Luís Eduardo Gomes
De cabeça erguida, é assim que o governador José Ivo Sartori (MDB) diz que encerrá o seu governo após ser derrotado em sua tentativa de reeleição para o candidato Eduardo Leite (PSDB). Com quase 100% das urnas apuradas, ele obteve 46,4% dos votos válidos, contra 53,6% do seu adversário. Em um breve pronunciamento realizado no Hotel Intercity, na zona norte de Porto Alegre, o governador apontou que o “desejo de renovação” foi decisivo na eleição, mas disse esperar que o tucano dê continuidade “às mudanças” iniciadas pelo seu governo.
Apesar de a pesquisa boca de urna apontar uma situação de empate técnico e o governador ter largado na frente nas primeiras parciais da apuração, logo após às 18h, quando ainda restavam mais de 30% das urnas a serem apuradas, o clima já era de consternação na sala do hotel Intercity reservada para o pronunciamento. À medida que as parciais iam se sucedendo e a diferença seguia aumentando, a esperança ia definhando e o clima já era de derrota. Por volta das 19h, o governador ligou para Leite para parabenizá-lo pela vitória. Alguns minutos mais tarde, chegou ao saguão do hotel sob aplausos de seus apoiadores, um grupo composto majoritariamente por assessores e membros de seu governo e parlamentares eleitos pelo MDB. Justificando rouquidão, disse que não ia responder a perguntas, fazendo apenas um breve pronunciamento.
Sartori abriu a sua fala dizendo que esse não era um “momento de tristeza” e que a campanha cumpriu seu papel. “Mesmo que não tenhamos sido nós os escolhidos no dia de hoje, acho que foi o RS que ganhou”, disse. Afirmou que, ao ligar para Leite, reconheceu o resultado com “fraternidade e humildade”. “O primeiro turno selecionou duas propostas, com algumas semelhanças, e foram dois grupos políticos que fizeram parte do nosso governo. Houve divergências, críticas, mas a eleição mostrou que o RS está no rumo certo e o retrocesso foi rejeitado”, afirmou.
O governador disse que cabe agora ao tucano ter espírito público para dar continuidade às mudanças realizadas em seu governo, mas reconhecendo que a população optou pela mudança. “O povo gaúcho entendeu que a mudança precisa de renovação e eu aceito a decisão da população”, disse. “O Eduardo, a partir de 1º de janeiro, será o governador de todos os gaúchos e poderá contar com a minha colaboração”.
Ele disse ainda que chega ao final da eleição com uma votação competitiva e de “cabeça erguida”. “Não foi pouco o que nós fizemos. Enfrentamos a maior crise econômica da história do nosso País, junto com a maior crise financeira do nosso Estado. Enfrentamos interesses, mexemos em zonas de conforto, tivemos uma oposição radical e permanente. Mesmo depois de tudo, estamos de pé, com a honra intacta. Sem a vitória eleitoral, mas com o respeito das gaúchas e dos gaúchos. Não há nada melhor do que poder dormir em paz com a nossa consciência e esse será o meu sono desta noite”, afirmou.
Após deixar o local, coube ao secretário-chefe da Casa Civil, Cleber Benvegnú responder perguntas da imprensa. Questionado sobre o que poderia ter sido diferente na campanha para evitar a derrota, ele preferiu atribuir o resultado ao desejo de renovação da população e refutou a afirmação de que poderia ter sido um erro colar a propaganda eleitoral à figura de Jair Bolsonaro (PSL), eleito presidente do Brasil. Benvegnú ainda disse que, se for do interesse do governador eleito, a transição poderá começar já a partir de amanhã.