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18 de novembro de 2019
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20:50

Cpers diz que vereadores devem pressionar deputados contra pacote ‘devastador’ de Eduardo Leite

Por
Luís Gomes
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Cpers diz que vereadores devem pressionar deputados contra pacote ‘devastador’ de Eduardo Leite
Cpers diz que vereadores devem pressionar deputados contra pacote ‘devastador’ de Eduardo Leite
Helenir Aguiar Schürer durante a assembleia do Cpers realizada na Praça da Matriz, no dia 14 | Foto: Giulia Cassol/Sul21

Luís Eduardo Gomes

A presidente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers), Helenir Aguiar Schürer, concedeu entrevista na tarde desta segunda-feira (18) para fazer um balanço do primeiro dia de greve por tempo indeterminado da categoria contra o pacote de medidas apresentado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) com mudanças nas carreiras e na Previdência dos servidores públicos estaduais.

Helenir explicou que uma das estratégias que está sendo empregada pelo Cpers para tentar reverter o pacote é pressionar as Câmaras de Vereadores do interior do Estado a se posicionarem contra o pacote e, com isso, forçar os deputados estaduais com bases nessas cidades a reverem suas posições. De acordo com o sindicato, até o momento, 84 Câmaras municipais já se posicionaram contra o pacote. A presidente também tem participado de audiências públicas para falar sobre o impacto que as medidas terão no Magistério.

“Quando a gente explana sobre os problemas do projeto, nós temos muitos vereadores [de partidos] da base do governo que ficam indignados. Nós não temos dúvida, este projeto acaba com a nossa carreira. Vai nos deixar mais pobres ainda e o reflexo que terá sobre a escola pública será devastador”, disse. “A gente sabe que os vereadores têm um papel importante inclusive na eleição desses deputados. Esses vereadores também estão fazendo o seu papel. Nós já sabemos de caso de vereador que veio falar com o seu deputado, que disse que votaria com o governo e ele já comunicou que estava deixando o partido e iria apoiar outra pessoa. Nós temos eleições no ano que vem para prefeitos e vereadores e vamos, sim, pressionar muito. Temos dito para os vereadores, aqueles partidos que votarem a favor desse pacote, com certeza estaremos nas ruas ano que vem para pedir que não votem neles porque não respeitam os trabalhadores e estão destruindo o serviço público no Estado”.

O ponto mais criticado pelo Cpers é a descaracterização do plano de carreira da categoria, instituído em 1974. Helenir destacou que o plano foi criado para estimular a qualificação dos professores, com o estabelecimento de ganhos financeiros para a progressão acadêmica e que agora serão praticamente extintos.

“Naquele tempo, a maioria dos professores só tinha o Ensino Médio. Hoje que o Rio Grande do Sul é um dos estados que têm mais mestres e doutores dando aula nas escolas estaduais, o governo apresenta um projeto que vai desvalorizar [a qualificação]. Só para vocês terem uma ideia, se um professor com Ensino Médio e um professor com doutorado entrassem no Estado no mesmo dia de hoje, a diferença salarial entre eles seria de 100%. No projeto do governo, cai para 7%. Eu pergunto: quem é que vai investir na educação, querer fazer um mestrado, um doutorado, para ganhar 7% a mais de que quem tem o Ensino Médio?”, questionou.

Helenir disse que o sindicato está aberto a se reunir com o governo antes da votação na Assembleia Legislativa, prevista para o início de dezembro, mas destacou que, desde que foi anunciada a greve na semana passada, não houve nenhum contato do governo do Estado com o sindicato. Ela disse que após a reunião em que o governador apresentou o projeto ao sindicato, em outubro, a direção do Cpers estudou o projeto e apresentou uma resposta ao governo elencando todos os pontos com os quais tinham discordância.

“Até hoje, nós não tivemos absolutamente nenhuma resposta. Inclusive, o governador disse que nós não contribuímos para o projeto. Eu gosto de dizer que a impressão que eu tenho é que o enforcado está no cadafalso e o carrasco pede para que ele contribua para o próprio enforcamento. É mais ou menos isso, [o pacote] não tem nada de bom, só tira direitos, ataca os sindicatos, a organização sindical, tenta barrar de todas as formas qualquer forma de mobilização da categoria. Se passar esse projeto, será o fim da luta no Magistério. Nós queremos inclusive fazer um apelo ao governador, que preza tanto a palavra diálogo, que ele realmente exerça. Nos chame para dialogar, nos chame para conversarmos, porque a gente sabe que ele tem recebido outras oportunidades, mas o Cpers ele nunca convidou a irmos conversar sobre esse projeto. Agora, que nos chame se tiver possibilidade de melhorar, chamar depois só para dizer que está dialogando e não mudar nada, nós também nos não temos interesse nesse diálogo”, afirmou.

Para ela, a responsabilidade pela conclusão do ano letivo de 2019 é do governador, que viajou para os Estados Unidos após a deflagração da greve. “Nós buscamos de todas as formas o diálogo para não precisarmos ter essa atitude de entrar em greve. O governador não nos ouviu, não respeitou a nossa categoria, portanto acho que os pais têm que vir junto conosco e cobrar do governo. Porque não basta não ter professor para atender os alunos durante todo o ano letivo, ainda jogar uma categoria no final do ano, perto de vestibular, a uma greve. Essa é uma responsabilidade do governador Eduardo Leite”, afirmou.

Durante a tarde, o governo divulgou um levantamento apontando que 208 escolas estaduais tiveram paralisação total e 252 paralisação parcial nesta segunda, de um total de 2.163 que responderam o contato da Secretaria de Educação (Seduc). O Rio Grande do Sul tem 2,5 mil escolas. Mais cedo, o Cpers divulgou que 30 escolas estaduais de Porto Alegre tinham aderido totalmente e outras 13 parcialmente.

O Cpers aguarda até o final da tarde para divulgar um levantamento geral sobre a adesão à greve. “Mas as notícias que estão vindo do interior são muito boas. Na região das Missões, de São Luiz Gonzaga, que é o 33º núcleo [do Cpers], recebemos a notícia de 95% de paralisação nas escolas. Na Serra, que sempre é o espaço mais difícil de fazer, há uma adesão muito grande também. A sinalização é que a categoria vai confirmar o que nós achávamos, ela vem forte para a greve e nós vamos ter que pressionar o governo para que ele resolva esse impasse”, disse.

Nesta segunda, o site GaúchaZH publicou um levantamento feito a partir de dados do Diário Oficial da União de que, somente na última quinta-feira (14) e nesta segunda, 262 professores pediram a aposentadoria. Para Helenir, essa é uma consequência do apresentação do pacote, com os educadores se antecipando às mudanças nas regras previdenciárias.

“Temos professores que, inclusive, estão pedindo a aposentadoria proporcional. Só numa tarde que nós vimos a fila para a aposentadoria na Seduc, nós contamos 272 pessoas encaminhando. Digo mais, no ano que vem, nós teremos um grande problema com o início do ano letivo, porque mais e mais professores estão buscando a aposentadoria, funcionários também. Se em 18 de novembro ainda temos escolas em que os alunos ainda não tiveram um dia de aula de matemática porque falta professor até este momento, imagina no ano que vem, com essa debandada da aposentadoria”, afirmou.


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