações sobre algumas polêmicas ou denúncias envolvendo a família Bolsonaro, como a relação com as milícias do Rio de Janeiro e a citação do nome do presidente no caso Marielle, por exemplo. “Ele foi eleito para governar para o povo brasileiro e não para os milicianos do Rio de Janeiro. É preciso que achem uma perícia série para que a gente saiba quem foi que matou nossa guerreira chamada Marielle. Ele tem que explicar onde está o Queiroz, explicar de onde ele construiu um patrimônio de 17 casas. Eu quero que eles expliquem porque querem destruir nossa Petrobras, o BNDES, a Caixa Econômica Federal”, disse.

Luta popular 

O ex-presidente mencionou as lutas populares que tomaram a América Latina e pediu solidariedade aos povos latino-americanos. “Estamos vendo o que está acontecendo no Chile. O Chile está na rua, o povo está na rua porque o governo que é eleito não é eleito pra destruir, é eleito pra governar. Vocês viram na Argentina que o companheiro Alberto e a Cristina deram uma surra no Macri e ganharam as eleições. Temos que ser solitário ao povo do Chile, ao povo da Bolívia, ao povo da Argentina e ao povo da Venezuela. É normal que cada um de nós possa ter crítica a qualquer governo do mundo, agora quem decide o problema do país é o povo do seu país. E que o Trump resolva os problemas dos americanos e não encha o saco dos latinos americanos, ele não foi eleito para ser xerife do mundo”.

Lula também pediu mobilização popular dos brasileiros contra o desmonte do governo Bolsonaro e disse que que o povo brasileiro só irá “salvar esse país se tiver coragem de fazer um pouco mais”. O ex-presidente ainda pediu à população que não tenha medo de falas como a do deputado federal brasileiro Eduardo Bolsonaro, que falou sobre a criação de um novo AI-5 em caso de protestos parecidos no Brasil. “Não adianta ficar com medo ou ficar preocupado com as ameaças que eles fazem na televisão, de que vai ter um AI-5 outra vez. Esse país é de 210 milhões de habitantes e não podemos permitir que os milicianos acabam com esse país que nós construímos”, disse.

Antes de encerrar o discurso, Lula ressaltou as conquistas populares de seus mandatos enquanto presidente, dizendo que seus governos provaram que “é possível governar para o povo mais necessidado, que é possível colocar o pobre na universidade, o povo nas escolas técnicas, melhorar o ensino fundamental”, e afirmou que se toda a população “tiver juízo e souber trabalhar direitinho”, nas eleições de 2022 a esquerda irá derrotar a ultra direita. “Esse país não merece o governo que tem, não merece um governo que manda os filhos contar mentira todos os dias”, disse. O ex-presidente também afirmou que dentro de 20 dias irá fazer um novo pronunciamento ao povo brasileiro, mas não informou sobre o que irá falar.


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