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16 de abril de 2019
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20:18

Por medo de nova greve, Bolsonaro anuncia medidas para agradar caminhoneiros

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Sul 21
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Por medo de nova greve, Bolsonaro anuncia medidas para agradar caminhoneiros
Por medo de nova greve, Bolsonaro anuncia medidas para agradar caminhoneiros
Governo teme nova paralisação e cede às demandas dos caminhoneiros (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Igor Carvalho
Do Brasil de Fato

Na esteira da recente interferência direta do presidente Jair Bolsonaro no preço do diesel, na última quinta-feira (11), o governo federal anunciou nesta terça-feira (16) um conjunto de medidas para agradar aos caminhoneiros. Com o pacote, o governo federal escancara a fobia de uma paralisação nacional da categoria, como aconteceu em maio de 2018.

Entre as medidas anunciadas pelo Palácio do Planalto, estão a liberação de R$ 2 bilhões para obras nas rodovias e mais R$ 500 milhões, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para linha de crédito que atenderá os caminhoneiros autônomos que queiram investir em manutenção dos caminhões e compra de pneus. O valor autorizado será de até R$ 30 mil por pessoa com um limite de dois veículos por CPF.

O governou também se comprometeu com a conclusão das obras da BR-163, fundamental para o setor do agronegócio na região Centro-Oeste, que pretende utilizar a rodovia para escoar sua produção. Além disso, o Planalto anunciou que irá pavimentar estradas e construir áreas de descansos nas vias.

Por conta da onipresença dos limites do orçamento de 2019 no dircurso oficial, jornalistas perguntaram ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, sobre a origem de tamanho investimento. A resposta foi inusitada. “A equipe de economia vai fazer, na coluna de despesas, um rateio entre todos [os ministérios], cada um vai dar uma contribuição para permitir melhora nas estradas brasileiras.”

“É muita confusão”

Ainda hoje, Bolsonaro se reunirá com Castelo Branco, presidente da Petrobras, e Paulo Guedes, ministro da Economia, para tratar da política de preços para os combustíveis. O valor do diesel, motivo da crise mais recente no coração do governo, não foi alvo de nenhuma das medidas do pacote anunciado para acalmar os caminhoneiros.

A imagem de Paulo Guedes na última quinta-feira (11), tentando driblar os jornalistas que o perguntavam sobre a interferência do governo no preço do diesel é emblemática do desarranjo que Bolsonaro provocou em sua equipe econômica com interferência na Petrobras. “Não tenho informações” e “não sei sobre o que estão falando”, repetia o ministro enquanto sumia apressado entre os microfones.

Para Giorgio Romano, professor da Universidade Federal do ABC (Ufabc) e membro do Observatório de Política Externa do Brasil (OPEB), o governo de Bolsonaro está perdido. “É muita confusão”, aponta o analista. “Foi muito feio tudo que aconteceu. Principalmente pela falta de transparência, porque no primeiro momento a Petrobras negou que tenha voltado atrás, isso foi pior ainda, porque depois o Bolsonaro falou publicamente que foi ele quem ligou para o presidente da Petrobras, o Castelo Branco, pedindo para segurar.”

José Maria Rangel, presidente da Federação Única dos Petroleiros, concorda com que o Palácio do Planalto está tomando medidas confusas. “É difícil você fazer uma previsão do que esse cara [Bolsonaro] pensa, tamanha a desorganização do governo. Ele foi eleito sem ter programa nenhum. Esse movimento que ele faz de segurar os preços é de uma certa forma para agradar a base social dele e mais nada.”

Para a ex-presidenta Dilma Rousseff, “trata-se de uma medida paliativa pois o problema é a submissão do governo aos desígnios do ‘deus-mercado’”. Em nota divulgada na última segunda-feira (15), a petista afirma que a questão “não é recuar do aumento de 5,7%. É impedir que a lógica da gestão da Petrobras seja submetida à lógica de curto prazo da especulação financeira.”

A interferência de Bolsonaro é tratada como “ponto fora da curva para atender uma demanda política” por Romano. “Eu acho que o Guedes vai ganhar essa parada e voltará atrás”, afirma o acadêmico sobre a gestão da Petrobras.

Rangel alerta para os riscos corridos pela estatal brasileira. “A população, por outro lado, se acostumou com a gasolina a R$ 5 e não se manifesta e nem critica. Nesse momento, eu acho que ele [Bolsonaro] consegue segurar os outros derivados. Agora, imagine você se tivermos um conflito maior na Venezuela e a Venezuela reduza sua produção drasticamente, o que fará o preço do barril subir, levando o preço da gasolina a R$ 6 ou R$ 7. O povo vai chiar. A política de preço da Petrobras é equivocada porque fatores externos influenciam aqui diretamente”, encerrou.


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