Na Federasul, Sartori e Leite defendem o mesmo lado da moeda: do empresariado

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Luís Gomes
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Eduardo Leite (esq.) e José Ivo Sartori (dir.) se cumprimentam antes do debate sob os olhares da presidente da Federasul, Simone Leite (centro) | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Em casa, é assim que o governador José Ivo Sartori (MDB) disse que se sentia ao abrir a sua primeira fala no debate dos candidatos ao Piratini realizado pela Federasul (Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul), nesta quarta-feira (17), em Porto Alegre. A presidente da entidade, Simone Leite, exaltara momentos antes que essa era a primeira eleição em que os dois candidatos eram os representantes da classe produtiva e que “finalmente” poderia se escolher entre dois projetos diferentes, não entre dois lados.

Mas, o que se viu durante os seis blocos do debate é que as semelhanças são muito maiores do que as diferenças. Eduardo Leite (PSDB) se apresenta como um projeto novo, mas foca nas mesmas pautas que vêm sendo defendidas há quase quatro anos pelo Palácio Piratini: desburocratização, concessões de serviços para a iniciativa privada e privatizações.

Foram seis blocos de debate na Federasul. Excluindo o primeiro e último, dedicados a considerações iniciais e finais, os quatro do meio foram de perguntas elaboradas pela própria entidade e que ambos deveriam responder. Houve discordâncias na forma, poucas no conteúdo.

O ex-prefeito de Pelotas diz querer empregar um “novo ritmo” ao governo, apostando mais fortemente na retirada do estado da prestação de serviços e nas concessões para a iniciativa privada. Já Sartori prega a continuidade do seu projeto de ajuste fiscal e que o ritmo lento do qual seu governo é acusado, na verdade, seria uma segurança para evitar inadequações e ações na Justiça. “Devagar não, a gente faz aquilo que pode. Quem quiser mudar tudo, não muda nada”, defende-se o governador.

Eduardo Leite se apresenta como o novo | Foto: Joana Berwanger/Sul21

O tucano em nenhum momento questiona o ajuste, mas reclama do foco excessivo no controle das contas. “O que recupera o estado não é deixar de pagar a conta, é recuperar a economia”, diz. Sartori atribui a falta de capacidade de investimentos aos problemas da economia nacional. “Eu prefiro ficar com os pés na realidade”, afirma.

Leite abraça a ideia do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que vem sendo negociado por Sartori com o governo federal para garantir a suspensão do pagamento da dívida com a União por três anos, em troca de uma série de contrapartidas de ajuste fiscal. A principal delas, a privatização das estatais CEEE, CRM e Sulgás, também foi defendida pelo tucano, mas ele ressalva que a posição adotada pelo PSDB de votar contra a realização do plebiscito para a venda das empresas concomitantemente com as eleições deste ano. Segundo ele, isso geraria uma confusão na cabeça do eleitor. Ainda conclui que, em janeiro, quer o apoio do MDB para privatizá-las. Sartori aproveita o tópico para dizer que, com essa postura, os tucanos fizeram e repetiram no primeiro turno o posicionamento da oposição ao seu governo.

O governador quer ampliar as concessões de estradas para a iniciativa privada. Leite o acusa de não ter feito em seu governo e prega a extinção da EGR (Empresa Gaúcha de Rodovias). “O papel do estado não é ser o operador de uma empresa de rodovias”, diz. Já Sartori aponta que a EGR teve ações importantes e cita como um exemplo de que não tem preconceitos com ideias de adversários, visto que a estatal foi criada na gestão de Tarso Genro (PT).

José Ivo Sartori pede continuidade | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Leite quer desburocratizar. Sartori diz que já desburocratizou. Os dois são contra impostos. Mas o primeiro admite que vai manter a alíquota do ICMS, aumentada na atual gestão, por pelo menos mais dois anos. O governador reconhece que desagradou o empresariado ao aumentar impostos, mas também não nega que irá fazer de novo.

Os temas foram se sucedendo e algumas discordâncias foram ficando mais latentes, mas a intenção era a mesma: se apresentar como o candidato que será mais parceiro do empresariado. Um diz que, para isso, é preciso seguir um novo rumo. O outro diz que o que faltou ao Rio Grande do Sul ao longo do tempo é a continuidade.

A segurança ainda entrou na pauta do debate, mas ambos, apesar de se apresentarem como candidatos que terão a área como foco principal, não tiveram muito tempo para abordar o tema. Educação e saúde não tiveram vez. Os trabalhadores também não. Os servidores públicos tampouco.


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