Conheça o perfil e as tendências das bancadas gaúchas na Câmara e na Assembleia

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Conheça o perfil e as tendências das bancadas gaúchas na Câmara e na Assembleia
Conheça o perfil e as tendências das bancadas gaúchas na Câmara e na Assembleia
Foto: Luís Macedo/Câmara dos Deputados

Giovana Fleck

Com a definição das eleições proporcionais, os nomes eleitos para as bancadas gaúchas na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul reiteraram padrões do eleitorado durante a campanha. Enquanto a renovação da AL-RS será maior que na última legislatura, com 28 novos representantes no parlamento contra 27 reeleitos, na Câmara apenas um terço não renovará o mandato. No âmbito federal, são 11 nomes novos contra 19 deputados que se mantiveram no cargo. Ainda assim, o número é inferior à última eleição, quando 21 se reelegeram.

Para o cientista político e professor de Relações Internacionais e Jornalismo da Unisinos, Bruno Lima Rocha, o resultado não é surpreendente. “Há uma concentração maior de votos em partidos que podemos chamar de novíssima direita. O Novo e o PSL, que nunca tiveram representação no Legislativo, aumentaram a fragmentação do eleitorado”, define.

A professora do departamento de Ciência Política da UFRGS, Maria Izabel Noll faz uma análise parecida: “Historicamente, nossa Assembleia sempre foi resiliente quanto a fragmentação, algo que nos diferenciava do resto do Brasil. Agora, o cenário é de desintegração. Governar será muito complicado”, prevê.

As eleições de 2018 apresentaram uma novidade no cálculo de votos: o quociente eleitoral. Para se eleger, cada candidato precisou ter 10% do quociente de votos na legenda. Por estar atrelada ao modelo proporcional, a votação para o Legislativo depende dos votos para partidos ou coligações – o que define a quantidade de cadeiras que cada partido recebe no Parlamento e serão ocupadas pelos deputados mais votados.

“Se o voto fosse vinculado a bancada por legenda, é provável que as taxas de crescimento de partidos como o Novo e o PSL crescessem mais ainda”, aponta Lima Rocha. Ainda assim, ele reflete sobre a vantagem dos partidos já consolidados, como PT e MDB, que contarão, em 2019, com a média de um nome a menos por bancada. “Legendas mais experientes têm sempre vantagem – elas operam com o regimento embaixo do braço. Há mais capacidade de manobra e compromisso com as bases. São os oligarcas da política e pegam mais carona nas oportunidades.”

Introdução do PSL e do Novo

Com o primeiro turno encerrado, os resultados das eleições para o Legislativo mostram um Rio Grande do Sul engajado com o discurso de ordem pública, representado pelos candidatos mais votados para a Assembleia e a Câmara. Essa será a primeira legislatura em que o PSL consegue eleger bancadas entre deputados federais (4) e estaduais (3).

Para Bruno Lima Rocha, essa ascensão se dá a partir de uma estratégia do partido que chama de “atropelo da onda Bolsonaro”. “O Rio Grande do Sul está embalado em uma onda conservadora. Acredito que, a partir da próxima legislatura, os primeiros seis meses do ano deverão ecoar esses valores políticos. Na sequência, deveremos analisar as condições do governo, assim como o papel que a oposição ocupará.” Ainda assim, ele reconhece desconhecer a capacidade política dos eleitos pelo PSL, por cumprirem o primeiro mandato.

No âmbito estadual, o tenente-coronel Zucco e Ruy Irigaray, ambos do PSL, ocuparam as duas primeiras posições entre os mais votados. Os dois mantêm um discurso muito próximo do utilizado pelo candidato à presidência de seu partido, Jair Bolsonaro, com ênfase na segurança pública. Zucco é oficial do Comando Militar do Sul, mesma divisão do general Hamilton Mourão. Já Irigaray é criador do Armas S. A., movimento que busca o fim do estatuto do desarmamento. Capitão Macedo também foi um dos eleitos do partido para a AL-RS que compõe o quadro de ex-militares, defendendo uma agenda contra a corrupção e de incentivo à segurança pública.

O deputado federal gaúcho mais votado foi Marcel van Hattem (Novo), escolhido por 348.386 mil eleitores e único representante do partido na Câmara. Deputado estadual em 2014, entrou como primeiro suplente pelo PP, exercendo mandato de fevereiro de 2015 a março de 2018, quando saiu do partido para filiar-se ao Novo. No Estado, Fábio Ostermann – um dos fundadores do Novo – e Giuseppe Riesgo representarão a legenda. Os dois cumprirão o primeiro mandato. “Acredito que o PSL ainda terá uma margem de especulação maior que o Novo. O PSL é conservador em um primeiro momento, mas ultraliberal em seguida. Já o Novo é o contrário”, diz o cientista político.

Maria Izabel Noll acredita que, com a entrada do PSL e do Novo, a capacidade de negociação diminui entre os deputados gaúchos, especialmente pela posição de cada deputado em pautas específicas. “Quando tu tens um campo ideológico que responde a determinados conteúdos, comum em partidos como MDB, PP, PT, PDT e até o PTB, há um espectro político definido. O PSL e o Novo podem mudar votações para lados ainda não definidos.”

Governabilidade

A coligação ‘Rio Grande da Gente’, da qual Eduardo Leite faz parte, elegeu 8 deputados federais e 16 estaduais. Já a ‘Rio Grande no Rumo Certo’, de Sartori, conta com 8 federais e 14 estaduais. “A princípio, todos poderão se alinhar. Se somarmos 16 e 14, são 30 dos 55 deputados estaduais.  Na Assembleia, não deverá ser difícil formar uma maioria. No entanto, em um possível governo de Eduardo Leite (PSDB) ou de José Ivo Sartori (MDB), seria difícil votar pautas como, por exemplo, a privatização do Banrisul, algo que ambos já defenderam, por dependerem de uma posição programática concreta”, analisa Lima Rocha.

De acordo com o cientista político, independente do candidato eleito, a agenda da privatização deverá aparecer nos primeiros anos de governo. “A diferença será como eles irão barganhar com os deputados. Há, também, a incógnita do governo federal. Com uma eleição de Bolsonaro, o Estado deverá negociar o Regime de Recuperação Fiscal e o adiamento do pagamento da dívida. Porém, com o programa de governo do candidato, seria difícil que se abrisse margem para isso. Afinal, sem margem fiscal, ninguém governa.”

Maria Izabel resume afirmando que, com a fragmentação partidária, “perde-se o controle”. “O governador terá que negociar com partidos em diferentes polos do espectro político. O problema da fragmentação é que ele mostra que os partidos estão perdendo consistência. Sartori e Leite estão sem base partidária – o que foi o grande problema do governo Yeda [Crusius (PSDB). É uma massa de partidos que pode levar para qualquer lado.”

Tanto na Câmara como na Assembleia, destaca-se o número de ex-secretários da gestão Sartori. Os recém eleitos deputados federais Giovani Feltes, Pedro Westphalen, Mário Biolchi e Lucas Redecker ocuparam, respectivamente, as pastas da Fazenda, Transportes, Desenvolvimento Econômico e Minas e Energia. Entre os estaduais, estão Fábio Branco, Jurvir Costella e Ernani Pollo – que passaram pelas secretarias do Desenvolvimento, Turismo e Agricultura.

Bancadas

O PT segue como o partido com a maior bancada na Câmara dos Deputados, elegendo 5 deputados. Ele é seguido pelo MDB e pelo PP, com quatro parlamentares para cada legenda. Mesmo assim, os três partidos elegeram menos deputados na comparação com o último pleito. Em 2014, o PT garantiu oito cadeiras. MDB e PP, 5. O PDT conseguiu manter o número de três deputados, que também será o tamanho da bancada do PSL, legenda de Jair Bolsonaro.

Já na Assembleia Legislativa, entre os partidos com as maiores bancadas, o MDB manteve o número de parlamentares eleitos, enquanto o PT teve uma queda. Ambos garantiram oito nomes na AL-RS, porém, em 2014, o PT contava com 11 vagas.  A terceira maior representação na Assembleia será do PP, com seis deputados. O PSL garantiu quatro parlamentares, mesmo número de partidos tradicionais, como PSDB e PDT.

Representatividade

Entre as mulheres, apenas três se elegeram deputadas federais no Rio Grande do Sul: Liziane Bayer (PSB), Maria do rosário (PT) e Fernanda Melchionna (PSOL). Entre as estaduais, foram nove eleitas: Any Ortiz (PPS), Luciana Genro (PSOL), Silvana Covatti (PP), Kelly Moraes (PTB), Juliana Brizola (PDT), Franciane Bayer (PSB), Sofia CAvedon (PT), Fran Somensi (PRB) e Zilá Breitenbach (PSDB).

Ainda assim, o número é maior que na legislatura passada; quando foram eleitas apenas oito mulheres na soma entre deputas estaduais e federais. Em termos de diversidade racial, nenhum candidato negro foi eleito.

Para a professora de Ciência Política, a evolução tímida é um reflexo da obrigatoriedade de cotas estabelecida na última reforma política, porém, ainda assim, expôs a desigualdade dentro dos partidos. “A obrigatoriedade de representação de mulheres se encerra na candidatura. O partido decide em quem investir. O que observamos nessas eleições é que o partido prefere investir no candidato homem por uma falsa estimativa de retorno. A própria lógica das coligações incentiva isso”, explica.

Religião

O Rio Grande do Sul contará, também, com um total de quatro deputados vinculados à entidades religiosas. A deputada federal Liziane Bayer é pastora da Igreja da Graça e líder do movimento estadual Mulheres que Vencem. Sua irmã, Franciane Bayer ocupará uma das cadeiras na AL-RS. Atualmente, coordena com o marido o trabalho do ministério Homens que Vencem.

Ainda no Estado, Airton Lima (PR), é pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular é coordenador regional da religião em Cachoeira do Sul. Sérgio Peres (PRB) foi reeleito ao cargo de deputado estadual. No perfil de sua candidatura, é apresentado como sacerdote e destaca sua participação junto à comunidade cristã.

Confira os nomes de todos os deputados eleitos:
(*) Deputados reeleitos

(*) Deputados reeleitos


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