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5 de abril de 2019
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10:25

Com Haddad e Manuela, Caravana Lula Livre inicia nesta 6ª em Porto Alegre

Por
Luís Gomes
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Haddad e Manuela durante passagem da campanha presidencial por Porto Alegre em setembro de 2018. Eles voltam a participar de ato na cidade nesta sexta | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

O PT inicia nesta sexta-feira (5), em Porto Alegre, a Caravana Lula Livre com Fernando Haddad. Com inspiração nas diversas caravanas realizadas por Lula no passado, Haddad irá viajar Pelo país nos próximos meses com o objetivo de dialogar com a população sobre a prisão do ex-presidente, considerada política e arbitrária pelo partido, e sobre temas como a reforma da Previdência, as pautas de retirada de direitos propostas pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) e propostas alternativas ao que o governo federal está propondo.

Nesta sexta, ele será acompanhado em dois atos em Porto Alegre de sua ex-colega de chapa na eleição presidencial de 2018, Manuela D’Ávila (PCdoB). Às 16h, eles participam de um ato na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Às 18h, de uma caminhada do Largo Glênio Peres até a Assembleia Legislativa, onde ocorrerá um ato temático sobre a reforma da Previdência e favor do “Lula Livre”. No sábado (6), a caravana segue para Florianópolis (SC), onde ocorrerá um ato na escadaria da igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito e uma reunião com partidos de esquerda e movimentos sociais. No domingo (7), data em que se completa um ano da prisão do ex-presidente, estará em Curitiba (PR). A caravana será encerrada na capital paranaense com um ato na vigília Lula Livre, próxima a Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-presidente está preso.

A primeira caravana realizada por Lula foi realizada ainda na década de 1970, quando ele era líder sindical. Nos anos 1990, ele realizou a Caravana da Cidadania, talvez a mais famosa de suas viagens pelo Brasil. Ele também realizaria uma edição já na presidência, a Caravana das Águas, e a última, Lula pelo Brasil, entre o final de 2017 e o início de 2018.

Lula durante parada da caravana pelo RS, de 2018, em Ronda Alta | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Vice-presidente nacional do PT e coordenador da Caravana, Márcio Macedo diz que o formato atual diferencia-se das outras porque apenas Lula teria capacidade de mobilização para realizar uma viagem de ônibus por diversos estados do Brasil em sequência. “Ônibus na pista é um modelo que só o Lula é capaz de fazer nesse momento do Brasil. O que nós vamos fazer é caravanas alternadas, duas por mês, de dois a três estados por versão, revezando as regiões do País”.

Ele diz que a Caravana está sendo construída pelo PT com o apoio de movimentos sociais, mas que também conta com o apoio de partidos de esquerda, como PCdoB de Manuela D’Ávila. Para além da caravana, o dirigente petista diz que o partido está participando de várias frentes de enfrentamento ao governo Bolsonaro. Ele destaca que as fundações partidárias do PT, PCdoB, PSOL, PDT e PSB têm se reunido com frequência para estabelecer uma agenda comum de debates. Ao mesmo tempo, diz que bancadas de esquerda no Congresso têm se reunido para discutir um posicionamento frente às pautas do governo Bolsonaro, além de um calendário de atos que estão sendo realizados pelo País. Cita a visita recente de Boulos a Porto Alegre como um exemplo de mobilização construída pelos partidos.

Macedo destaca que a caravana tem como objetivo central denunciar a “prisão política, injusta e arbitrária” do ex-presidente, mas que também buscará dialogar com a população a respeito da reforma da Previdência e do governo Bolsonaro, aproveitando o que chamou de “ativo político” construído em torno de Fernando Haddad depois de ele chegar ao segundo turno em 2018 e receber 47 milhões de votos.

“Fazendo oposição a esse governo de Bolsonaro, que, além de acabar com a aposentadoria do povo, está entregando o patrimônio do País às multinacionais estrangeiras e ao mercado internacional. Então, é uma agenda que nós vamos aproveitar esse ativo político de Fernando Haddad, que saiu das últimas eleições com 47 milhões, para botar a serviço do povo brasileiro, a serviço do debate no País, pelos direitos individuais, pelas garantias constitucionais, pelo respeito à democracia, para corrigir essa distorção histórica da prisão do ex-presidente Lula. O que nós queremos é dialogar e debater com o País”, diz.

Márcio Macedo e Tarcísio Zimmermann estão coordenando a nova caravana do PT pelo País | Foto: Guilherme Santos/Sul21

O ex-deputado estadual Tarcísio Zimmermann, que coordena a passagem da Caravana Lula Livre pelo Rio Grande do Sul, diz que a passagem da caravana pelo Rio Grande do Sul também tem como temas a defesa de valores democráticos e do direito à aposentadoria. “Associar isso, o direito ao emprego, o direito à saúde, o direito à aposentadoria, à luta pela liberdade do Lula para nós é o caminho. Nós vamos ter a partir de agora um processo mais permanente de articulação de atividades”, diz.

Nesta quinta-feira (4), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, retirou da pauta da corte o julgamento sobre prisões após segunda instância, que estava marcado desde dezembro para o próximo dia 10 de abril e poderia resultar na soltura do ex-presidente. A decisão de Toffoli foi tomada com base em um pedido de adiamento feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), autora da ação que seria apreciada pelo Supremo. Paralelamente, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) pode julgar ainda em abril o recurso de Lula contra a condenação dele. A defesa do ex-presidente ainda aguarda resposta do pedido de anulação e que o caso seja enviado para ser julgado na Justiça Eleitoral.

Macedo, que tem visitado o ex-presidente desde que ele foi preso — sendo a última vez em fevereiro –, diz que Lula está indignado com a sua situação política e preocupado com o alto desemprego e o retorno da fome ao País. “O Lula é um homem com a serenidade dos inocentes e a indignação dos injustiçados”, diz.

Retomada no diálogo

Uma avaliação feita por analistas políticos é que a derrota de Fernando Haddad passou por um forte crescimento na sociedade brasileira do fenômeno chamado de anti-petismo. Macedo discorda dessa avaliação. A partir de artigo de Marcos Coimbra, do Vox Populi, ele diz que a população brasileira é estratifica em terços. Um terço que tem simpatia pelo PT e Lula, um terço conservador de direita e um terço que “fica observando e pode ir para um lado ou para outro”. “Houve uma migração disso das últimas eleições que o PT ganhou. Esse parte do eleitorado votou com o PT e em alguns momentos nos derrotou”, diz. Para ele, essa migração ocorreu por causa da criminalização da política, pelo ódio disseminado por setores da grande mídia, pelas fake news promovidas pela campanha de Bolsonaro por meio de WhatsApp.

Márcio Macedo avalia que caravana é oportunidade do PT dialogar com a população | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Na avaliação de Macedo, o PT não saiu como um grande derrotado das eleições, citando o fato de que foi o partido que elegeu mais governadores, fez a maior bancada federal no dia da eleição e contou com grandes bancadas estaduais, além dos 47 milhões de votos de Haddad no segundo turno. “Essa eleição foi eivada de fenômenos que a gente ainda não tinha testemunhado na democracia brasileira. Até agora não se fez nada com as fake news de Bolsonaro com dinheiro irregular, comprovado de caixa 2. Esses fenômenos me parece que tiveram um impacto maior nas eleições do que o chamado anti-petismo”, diz.

Contudo, ele acredita que a Caravana Lula Livre é uma forma de buscar o diálogo com o terço mais independente. “Um partido com as características do PT, os seus dirigentes, como eu, tem que rodar o Brasil, tem que conversar com as pessoas, tem que conversar através dos mecanismos que a tecnologia oferece, como as redes sociais, mas a presença física também é muito importante. O olho no olho nas ruas, nas praças, é fundamental. E Fernando Haddad está afim de fazer isso”, diz Macedo.

Zimmermann diz acreditar que muitas pessoas já estão reavaliando o apoio a Bolsonaro. “Na política, o tempo sempre é um elemento muito importante. As pessoas muito mais rapidamente do que nós imaginávamos estão revendo sua avaliação sobre o governo Bolsonaro, mesmo aqui no RS, onde houve uma onda bolsonarista muito forte, tu já tem, segundo as pesquisas, um percentual de ruim e péssimo superior ao de bom e ótimo. Isso significa que as pessoas estão revendo e isso vai nos abrir, naturalmente, uma condição de um diálogo menos travado, menos estereotipado, com a população”, diz.

Em razão do aniversário da prisão de Lula, este final de semana também será marcado por uma série de atos de apoio ao ex-presidente pelo País. No domingo, Porto Alegre também receberá uma edição do Festival Lula Livre, com uma série de apresentações musicais e artísticas no pátio do Memorial Luís Carlos Prestes.


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