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21 de dezembro de 2018
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19:57

RS terá primeira mulher chefe da Polícia Civil na história: “é uma quebra de paradigmas”

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Sul 21
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Delegada Nadine já foi primeira mulher a presidente Associação de Delegados | Foto: Asdep

Débora Fogliatto

Com 177 anos de instituição, a Polícia Civil gaúcha passará, a partir de 2019, a ser chefiada por uma mulher pela primeira vez na sua história. Nesta quinta-feira (20), o governador eleito Eduardo Leite (PSDB) anunciou o nome da delegada Nadine Anflor, ex-titular da Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (Deam) de Porto Alegre, para assumir o cargo no próximo ano. Ainda, o vice-governador eleito Ranolfo Vieira Júnio (PTB) acumulará o cargo de Secretário de Segurança neste primeiro ano.

“Parabéns para todas nós, mulheres”, respondeu a nova chefe da Polícia Civil ao ser parabenizada pelo cargo. “Realmente é simbólico, deveria ser mais natural. Mas é uma quebra de paradigmas, estou muito lisonjeada por poder representar as policiais civis do Rio Grande do Sul com esse cargo”, afirmou Nadine. Ela é delegada desde 2004 e também foi a primeira mulher a presidir a Associação dos Delegados de Polícia do RS (Asdep), da qual atualmente é 2º Vice-Presidente Financeira.

Natural de Getúlio Vargas, formada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de Passo Fundo, Nadine coordenou a Deam de Porto Alegre por seis anos. Agora, ela assume a tarefa de ser a primeira mulher a coordenar os 5.020 policiais civis gaúchos. “O primeiro desafio é romper qualquer barreira em relação a essa novidade de ter uma mulher à frente. É uma responsabilidade enorme que a gente assume com muita vontade de trabalhar, seguindo na linha de uma polícia que é a melhor do Brasil”, colocou.

Na visão da delegada, uma das ações a serem tomadas é a qualificação do atendimento ao público por parte dos policiais, a partir do próprio lema da instituição, que é “servir e proteger”. “Eu quero ter um olhar diferenciado para a qualidade e padronização do atendimento ao público. Nós somos servidores públicos, desejo ver uma Polícia Civil que sirva e atenda com cada vez mais qualidade. O nosso atendimento ao público pode melhorar ainda mais, quero motivar o servidor a bem atender e que a população se sinta cada vez mais acolhida”, afirmou.

Nadine em homenagem da Câmara de Vereadores em 2016 | Foto: Asdep

Essa acolhida aos cidadãos gaúchos também passa pela criação do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulneráveis, estabelecido na semana passada, que irá congregar as delegacias do Idoso, da Mulher e da Criança e do Adolescente. Ainda, será criada uma nova delegacia para combater a intolerância, segundo a delegada, que também integrará o Departamento. “Será focada em crimes de discriminação, como racismo, religião, orientação sexual. O objetivo é encontrar um espaço para que se possa atender em um plantão imediato essa população vulnerável, tendo um olhar mais acolhedor”, relata.

O combate à violência contra a mulher, especialidade de Nadine, também será um dos focos. “Temos visto muitos crimes de feminicídio, inclusive quando eu assumi na Deam nem existia essa nomenclatura. Há um sentimento de que a mulher pode denunciar, mas muitas vezes se elas não se sentem acolhidas, não conseguem denunciar e acabam sendo mortas. Vamos dar uma atenção nesse sentido”, pondera a delegada.

Ugeirm acredita em maior abertura ao diálogo

O vice-presidente do Sindicato dos Agentes da Polícia Civil do RS (Ugeirm), Fábio Castro, vê com otimismo o anúncio dos nomes da Nadine e Ranolfo para a pasta. “Tivemos o delegado Ranolfo como chefe de polícia no governo Tarso [Genro, PT] e mantivemos uma ótima relação, foi possível avançar em várias questões”, lembra. Ele destaca que a categoria sabe que há muitos problemas que devem ser resolvidos imediatamente, como a questão dos presos nas delegacias e o déficit histórico de efetivo.

A nova chefe da Polícia, inclusive, abordou o assunto dos presos nas delegacias em audiência pública no ano passado, após ter visitado a carceragem de uma delegacia de Polícia de Canoas, e demonstrou preocupação com a situação dos presos no local. A questão é uma das grandes bandeiras da Ugeirm, que denuncia situações precárias tanto para detentos quanto para os policiais.

Segundo Castro, a Ugeirm manteve boa relação com Nadine quando ela presidiu a Asdep. “Achamos importante ser a primeira mulher na história a comandar a Polícia civil, isso é bastante significativo. E tivemos uma relação boa quando ela foi presidente da Asdep, conseguimos levar adiante várias pautas, foi uma relação de parceria. A escolha nos deixou muito satisfeitos”, colocou, acrescentando que a expectativa é que seja possível estabelecer um diálogo.

“Vai ser uma relação respeitosa, de diálogo, parceria, mas também vamos cumprir papel de cobrar. Precisamos avançar em várias questões, superar problemas que foram gerados nos últimos 4 anos, além de problemas históricos na Polícia que a gente vê possibilidade de avançar”, acrescenta Castro. Para ele, a gestão atual não deixa “nenhum tipo de saudade”, por ter sido um governo truculento. “Reconhecemos que há uma crise muito grande e profunda, mas se houvesse diálogo, franqueza, coragem, a gente poderia ter evitado muitos embates”, aponta.

Coronel Ikeda segue na BM

Além da Nadine e Ranolfo para a Polícia Civil, Leite também anunciou a manutenção do atual comandante da Brigada Militar, tenente-coronel Mário Yukio Ikeda. Ainda, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) continua sendo comandado pela perita criminal Heloisa Helena Kuser.


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