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29 de outubro de 2019
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14:12

Para Manuela, eleição argentina trouxe duas lições à esquerda brasileira: unidade e mobilização

Por
Sul 21
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“É legítimo reagir e não tolerar mais nenhum tipo de violência simbólica e física contra nenhuma de nós”. (Foto: Eduardo Maretti)

Eduardo Maretti
Rede Brasil Atual

“Tenho expectativa de que, assim como os outros países da América Latina, nós vamos construir caminhos para a resistência popular com mobilização social e unidade política”, diz a ex-candidata à vice-presidência da República Manuela D’Ávila (PCdoB). Ela saiu de Buenos Aires nesta segunda-feira (28) para lançar seu novo livro, Por que lutamos? – Livro Sobre Amor e Liberdade (editora Planeta), em São Paulo. Na capital argentina, assistiu à vitória da chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner, eleita para dirigir o país pelos próximos quatro anos.

Para Manuela, a eleição argentina trouxe, basicamente, duas lições para os setores progressistas brasileiros: unidade e mobilização. “O movimento da Cristina Kirchner de não ser candidata à presidência foi um movimento de construção da unidade, de reconstrução de um campo político complexo”, diz. Perguntada sobre se a esquerda brasileira está unida, responde: “Pode estar mais”.

A autora e ex-deputada estadual e federal pelo Rio Grande do Sul diz que tem ouvido a pergunta sobre por que falar “tanto em amor”, no livro que está lançando. A obra, dirigida principalmente ao universo feminino jovem, “é um esforço de construir uma ponte com as pessoas que queiram atravessar com a gente e caminhar em direção a uma sociedade mais justa”, de acordo com ela.

Manuela acredita que a construção dessa ponte precisa de mais pessoas. “Não desisti das pessoas que não estão com a gente. Não nos interessa desistir delas pelo simples fato de que nós perdemos. Se não nos conformamos com a derrota, como eu não me conformei, precisamos buscar mais pessoas para estar com a gente”, afirma.

Olhando para a realidade, “parece óbvio que, se a gente não tentar ganhar mais ninguém para o nosso lado, a mudança não acontecerá”, pontua. “Queremos construir um mundo em que mulheres e homens sejam livres.”

Em sua opinião, o Brasil também vive na atualidade “a maior mobilização de mulheres da nossa história e isso não pode ser visto como uma questão irrelevante”. Nesse quadro, “talvez seja mais fácil dizer que é um livro para jovens” e que foi motivado pela conjuntura “muito particular” da história do país.

“Nós imaginamos que as pessoas mais jovens sabem menos. Mas as meninas mais jovens do movimento feminista sabem bem mais do que nós. É um livro para quem está chegando. Nós vivemos um momento em que as pessoas parecem saber tudo. Transformar uma sociedade estruturada a partir do machismo não é uma irrelevância.”

Na atual conjuntura histórica brasileira, diz, “o feminismo é vinculado ao ódio, à ideia de que odiamos os homens, a família, quem pensa diferente”. Por isso, Por que lutamos? une o amor e a militância por meio de uma narrativa didática e pessoal, em um tom de conversa. “É legítimo reagir e não tolerar mais nenhum tipo de violência simbólica e física contra nenhuma de nós.”

Para Manuela D’Ávila, o processo que levou Jair Bolsonaro à presidência da República levou também as pessoas a terem dificuldade em dialogar. “É difícil conversar, porque nós estamos armados, a conjuntura nos impõe que a gente reaja muitas vezes da maneira como somos tratados.”

Nesse contexto, o livro “é uma forma de resistir – diz – num país que já desistiu de conversar, desistiu dos livros e tenta acabar com as nossas liberdades e nossa cultura”.


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