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26 de julho de 2019
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16:34

‘Meu nome não é empecilho para frente de esquerda, mas o PT precisa ceder’, diz Juliana Brizola 

Por
Luís Gomes
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‘Meu nome não é empecilho para frente de esquerda, mas o PT precisa ceder’, diz Juliana Brizola 
‘Meu nome não é empecilho para frente de esquerda, mas o PT precisa ceder’, diz Juliana Brizola 
Juliana Brizola é um dos nomes cotados para concorrer à Prefeitura de Porto Alegre em 2020 | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

A corrida para a sucessão do atual prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), já começa a ganhar força neste início de segundo semestre. No MDB, por exemplo, já há disputa quase pública entre Sebastião Melo e Valter Nagelstein por quem poderá ficar com a vaga do partido para o pleito. Já no campo da esquerda, conversas apontam para a possibilidade de uma composição entre os partidos de oposição ao governo Marchezan. Já lançada como pré-candidata por seu partido para a disputa, a deputada estadual Juliana Brizola (PDT) acredita que a união de partidos fortaleceria o campo e que não seria um empecilho para uma chamada “frente de esquerda”, mas avalia que, para isso ocorrer, talvez seja preciso que o PT abra mão do que ela considera ser uma posição histórica do partido na Capital: de querer a cabeça da chapa.

Juliana explica que o seu nome foi lançado para a disputa ainda em março, durante a convenção nacional do PDT, pelo presidente nacional do partido, Carlos Lupi, como parte de uma estratégia de ter nomes fortes em 2020 em preparação para uma nova candidatura presidencial de Ciro Gomes. A deputada diz que retomou as conversas com Lupi sobre o tema em maio e que tem sido perguntada com frequência a respeito.“Eu disse [para o Lupi] que se o partido entendesse que o meu nome era o melhor nome, eu aceitaria o desafio”, diz. “Não quer dizer que isso não seja algo que não possa ser repensado, mas hoje o que está posto é a preferência por candidaturas próprias”.

Candidata à vice-prefeita na chapa de Sebastião Melo (MDB) em 2016, ela avalia que a conjuntura atual é outra e se diz disposta a participar de conversas sobre a formação de uma possível frente de esquerda para disputar o Paço Municipal. Como deputada, Juliana foi uma das principais defensoras da saída do PDT do governo Sartori (MDB), confirmada em 2017, e sua posição em votações desde então tem sido praticamente as mesmas dos parlamentares do PT, PCdoB [na legislatura anterior] e do PSOL.

“Não tenho pensado diariamente na candidatura, porque penso que ainda é cedo para procurar aliados para esse tipo de conversa. Apesar de já ter sido procurada, na verdade, pelo Partido dos Trabalhadores através do deputado Henrique Fontana, quando ele colocou o desejo da construção de uma frente. O que eu entendo que seria muito bom para o nosso campo, que vive um momento de muitas dificuldades. Eu entendo que a nossa união talvez pudesse fazer uma chapa mais forte para chegar no segundo turno”, afirma, acrescentando que ouviu de Fontana que uma possibilidade discutida dentro do PT é o apoio à ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), mas que outra corrente interna do partido também defenderia candidatura própria.

Juliana Brizola (PDT) concorreu à vice-prefeita em 2016, mas avalia que a conjuntura mudou | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Juliana diz que a sua pré-candidatura não é um impeditivo para a formação da frente, mas argumenta que, nesse momento, essa possibilidade depende principalmente de o PT abrir mão da cabeça de chapa, o que acredita ser algo difícil, por “historicamente” o partido pedir apoio para seus candidatos e não apoiar aliados em Porto Alegre, citando como exemplo o caso de 2012, quando não apoiou Manuela.

“Eu entendo que o melhor seria a nossa união, mas isso não é algo automático. Isso é algo a ser construído. Eu, particularmente, não sei se é a opinião do meu partido ou não, entendo que talvez tenha chegado o momento de o PT dar uma cedida, dar um passo atrás, e apoiar alguém do campo. Por quê? Por tudo que está acontecendo, inclusive por viabilidade eleitoral. Quem seria o candidato do Partido dos Trabalhadores hoje? O Tarso não, o Olívio não, que seriam nomes de maior força. Coloca-se o Rossetto, o próprio Henrique Fontana, a deputada Sofia Cavedon. Todos nomes de muito preparo, tenho relação com eles todos, mas enxergo que, talvez, para que esse campo comece a ser construído, as vaidades têm que sair de cena. Mas, o PT, por ser o maior partido ainda do campo, por já ter governado durante anos o país e por ter, sim, em alguns momentos errado nas suas práticas, e sobretudo, na minha opinião, por não ter feito a autocrítica de todos os equívocos que cometeu, eu entendo que talvez tivesse que dar vez. Não estou falando particularmente do meu nome, porque não sei se isso vai ser possível, mas o próprio nome da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). É inimaginável o PT agora não querer apoiar a Manuela, ter gente que ainda defende uma candidatura própria que não seja o nome dela. Eu tenho dificuldade de compreender. Se eles têm dificuldade de apoiar a Manuela, eu não vejo qual a facilidade que eles têm de construir com alguém. Porque eles deveriam ter muita facilidade de construir com a Manuela, mas isso não ocorre”, diz.

Questionada se estaria disposta a compor uma chapa com Manuela, Juliana diz que está aberta a conversar, que já manteve conversas com a ex-deputada sobre o cenário eleitoral e que as duas combinaram de “tomar um café” quando a Assembleia Legislativa retornar do recesso, em agosto.

“Eu quero ouvir a deputada, saber da Manu o que ela pensa, se ela ainda está disposta a ser candidata. Como eu disse, meu nome não é empecilho para nada. Temos que pensar na atual realidade, que é muito dura, sobretudo aqui no RS, ela é muito pesada, porque ela é no governo federal, no governo estadual e no governo municipal. E, Porto Alegre, com toda a sua história como uma cidade progressista, uma cidade que já sediou o Fórum Social Mundial, poderia ser a primeira a fazer esse avanço e dar uma guinada, sair do campo conservador de direita, de perseguição aos servidores público, de sucateamento público, e mudar. Para isso, eu estou aberta a uma construção. A única coisa que eu entendo é que não dá para a gente começar conversando já com premissas postas. Tipo, tem que ser o PT cabeça de chapa. Não, tudo pode ser. Mas, para que isso aconteça, realmente tem que ter muita conversa e construção”, afirma.

Para a deputada, uma eventual frente de oposição ao Paço Municipal deve ter como pauta comum a recuperação dos serviços públicos e dos servidores públicos, que ela considera estarem sendo “perseguidos” pelo prefeito Marchezan.

“Nós temos que resgatar o serviço público de qualidade aqui na cidade de Porto Alegre e eu não vejo outro caminho que não seja valorizando o servidor público, não fazendo essa perseguição que hoje a Prefeitura faz com o servidor, seja com os professores, com os servidores da saúde. Ontem [a entrevista foi feita na quinta-feira], eu vi um vídeo chovendo dentro do HPS. Eu, como porto-alegrense, sinto a minha cidade abandonada. Resgatar aquele amor que o porto-alegrense tem pela sua cidade acho que passa muito pela questão do serviço público. Como a gente sabe, o atual prefeito é inimigo do servidor público, elegeu o servidor para todas as suas mazelas e problemáticas, e consequentemente quem mais sofre é a população”, afirma. “É claro que Porto Alegre tem problemas de mobilidade, problemas de segurança, mas a questão do serviço público me toca especialmente porque eu reparo que a cidade sucateou, nos últimos anos, demasiadamente e aí atinge a população que mais precisa, que é quem usa o serviço público”.


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