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5 de fevereiro de 2019
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17:39

Entidades do mundo jurídico criticam pacote de Moro

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Sul 21
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Entidades do mundo jurídico criticam pacote de Moro
Entidades do mundo jurídico criticam pacote de Moro
Projeto pode fortalecer as facções criminosas, ao agravar condições que estão na base da violência. (Marcelo Camargo/Ag Brasil)

Rede Brasil Atual

“Inócuo”, “panfletário”, “flagrantemente inconstitucional”, “tecnicamente frágil”, “insuficiente”, foram alguns dos adjetivos e expressões utilizados por entidades ligadas ao mundo jurídico e à área de segurança pública para classificar o projeto de lei anticrime, anunciado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, nesta segunda-feira (4).

Órgãos como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) alegam que as várias mudanças na legislação propostas por Moro causam estranhamento porque foram feitas sem consulta pública ou participação de especialistas, limitam o direito de defesa e podem agravar a crise de segurança pública, devendo contribuir para o aumento das já elevadas taxas de encarceramento no Brasil.

Para o FBSP, “o projeto ignora temas importantes para o setor, como a reorganização federativa, o funcionamento das polícias – e suas carreiras e estruturas –, governança, gestão ou sistemas de informação ou inteligência. Também não há clareza sobre ações dos governos estaduais e da União no enfrentamento da corrupção policial, que é um dos aspectos que contribui para o surgimento de milícias”.

O Fórum, em nota, também afirma que o projeto de Moro não leva em conta planos anteriores elaborados pelo próprio governo federal, nem considera evidências empíricas sobre o funcionamento da segurança pública no país. “Por melhores que sejam as intenções, medidas simples e objetivas não são suficientes para resolver os problemas complexos do setor.”

O IDDD afirma ter recebido a proposta “com extrema preocupação”. “Para o Instituto, o pacote é inócuo, panfletário e, em diversos pontos, flagrantemente inconstitucional. Abre espaço, ainda, para o agravamento da violência estatal contra a população pobre e negra das periferias, alvo historicamente preferencial do sistema de justiça penal”, dizem em nota.

Em vez de enfrentar o crime, o IDDD diz que o projeto do ministro da Justiça, se aprovado como está, vai acabar por fortalecer as organizações criminosas, ao agravar “condições que estão na base da violência e do colapso do sistema prisional”.

O fortalecimento de “facções prisionais” também é apontado pelo IBCCrim como uma das consequências do pacote de Moro, pois, fomenta o “aprisionamento indiscriminado de sujeitos vulneráveis”. “Trata-se de um projeto tecnicamente frágil, por trazer previsões já declaradas inconstitucionais e/ou de difícil compreensão, além de ter como efeito previsível um aumento exponencial nas taxas de encarceramento, inclusive pelos delitos menos graves.”

Para o procurador de Justiça aposentado e um dos mais renomados juristas do Brasil, Afrânio Silva Jardim, a proposta de Moro de estabelecimento de acordo em troca da redução de pena – conhecido como plea bargain – é “absolutamente inconstitucional”. “Estes acordos são seletivos por natureza e as negociações fogem a qualquer controle eficaz. A ampliação da discricionariedade, no nosso processo penal, é algo absolutamente indesejável”, diz Jardim, para quem a proposta pode contribuir para que o Ministério Público seja transformado em um “verdadeiro monstro” que pode tragar o devido processo legal.

Já a OAB anunciou a formação de um grupo que vai analisar cada uma das proposições contidas no pacote apresentado por Moro. A entidade também afirma que alterações com “consequências profundas” devem ser realizadas “no devido tempo” e com “amplo debate entre os vários setores da sociedade”.

“Tão forte quanto o desejo de conter a escalada da violência e da impunidade é o desejo de realizarmos tal tarefa como uma sociedade justa, democrática e moderna que reconhece a importância dos direitos fundamentais e o respeito ao devido processo legal. Não podemos cair no equívoco de supor que será possível resolver os complexos problemas da segurança pública apenas com uma canetada”, afirmou, em nota, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.


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