Em Porto Alegre, Boulos pede voto ideológico no 1º turno: ‘É hora de depositar os nossos sonhos naquela urna’

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Luís Gomes
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Guilherme Boulos participa de comício na Esquina Democrática, em Porto Alegre, nesta segunda-feira (1) | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

A seis dias das eleições, Porto Alegre recebeu no início da noite desta segunda-feira (1) o comício do candidato do PSOL à presidência da República, Guilherme Boulos. Com a presença de centenas de militantes do partido e do PCB, que compõe a chapa no Estado, o evento do PSOL na Esquina Democrática foi marcado por saudações à mobilização de mulheres contra Jair Bolsonaro, realizada no último sábado (29), e por críticas ao candidato do PSL.

Boulos foi recebido pelos cantos da militância “eu não abro mão de um presidente que faz ocupação” e “ele não, Boulos sim”. O candidato iniciou a a sua fala lembrando da vereadora carioca assassinada Marielle Franco, pedindo para os presentes realizaram um minuto de aplausos.

Na sequência, afirmou que o pleito atual está sendo marcada pela disputa entre o “ódio e o medo”. “De um lado, diante da falência de um sistema que apodreceu, vem Jair Bolsonaro explorando o medo das pessoas, expondo uma política do atraso que retira os direitos dos trabalhadores”, disse. “Agora, com o ódio vem também o medo. A gente tem visto que muita gente com medo do atraso, do fascismo, tem recuado das suas posições em nome de um mal menor. Eu quero falar pra essas pessoas. Nós vamos estar na linha de frente pra derrotar o atraso e as políticas de Bolsonaro”.

O candidato também criticou o movimento por voto útil que sempre emerge na reta final das eleições e defendeu que o primeiro turno é o momento de deixar o “ódio e o medo” de lado e “depositar os nossos sonhos naquela urna”. “Primeiro turno é para votar no projeto que a gente acredita”, afirmou.

Apesar de demarcar em vários momentos o posicionamento antagônico a Bolsonaro, Boulos também alfinetou seus adversários do chamado “campo progressista”. “Nós não vamos renunciar à reforma agrária com a bancada ruralista para fazer média com a Kátia Abreu”, disse, referindo-se à candidata a vice na chapa de Ciro Gomes (PDT) e ex-ministra de governos do PT. “Quem votar 50 pode ter certeza que vai estar voltando na única chapa que não vai chamar o Meirelles, mas vai taxar o Meirelles”, complementou posteriormente.

Ao encerrar sua fala, Boulos pediu à militância que vá para a rua disputar votos, que discuta com o “tiozão no zap”, mas ponderou que a batalha de sua candidatura, que está na casa do 1% nas pesquisas de intenção de voto, vai além do resultado nas urnas. “Faltam seis dias para as eleições. O que a gente está construindo não se mede por percentual de pesquisa de intenção de voto. O que a gente está construindo se mede pela elevação da consciência da classe trabalhadora. O que a gente está fazendo é plantar semente”.

Antes de Boulos, a líder indígena e candidata a vice Sônia Guajajara também participou do comício, fazendo a defesa da pauta de direitos humanos. “Não podemos continuar aceitando que o Brasil é o país que mais mata defensores dos direitos indígenas, que mais mata defensores dos direitos humanos. Precisamos resistir. Mas, mais que resistir, precisamos ocupar os espaços de poder”, disse. “Não adianta falar dos povos indígenas no passado. Tem que falar que o agronegócio e as mineradoras estão nos matando”.

Candidata a vice-presidência pelo PSOL, Sônia Guajajara. Foto: Guilherme Santos/Sul21

“Ele não, Boulos sim”

Marcado para as 17h, o comício do PSOL na Esquina Democrática, maior ato da campanha do partido até agora na Capital, foi iniciar apenas depois das 18h, quando a chuva já ameaçava retornar ao Centro. Antes da fala de Boulos, uma série de lideranças locais do partido e candidatos ocuparam o palco.

Além das saudações constantes ao candidato à presidência pelo partido e à sua militância no movimento de ocupações urbanas, em diversos momentos também se repetiram menções ao ato #EleNão e ao candidato Jair Bolsonaro.

Candidato a deputado estadual, Pedro Ruas, referiu-se a Boulos como a “maior expressão da luta por moradia no Brasil”. Candidata à deputada federal, Fernanda Melchionna chamou Bolsonaro de “oportunista de quinta categoria que precisa ser derrotado nas urnas por uma nova esquerda que não se vendeu”.

Ex-candidata do partido à presidência e buscando uma cadeira na Assembleia Legislativa neste pleito, Luciana Genro defendeu o partido como o movimento “que vai estar na rua para derrotar o protofascismo” depois das eleições. “Nessa eleição, nos escombros do sistema político, surgiu a extrema direita. Esse setor representado no Bolsonaro quer garantir uma política econômica contra o povo e, se for possível, avançar no terreno militar”, disse o candidato a governador Roberto Robaina.

Boulos conversa com a imprensa antes de participar do comício | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Críticas a Toffoli

Antes de participar do comício, Boulos conversou brevemente com a imprensa ao lado do palco montado na Esquina Democrática. Questionado sobre a declaração dada nesta segunda-feira pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de que preferia chamar o golpe militar de “movimento de 64”, disse que tratava-se de algo “inaceitável”. “O que aconteceu em 1964 foi um golpe. G-O-L-P-E. Não adiantar querer mudar o nome. É lamentável que o presidente da Suprema Corte se coloque relativizando o golpe, daqui a pouco ele vai estar chamando tortura de pressão psicológica também?”, questionou.

Ele também criticou o poder judiciário ao ser questionado sobre a decisão do juiz Sergio Moro de divulgar a delação do ex-ministro Antônio Palocci. “Eu acho que o judiciário tem que ter isenção. Nós somos a favor de que o judiciário julgue, puna a corrupção. Agora, tem que fazer isso sem partidarizar e tem que fazer isso olhando o seu próprio quintal. O que não pode acontecer é o judiciário se colocar como moralizador da sociedade e ele próprio estar com o quintal sujo, o juiz recebendo auxílio moradia tendo casa, o juiz que é pego vendendo sentença e a punição dele é ter aposentadoria integral. Isso não pode acontecer. O judiciário não tem que intervir no processo eleitoral, que tem que ser definido pelo povo brasileiro”, disse.

Por outro lado, recusou-se a declarar que irá apoiar Fernando Haddad (PT) num eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro, defendendo que é preciso primeiro esperar o resultado do primeiro turno. No entanto, destacou que o partido sempre esteve do lado que lutou para “derrotar o atraso e o fascismo”. “O papel da bancada do PSOL no Congresso Nacional sempre foi uma atuação em defesa da democracia, dos direitos sociais e contra o atraso. O nosso papel é esse, tanto nas ruas, quanto nas urnas”, disse.

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Foto: Guilherme Santos/Sul21
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