Últimas Notícias>Política
|
17 de maio de 2019
|
20:21

Decreto de Bolsonaro permite ao governo escolher equipes de direção das universidades

Por
Sul 21
[email protected]
Decreto de Bolsonaro permite ao governo escolher equipes de direção das universidades
Decreto de Bolsonaro permite ao governo escolher equipes de direção das universidades

Marcos Hermanson
Do Brasil de Fato

Por meio de decreto editado na quinta-feira (16), o presidente Jair Bolsonaro alterou diversas atribuições do governo em relação aos cargos do Poder Executivo federal. Entre outras mudanças, foi criado o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc).

Através da ferramenta, a Casa Civil, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Secretaria de Governo da Presidência da República poderão analisar os dados pessoais e a “vida pregressa” de cidadãos indicados a cargos de confiança e de direção no conjunto da administração federal.

Interferência nas instituições federais de ensino

Atualmente, a decisão final a respeito da nomeação de reitores das universidades federais é do presidente da República, que faz a escolha a partir de uma lista tríplice elaborada pela comunidade acadêmica.

Tradicionalmente, o reitor escolhido é o primeiro da lista, ou seja, o candidato mais votado nas consultas internas realizadas nas universidades. Esse gesto é considerado um sinal de respeito à autonomia universitária.

Com o decreto, cria-se uma “etapa” a mais. Agora a lista tríplice deverá passar pelo crivo da Secretaria de Governo – comandada pelo general Santos Cruz – e, só depois, irá para o presidente.

Mas não é essa a única alteração prevista. A partir de agora, pessoas nomeadas para cargos de direção interna das universidades, como pró-reitores, poderão ser impedidas de exercer suas atividades, conforme avaliação de sua “vida pregressa” e da “conveniência e oportunidade administrativa” da sua indicação.

Isso significa que também caberá ao governo federal decidir sobre a condução de funções essenciais nas instituições federais de ensino superior, antes definidas apenas pelos reitores e reitoras.

No cargo de pró-reitor de graduação, por exemplo, o professor nomeado lida com mudanças curriculares, interfere na elaboração da política pedagógica da universidade e discute a qualidade do ensino na instituição em que atua.

 

Trechos do Decreto Presidencial 9.794/2019

Críticas

Para o cientista político Francisco Fonseca, o decreto tem “feição de ditaduras” e “trata-se de atentado brutal à autonomia das universidades em gerir-se de acordo com suas competências. Ele argumenta também que a medida é “ingerência abusiva e essencialmente político/ideológica – distante de justificativas acadêmicas”.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), João Carlos Salles, disse que a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais (Andifes) ainda está analisando o decreto e seus possíveis impactos para possa tomar posição.

De início, entretanto, Salles afirma que a determinação parece representar uma “interferência na autonomia das universidades, quebrando com a relação de confiança para a montagem das equipes de direção das instituições”.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora