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23 de agosto de 2019
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21:20

Freio a Bolsonaro em devastação da Amazônia deve vir de setor financeiro e do agronegócio

Por
Sul 21
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Posição do governo sobre a Amazônia deve ter recuo assim como ocorreu com embaixada em Tel Aviv, analisa professor de Relações Internacionais. Foto: Arquivo EBC

Da RBA

Para o professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), membro do grupo Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI), Giorgio Romano, são os setores financeiros e do agronegócio que deverão “frear” a sanha do presidente Jair Bolsonaro com relação a Amazônia, que corre o mundo pelos impactos do desmatamento. “Posso estar enganado, mas acho que os interesses econômicos vão se impor”, disse o docente, na manhã desta sexta-feira (23), aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

De acordo com o professor, longe de se tratar de uma preocupação pela preservação ambiental, esses setores têm interesse principalmente na pauta da exportação, como ocorreu com relação à embaixada brasileira em Israel.  Quando o presidente declarou sua disposição de mudar a representação da capital, Tel Aviv, para Jerusalém, a cidade mais sagrada para o mundo monoteísta, alvo de um longo conflito entre judaísmo e islamismo, não foram os fatores políticos, mas sim econômicos, que pesaram para que ele recuasse da decisão. Garantir seu apoio a Israel era o mesmo que perder o maior mercado brasileiro para a carne bovina brasileira, o dos países muçulmanos.

Não diferente das posições que se seguiram com relação à China, à invasão da Venezuela ou mesmo Irã, como avalia Romano.”O que a gente está vendo desde o início do governo é que cada vez que ala “olavobolsonarista” ou o próprio presidente, exageram nessa luta contra “globalismo”, “esquerdismo” e sei lá o quê, a ala econômica que sustenta esse governo – ou seja, os setores financeiros e do agronegócio –, eles se impõem e Bolsonaro dá um passo para trás”, lembra Giorgio.

Agora que o mundo olha com preocupação o aumento do desmatamento e o agravamento das queimada na região amazônica, o professor considera que esses setores devam estar manifestando sua preocupação ao presidente diante da ameaça dos países europeus, que já falam em barrar a entrada de produtos agrícolas brasileiros no continente, pelo descaso com as políticas de fiscalização e preservação ambiental, uma situação que já estava sendo denunciada pela liberação praticamente irrestrita de agrotóxicos para o os produtores brasileiros.

Essa disputa guarda ainda algumas contradições, de acordo com Romano. No jogo de atribuir culpas a terceiros, emplacado por Bolsonaro para se defender das acusações internacionais de responsabilidade sobre a devastação, o presidente diz estar defendendo a soberania, ao mesmo tempo em que coloca na esteira de privatizações ao menos 17 empresas estatais. No cenário europeu, a devastação da Amazônia, resultado de práticas agressivas do agronegócio, está longe de ser interessante aos países que consomem esses produtos, enquanto a entrada no Brasil, por meio da compra de empresas, não deixa de ser uma fonte de lucro.  “O acordo com a União Europeia expressa interesses reais, tanto do lado de lá como de cá, e essas empresas estão extremamente preocupados. Então é óbvio que nesse momento eles (agronegócio e setor financeiro) estão preocupados sobre onde vai parar essa loucura em torno do desmatamento.”


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