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14 de outubro de 2019
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20:49

Em 1º cálculo próprio após fim da FEE, governo do RS divulga PIB com crescimento de 3,8%

Por
Luís Gomes
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Roberto Rocha, do DEE, conduziu a apresentação do PIB nesta segunda-feira (14)  | Foto: Luiza Castro/Sul21

Luís Eduardo Gomes

A Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag) divulgou nesta segunda-feira (14) que o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul cresceu 4,7% no segundo trimestre de 2019 na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já no acumulado do ano, o crescimento é de 3,8%. O resultado está sendo visto com uma combinação de otimismo e cautela pelo governo do Estado, uma vez que, ao mesmo tempo que representa um crescimento acima da média nacional (previsto para 1% em 2019), também é resultado de uma recuperação de perdas registradas em 2018.

O crescimento foi impulsionado pelo resultado do setor agropecuário, que cresceu 9,2% na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior e, no acumulado do ano, registra alta de 7,2%. Este resultado é impulsionado principalmente pelas safras de soja (+5,4%) e milho (+25,9%), que apresentaram recuperação ante as perdas provocadas pela estiagem que afetou as safras de 2018.

A indústria apresentou crescimento de 5,7% no acumulado de 12 meses e de 5,5% no acumulado do ano, influenciada principalmente pelos resultados do setor de transformação (+6,2% em 12 meses) e de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (16,1%). Segundo Rocha, o resultado também é resultado da recuperação do setor agrícola, bem como da recuperação das perdas causadas pela greve dos caminhoneiros em 2018.

Resultado do PIB por setor | Fonte: DEE/Seplag

Para além de recuperação de perdas, o setor da indústria teve como destaque positivo o crescimento de 40,6% na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, puxado pelo recorde de venda de caminhões no primeiro trimestre do ano. Já o destaque negativo ficou por conta do setor de bebidas (-18,1%), motivado pela queda na produção de uva pelo excesso de chuvas registradas em 2019. Já o setor de comércio apresentou crescimento mais modesto, 2% no acumulado de 12 meses e 1,8% no acumulado do ano. O destaque do setor foi o crescimento de 5,1% do setor de informática.

Economista do DEE que fez a apresentação do PIB, Roberto Rocha salienta que a economia gaúcha sofreu mais com a crise de 2015 do que a economia nacional, começou a recuperar antes, sofreu mais com a estiagem e a greve dos caminhoneiros no ano passado e agora voltou a crescer acima. Ele destaca que o resultado é influenciado por dois fatores. Um deles é um componentes cíclico, devido à base de comparação baixa no ano anterior, mas ressalta que há fatores próprios desse ano, como a elevação da taxa de investimento privado, que influenciou o crescimento industrial. “A nossa indústria já vem crescendo de forma bastante rápia desde o terceiro trimestre do ano anterior. Lógico que agora vai ser mais difícil crescer, mas já estamos num patamar melhor do que vínhamos observando nos últimos anos”, disse.

O economista destacou ainda que, em geral, o crescimento mais forte da agropecuária ocorre justamente no segundo trimestre dos anos. O terceiro trimestre costuma apresentar um desempenho mais forte da indústria e, no quarto, o comércio, puxado pelas vendas de final do ano. A expectativa é que o crescimento do PIB em 2019 deva ficar próximo dos 3,9% acumulados até agora, com tendência de fechar o ano em um número próximo. Ele alerta ainda que será difícil para o RS manter o crescimento no padrão deste segundo semestre porque os próximos terão uma base de comparação superior, uma vez que a economia gaúcha já vinha se recuperando desde a segunda metade do ano passado.

Secretária do Planejamento, Leany Lemos participou da apresentação do PIB | Foto: Luiza Castro/Sul21

A secretária estadual do Planejamento, Leany Lemos, avaliou o crescimento como positivo, embora ressaltando que tenha sido localizado na indústria metal-mecânica e na safra de soja, setores que passam por ajuste sazonal e, como adiantou nesta segunda, não devem ter o mesmo crescimento expressivo nos próximos indicadores. Este foi o melhor semestre desde o primeiro de 2013, quando o Estado também apresentou um forte crescimento do PIB seguindo uma prolongada estiagem em 2012.

“A gente tem um primeiro semestre que não era tão bom desde 2013. Acho que depois de dois anos de uma longa recessão e anos seguintes de baixo crescimento, é uma notícia boa. Especialmente quando comparado não só com os últimos anos no Rio Grande, mas também quando comparado com o Brasil. Acho tem um crescimento bem maior do que tem sido o crescimento brasileiro, o que é uma retomada da capacidade ociosa que havia na indústria. Vamos ver como isso se reflete para o futuro”, disse Lemos.

Crescimento do PIB do RS comparado com o do Brasil | Fonte: DEE/Seplag

A secretária diz que o resultado possibilita um certo otimismo de que está ocorrendo uma recuperação da economia, mas ressalta que é preciso compreender que uma parte do crescimento depende do Estado e outra da economia nacional, que ainda não está apresentando a recuperação que se imaginava. “É importante, é positivo, mas a gente tem que observar um pouco mais como os próximos trimestres vão se comportar”, afirmou.

Retomada do cálculo

Este é o primeiro indicador do PIB divulgado desde que o cálculo voltou a ser realizado internamente pelo governo do Estado e não mais pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que havia sido contratada em 2018 por um valor de R$ 3,3 milhões para produzir o dado. O indicador agora é produzido pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), órgão vinculado à Seplag que acolhe os servidores da extinta Fundação de Economia e Estatística (FEE), que voltou a utilizar dados e metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que não eram disponibilizados para aFipe.

Rocha explica que a metodologia utilizada agora retoma a forma como o PIB era calculado pela FEE. Ele destaca que os técnicos do DEE recalcularam a série histórica de 2016 para produzir o dado atual, o que, na prática, significa que os dados apresentados pela Fipe foram desconsiderados. O DEE usa a metodologia e a base de dados do IBGE, que não estavam disponíveis para a fundação.

“O dado da Fipe foi desenvolvido nos últimos trimestres por uma opção do governo. É uma série que os seus resultados têm que ser perguntados para a Fipe. A gente não se baseou neles porque a gente trabalha com uma metodologia distinta. Não é questão de desconsiderar, mas como são metodologias distintas, a gente tem que partir de um cálculo diferenciado. Da mesma forma que eles tiveram que fazer quando produziram o indicador deles”, afirmou.

Sobre a retomada do cálculo pelo Estado, a secretária Leany Lemos avaliou que os estados têm diversos modelos para a produção de estatística, sendo que 13 tem fundações aos moldes da FEE e 13 calculam o PIB por meio de órgãos internos do governo, como o atual DEE. “Eu acho que aqui no Rio Grande do Sul já existia o capital, já existiam pessoas capazes de fazer isso e não tinha porque a gente não testar a retomada. Nós reduzimos o contrato da Fipe, que continua com outros indicadores. Retiramos seis indicadores do contrato, uma redução de 25%”, disse.


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