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9 de maio de 2019
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16:34

Mais de mil intelectuais assinam manifesto contra cortes nas ciências humanas

Por
Sul 21
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Mais de mil intelectuais assinam manifesto contra cortes nas ciências humanas
Mais de mil intelectuais assinam manifesto contra cortes nas ciências humanas
Pesquisadores da Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo, também assinaram o documento. Foto: Divulgação/Harvard

Do Brasil de Fato

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Educação Abraham Weintraub anunciaram, no dia 26 do mês passado, que o governo estudava “descentralizar” investimentos nas áreas de humanas, como filosofia e sociologia. Segundo eles, os recursos retirados iriam para cursos que geram “retorno imediato ao contribuinte”, como veterinária, engenharia e medicina.

Logo depois, no dia 30, o governo anunciaria também o corte de R$ 7,3 bino orçamento da educação federal, incluindo ensino básico, institutos e universidades federais.

Nesta segunda-feira (6), mais de mil pesquisadores de instituições de ensino renomadas no Brasil e no mundo, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e as universidades de Berkeley, Harvard, Oxford, Cambridge, Columbia, Yale e Sorbonne assinaram manifesto em repúdio ao anúncio do presidente.

O texto foi organizado pela organização Gender International, cujo objetivo é “combater a cruzada da ideologia de gênero”, em referência ao termo pejorativo utilizado pela direita para designar os estudos de gênero. Entre as signatárias do documento está a filósofa americana Judith Butler, professora da Universidade de Berkeley, na California e da European Graduate School, na Suíça.

Leio o manifesto na íntegra:

“No dia 29 de abril de 2019, o presidente da República do Brasil, Jair Bolsonaro, confirmou por Twitter o que no dia anterior já havia anunciado o Ministro da Educação, Abraham Weintraub: seu governo planeja reduzir o financiamento federal para programas acadêmicos em sociologia e filosofia. Segundo eles, nesses campos, futuros estudantes terão que pagar por sua própria formação. Enquanto o Ministro afirmava que sua proposta havia sido orientada por medidas tomadas no Japão em 2015, o Presidente insistia que a educação deve se concentrar na leitura, na redação e na aritmética e que, em lugar dos cursos na área de humanidades, o Estado deve investir nas áreas que tragam retornos imediatos para quem paga impostos, tais como veterinária, engenharia e medicina.

Nós, signatários dessa declaração, fazemos um alerta quanto às sérias consequências de tais medidas que, inclusive, levaram o governo do Japão a recuar de suas propostas depois de um amplo protesto nacional e internacional. Em primeiro lugar, por que a educação em geral e a educação superior, em particular, não trazem retornos imediatos; constituem um investimento no futuro das novas gerações. Segundo, as economias modernas não exigem apenas técnicos especializados; nossas sociedades precisam de cidadãs e cidadãos que tenham uma formação ampla e geral. Terceiro, nas nossas sociedades democráticas, os políticos não devem decidir o que é a boa ou a má ciência. A avaliação do conhecimento e de sua utilidade não pode ser conduzida de modo a conformar- se com as ideologias de quem está no poder.

As ciências sociais e as humanidades não são um luxo; pensar sobre o mundo e compreender nossas sociedades não devem ser privilégio dos mais ricos. Como acadêmicos dos mais diversos campos, estamos plenamente convencidos que nossas sociedades, incluindo o Brasil, precisam de mais e não menos educação. A inteligência coletiva é tanto um recurso econômico quanto um valor democrático”.


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