Candidatos ao Piratini criticam Sartori em debate centrado no regime de recuperação fiscal

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Sul 21
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Candidatos ao governo do Estado participaram do debate na Rádio Guaíba no início da tarde desta segunda-feira (17) | Foto: Reprodução Campanha Sartori/Twitter

Débora Fogliatto

Sete candidatos ao governo do Rio Grande do Sul participaram, nesta segunda-feira (17), de debate na Rádio Guaíba. Por mais de três horas, os candidatos fizeram e responderam perguntas focadas no Regime de Recuperação Fiscal (RRF), privatizações, finanças públicas, saúde, educação, políticas sociais e funcionalismo. O atual governador José Ivo Sartori (MDB), que aparece como líder nas pesquisas até agora, foi alvo de críticas dos outros candidatos, assim como Eduardo Leite (PSDB), segundo colocado em intenção de votos.

Mediado pelos jornalistas Juremir Machado e Taline Oppitz, o debate contou com a presença, além de Leite e Sartori, de Jairo Jorge (PDT), Júlio Flores, Mateus Bandeira (Novo), Miguel Rossetto (PT) e Roberto Robaina (PSOL). O debate foi focado na questão do RRF, plano do governo federal que se propõe a “socorrer” Estados com problemas financeiros, suspendendo o pagamento da dívida estadual por três anos, em troca de contrapartidas como a privatização de estatais e o congelamento de salários dos servidores.

As discordâncias se dão principalmente porque, caso o acordo seja assinado, quando a dívida voltar a ser paga, será com os juros corrigidos. Dentre os candidatos, ficou claro ao longo do debate que enquanto Leite e Bandeira concordam com Sartori em termos da necessidade de se assinar o acordo, os outros quatro candidatos são contrários a esse regime.

O tema veio longo na primeira pergunta do debate. O assunto foi definido por sorteio, assim como o candidato que deveria questionar outro, de sua escolha. Rossetto foi sorteado e se colocou de forma contrária à aderência ao regime. “A recuperação fiscal não recupera nada, apenas aprofunda. O senhor tem dito que esta lei permite contratar novos policiais e professores, mas, na minha opinião, não permite. O senhor vai assinar essa proposta ou vai contratar novos professores e policiais?”, questionou ao governador Sartori.

Jairo Jorge e Sartori no debate da Federasul | Foto: Joana Berwanger/Sul21

O candidato do MDB defendeu a adesão pelo seu governo, afirmando ter feito “mudanças para equilibrar as finanças”. “O Regime de Recuperação Fiscal permite sim contratar funcionários, especialmente na área de saúde, educação, segurança, desde que haja a reserva. O plano é justamente aderir ao regime de recuperação fiscal”, reiterou o governador, sendo rebatido por Rossetto, que colocou que o acordo da recuperação fiscal proíbe contratações. Na tréplica, Sartori disse que há brecha para as contratações e que “o regime de recuperação fiscal não foi assinado ainda”.

O assunto voltou a surgir no segundo bloco, quando Júlio Flores questionou Sartori novamente sobre o tema, o qual chamou de um “crime” contra o Estado. O governador voltou a defender suas medidas, dizendo que mudanças foram feitas “sem medo do desgaste”. “Na verdade você olha só para a despesa, enquanto há uma farra das isenções fiscais, são 15 bilhões de reais. Cadê o combate à sonegação? Tu só olhas pra cima, pros ricos”, criticou Júlio, ao que Sartori respondeu que o seu governo foi o que mais combateu a sonegação.

Mesmo quando o tema das perguntas era outro, a questão da recuperação fiscal voltava a aparecer. Ao questionar Rossetto sobre o funcionalismo, Sartori colocou novamente que esta era a única forma de melhorar as finanças do Estado, apontando que “ninguém nega as dificuldades do funcionalismo”. “A adesão a esse regime obriga o Rio Grande a vender o seu patrimônio e nós não ganhamos nada com isso. Os recursos que não serão pagos nos primeiros três anos serão pagos com juros e correção monetária”, criticou o petista.

Ao questionar Mateus Bandeira sobre as finanças públicas, Roberto Robaina disse que o regime torna a situação do Estado “ainda pior”. O candidato do Novo fez uma analogia com um “paciente que está à beira da morte” e que precisaria seguir “rigorosamente um tratamento para manter sua saúde”, colocando o regime de recuperação fiscal como a “única saída”. Robaina rebateu que a dívida já foi paga, lembrando de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). “O Sartori segue o modelo do MDB, do Temer, que quer fazer com que o Estado siga sangrando”, criticou.

Ao falar de segurança, Jairo Jorge lembrou que o RRF promoveria um congelamento nas contratações de órgãos como a Brigada Militar, a Polícia Civil e a Superintendência de Serviços Prisionais (Susepe). “O regime de recuperação fiscal é um plano do governo federal para estados em crise. Não é um plano do governador, mas da União de socorro aos estados. Vamos fazer um incremento do efetivo de servidores da segurança desde o primeiro ano”, respondeu Leite. O ex-prefeito de Canoas se colocou como experiente ao propor uma negociação com o novo presidente, mencionando o candidato de seu partido ao governo federal, Ciro Gomes.

Roberto Robaina e Eduardo Leite em debate promovido pelo Cpers | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Privatizações

Outro tema bastante abordado no debate foram as privatizações. O primeiro a falar do assunto foi Eduardo Leite, que defendeu a necessidade de se privatizar certos órgãos, como a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), a Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e a Sulgás – Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul. Em pergunta direcionada a Rossetto, ele se colocou contrário à privatização do Banrisul.

“O partido de Leite foi o responsável pela gestão da CEEE, CRM e Sulgás durante o governo Sartori. Portanto, se há má gestão das empresas estatais, foi responsabilidade do PSDB. Eles governam mal e agora buscam defender a privatização. A Yeda [Crusius, do PSDB, ex-governadora] também entrou falando que não ia privatizar tudo, essa política não interessa ao povo gaúcho”, criticou Rossetto.

Jairo Jorge lembrou que quando Sartori se elegeu, ele “não falava de privatização” e afirmou que, após a extinção de diversas fundações, o “problema continua o mesmo”, acusando o governo de querer impor as privatizações “goela abaixo”. Da mesma forma, Robaina criticou o governador, apontando que o MDB “no plano nacional tem sido um desastre para o País”. “Além de não cobrar sonegadores, o MDB quer o patrimônio, por isso tentaram privatizar o Banrisul, é um governo entreguista, como dizia o Brizola. Eles que têm governado o País todos os anos. Sabemos que PSDB e PMDB têm a mesma linha”, apontou.

Já Sartori defendeu a realização de um plebiscito, o qual afirma que gostaria que fosse realizado, mas cujo projeto foi derrubado pela Assembleia Legislativa. “Todos aqui foram contrários, retiraram o direito da população dizer que Estado elas querem. Não tem que ter medo de mudar, a realidade financeira é uma só. Se falta coragem de mudar a gente não realiza transformação”, colocou.

Robaina, Júlio Flores e Miguel Rossetto em debate no  DCE da UFRGS | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Fraude de exames em Pelotas

Segundo colocado nas pesquisas de opinião até aqui, Eduardo Leite, ex-prefeito de Pelotas, foi também alvo de críticas por parte dos demais candidatos, especialmente devido às denúncias de fraudes em exames preventivos de colo do útero feitos em sua cidade. Jairo Jorge foi o primeiro a abordar o assunto, lembrando que entre 2014 e 2017, período em que o tucano era prefeito, foram identificados exames com alterações em Pelotas. “Em janeiro de 2015, uma médica informou à Prefeitura sobre este erro. Em 2016, a equipe da UBS fez uma ata e informou a Prefeitura”, colocou, questionando Mateus Bandeira, também pelotense, sobre como ele via a questão.

Bandeira, que já atacou Leite em outras ocasiões, mencionou que a administração pública precisaria fiscalizar o serviço da empresa que realiza o exame. “A gestão se exime da responsabilidade pela vida das pessoas, dizendo que é um problema do laboratório, mas é problema do prefeito sim”, criticou. Jairo replicou lembrando dos investimentos que fez em Canoas em termos de saúde da mulher.

Ambos mencionaram o fato de Leite ser o candidato mais jovem — ele tem 33 anos — em suas críticas. “Às vezes a inexperiência custa caro, eu tenho experiência para mudar, eu só estou propondo aquilo que sei que posso fazer”, disse Jairo. Na tréplica, Bandeira voltou a se colocar como um candidato com experiência no setor privado. “A velha política vive daqueles que são políticos profissionais, mesmo aqueles que são jovens, sem nunca ter nem gerado uma carteira de trabalho, passado pelo setor privado”, colocou, alfinetando Leite.

Quando teve a oportunidade de perguntar sobre saúde, o próprio Leite se dirigiu a Júlio Flores, afirmando que o candidato do PSTU havia feito uma “grave acusação” ao dizer, em outras ocasiões, que um “sorteio” havia sido feito nos exames. “O governo tratou com descaso essa situação, tem atas, relatórios, de que a Prefeitura foi avisada, será que tu não é cúmplice pelo menos?”, rebateu Júlio. O ex-prefeito disse que os demais candidatos querem “atacar quem está crescendo nas pesquisas” e que a denúncia foi feita contra o laboratório e está sendo investigada. Para Flores, “a política do PSDB é a mesma de todos os demais, pensar apenas nos grandes e prejudicar os trabalhadores”.

Considerações finais

No último bloco, os candidatos fizeram suas considerações finais, situação em que Jairo Jorge lembrou de figuras históricas do PDT, como Leonel Brizola e afirmou que “servidor público não é problema, é solução”. Sartori afirmou que foi sincero em suas intenções de privatizar, colocando que “se tivéssemos intenção de privatizar algum outro órgão, teríamos apresentado projeto para a a Assembleia”. Rossetto mencionou ter sido vice-governador de Olívio Dutra e se colocou como contrário a privatizações e atrasos de salários. “Queremos um Rio Grande mais justo para todos e com esperança, deixar no passado esse pesadelo dos governos Temer e Sartori”, disse.

Bandeira voltou a criticar Leite nas entrelinhas, falando do prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan Jr, também do PSDB. “Não é a primeira vez que um político jovem, de boa aparência, cheio de promessas ilude a população”, afirmou. Júlio e Robaina se colocaram como candidatos preocupados com as minorias e contrários às isenções fiscais para as grandes empresas. Já Leite mencionou ter experiência como gestor público e disse que ataques a ele acontecem por seu crescimento nas pesquisas.


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