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10 de agosto de 2018
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09:43

Primeiro debate das eleições teve tom moderado; ‘live’ de Lula traz depoimentos do ex-presidente

Por
Sul 21
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Primeiro debate das eleições teve tom moderado; ‘live’ de Lula traz depoimentos do ex-presidente
Primeiro debate das eleições teve tom moderado; ‘live’ de Lula traz depoimentos do ex-presidente
Oito candidatos à Presidência da República participaram do primeiro debate do ano, na TV Bandeirantes. (Reprodução/Youtube)

Da Redação

As eleições de 2018 começaram nesta quinta-feira (9). Oito candidatos à Presidência da República participaram do primeiro debate do ano, na TV Bandeirantes, discutindo desde economia e desemprego a aborto, feminicídio, alianças partidárias e ligações com o Foro de São Paulo. Com cinco estreantes na disputa, os candidatos aproveitaram para se apresentar e reforçaram marcas que já tentavam vender em entrevistas, nas últimas semanas.

Entre os presentes: Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (PMDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba desde o dia 7 de abril, teve a participação negada pela Justiça. Durante três horas, eles responderam a perguntas de leitores do jornal Metro, de outros candidatos e de jornalistas do grupo Bandeirantes.

A grande surpresa da noite ficou por conta do candidato do Patriotas, o deputado federal pelo Rio de Janeiro, Cabo Daciolo. O nome do parlamentar se tornou o 3º assunto mais buscado no Google Brasil, enquanto transcorria o debate. Se Jair Bolsonaro variou o tom entre contido com alguns rompantes, Daciolo – o homem que prometeu correr ao redor do Congresso Nacional cinco vezes para expulsar satanás – abraçou todas as polêmicas que costumam circular entre eleitores do adversário. Fraude nas urnas eletrônicas, ataque a pauta de direitos humanos, falas sobre policiais militares, armamento para a população, tudo dosado a intervenções de “pela honra e glória do Senhor”. Nos argumentos finais, Daciolo leu um trecho da Bíblia e lembrou de Enéas Carneiro (Prona), quem ele defende que estava certo em tudo o que dizia.

Num bloco de perguntas entre os candidatos, escolhendo Ciro Gomes, ele surpreendeu o candidato do PDT, ao perguntar sobre o Foro de São Paulo e afirmar que Ciro era seu fundador. Quando a jornalista Lana Canepa perguntou sobre medidas para reduzir as taxas crescentes de feminicídio, Daciolo disparou: “O grande problema que estamos enfrentando hoje é falta de amor, principalmente a falta de amor às mulheres”. Ele citou o caso da advogada assassinada no Paraná, pelo marido, no dia 22 de julho. “É interessante dizer que o problema hoje está em cima da segurança e de dar educação para nosso povo. Aí começa a transformar a nação”.

O bombeiro militar foi expulso do PSOL em 2015 por infidelidade partidária, depois de defender policiais militares envolvidos no desaparecimento do pedreiro Amarildo, na Rocinha, e sugerir a “PEC dos Apóstolos”, que pretendia alterar a frase “todo poder emana do povo”, para “todo poder emana de Deus”, na Constituição brasileira. Contrariando a ideia de Estado laico. Líder de uma greve da sua categoria em 2011, ele foi eleito pela primeira vez em 2014.

À pergunta assertiva de Daciolo, Ciro respondeu com bom humor. “Meu caro, estou lhe conhecendo hoje e pelo visto você também não me conhece. Eu não sei o que é isso [o Foro de SP]”. Em seguida, ele continuou, rindo: “Democracia é uma delícia, uma beleza, dei a vida inteira a ela e continuarei dando. Mas ela tem certos custos. Vou aproveitar esses 40 segundos para falar de quatro medidas para retomar o crescimento do Brasil”.

O candidato do PDT fez uma dobradinha com Marina Silva (Rede) sobre a transposição do Rio São Francisco, foi diplomático com outros candidatos, chamado Alckmin de amigo em alguns momentos, mas ficou esquecido no debate, sendo chamado poucas vezes pelos adversários. Quando respondeu junto ao ex-governador de São Paulo, sobre reforma trabalhista, Ciro defendeu a revogação. Encarando Bolsonaro, voltou a falar da sua proposta para resolver a lista de 60 milhões de brasileiros com nome sujo no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

“A divida é grande de fato, mas a média é de 1,4 mil reais por pessoa. Acha que não dá pra pegar um conjunto de providências e negociando outros prazos, com titulares desses créditos? Eu sei fazer, fique tranquilo que vou tirar seu nome do SPC”, afirmou o ex-ministro de Itamar Franco e Lula. Bolsonaro, que já declarou ter votado no pedetista no passado, respondeu: “É uma conta bilionária, se o Ciro conseguir fazer isso daí, você vai ser santo Ciro. Boa sorte, Ciro! Deus te ajude aí”.

Os dois se enfrentaram também na discussão de educação. Enquanto Bolsonaro disse que sua proposta é abrir uma escola militar em cada capital brasileira que ainda não as tenha, Ciro respondeu citando os números do Ceará, que tem 77 das 100 melhores escolas básicas do Brasil, além de ter 40 alunos em 100 vagas disputadas no ITA e no IME, “sem precisar lei do chicote brabo nas escolas”. “O que resolve mesmo é mudança no padrão de ensino, substituir decoreba, ensinar aluno a pensar”, analisou.

Bolsonaro levou o chicote ao sentido literal. Respondendo a Ciro, declarou: “Nenhum pai, nenhuma mãe quer tirar o filho de [escola militar]. Com disciplina, sem chicote, chegaremos lá”. Mas, de modo geral, o deputado tentou conter ao máximo o temperamento explosivo que faz sucesso nas redes sociais. Logo na primeira pergunta, quando Guilherme Boulos (PSOL) começou falando sobre ele ser “machista, racista, homofóbico”, ter permanecido anos no PP de Paulo Maluf e recebido auxílio-moradia, apesar do discurso ético, e ter empregado em seu gabinete de Brasília, uma funcionária descoberta trabalhando no Rio, pela Folha de S. Paulo, ele abriu mão de responder à tréplica, chamando Boulos de “desqualificado”.

Em outra troca com Boulos, no 4º bloco de programa, quando o psolista disse que ele fora expulso do Exército, Bolsonaro pediu o primeiro direito de resposta da noite. Ele explicou que chegou ao Exército com 17 anos e saiu para ser vereador, no final dos anos 1980. Negou que tenha colocado bombas em quartéis ou sido expulso da corporação. Mais tarde, Bolsonaro pediu novamente direito de resposta para esclarecer o que achava que estava “distorcido” na fala de outro candidato e não aceitou muito bem quando ouviu um não. Nas falas mais pontuais, ele sempre emendava “O único que pode romper essa barreira, essa máquina, o establishment, é Jair Bolsonaro”.

Fechado com o Centrão, com o maior tempo de TV, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), foi o mais procurado pelos adversários. A maioria pedia para perguntar a ele. Alckmin citou São Paulo como exemplo para área de segurança pública, usou a expressão “bolsa banqueiro” e defendeu a Operação Lava Jato: “Ela é uma conquista da sociedade, não há nenhuma hipótese de terminar, precisamos aprofundá-la, para combater o chamado crime de colarinho branco”.

A declaração, porém, o colocou em conflito com um ex-membro histórico de seu partido. O senador Álvaro Dias migrou para o PV e depois para o Podemos, onde está com a candidatura atual. Ex-tucano, Dias cita de cabeça em entrevistas avaliações feitas por TVs e jornais sobre seu governo no Paraná, mas não o nome do ex-partido. À declaração de Alckmin, ele emendou: “Eu peço mais uma vez ao povo brasileiro, abra o olho. Quando alguém aparece falando em combater a corrupção, há que se perguntar, onde ele estava quando o Brasil estava sendo assaltado”.

O senador se coloco no páreo como candidato da Lava Jato. Falou sobre a proposta de colocar o juiz Sérgio Moro como seu ministro da Justiça, adotar as “10 medidas contra a corrupção”, que viraram uma das plataformas do promotor Deltan Dallagnol, o mesmo que apresentou o power point para provar que Lula era “chefe de uma organização criminosa”.

Num fogo rápido com Marina, onde ela perguntou sobre sobre as alianças com partidos do Centrão, com investigações, processos e condenações e lembrou valores éticos; Alckmin respondeu que ela mesma havia rompido com o PV, por diferenças irreconciliáveis, e a agora tinha o partido como vice. O tucano também trocou farpas com o ex-ministro da Fazenda de Michel Temer (PMDB) e ex-presidente do Banco Central, no primeiro governo Lula, Henrique Meirelles, outro estreante na disputa. Numa pergunta sobre o programa Bolsa Família, Alckmin disse que é “um ótimo programa” e que pretende ampliá-lo. Usando recursos do BNDES, principalmente no nordeste e no semiárido. Meirelles retrucou: “Surpreendente, seu partido chamava o Bolsa Família de ‘bolsa esmola’. Um de seus maiores aliados, o DEM, dizia que ele ‘escraviza as pessoas’”.

Em outra pergunta da jornalista Lana Canepa, Boulos levou Marina a revelar uma nova posição sobre o aborto. Evangélica, a candidata disse que colocaria a questão em plebiscito. Já que o tema era “de natureza difícil e complexa”. “O que todos queremos é que nenhuma mulher possa fazer aborto, porque não pode ser advogado como método contraceptivo. Queremos planejamento familiar, para que nenhuma mulher tenha que tomar medidas extremas. Defendo o que esta previsto em lei, se for para ampliar, que se faça um plebiscito”.

Boulos, mais à vontade em termos que são naturais ao PSOL, respondeu: “O que defendemos é que não continuem sendo presas ou mortas, por não terem situações adequadas. Mulheres pobres e negras, porque mulheres ricas fazem aborto seguro. No nosso governo, aborto não vai ser tema do código penal, mas de sistema de saúde”. Ele citou Marielle Franco, a vereadora do seu partido executada no Rio De Janeiro, em março, como referência neste e em vários momentos do debate. “Assegurar direito a aborto seria um caminho para enfrentar o machismo estrutural no país. É muito cômodo negar um direito às mulheres e continuar permitindo que homens abandonem seus filhos”.

A Meirelles, Boulos elaborou uma pergunta o chamando de “candidato dos bancos”. “Meirelles é o melhor exemplo da porta giratória. É raposa cuidando do galinheiro, é isso que faz o Estado brasileiro um Robin Hood ao contrário”.

O candidato do governo Michel Temer (PMDB), tentou responder se associando ao governo Lula, dizendo que no Banco Central conseguiu derrubar juros. “O candidato, de novo, falta ter informações básicas. Ele não sabe que durante o período que eu estava na iniciativa privada, eu era presidente de um dos bancos de mais respeito do mundo. O importante é competência e honestidade, porque eu sou um candidato sem processos”, completou.


Debate com Lula

A ausência do ex-presidente e candidato oficial do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, foi salientada por Guilherme Boulos (PSOL), logo no início de sua fala. Enquanto isso, longe dos estúdios da Band, a chapa de Lula, representada pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e pela deputada Manuela D´Ávila, fazia seu próprio debate.

Na tarde desta quinta-feira, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) rejeitou um novo recurso do PT para que Lula pudesse participar do debate realizado esta noite. A presença de Haddad, que vem sendo apresentado como vice de Lula, foi rejeitada por outros candidatos, por ele não ser presidenciável. Assim, ele e Manuela abriram mão de assistir ao debate na plateia.

A presidente nacional do PT e senadora Gleisi criticou a sentença do TRF4, ironizou o fato de que a desembargadora responsável teria dito que o Judiciário gasta recursos escassos para responder às ações ingressadas pelo PT, para que Lula participe de debates. “Ela deveria responder por que eles estão pedindo 17% de aumento, então, né?”, completou a senadora.

A live do PT, com a presença de Gleisi, do coordenador da campanha, José Sergio Gabrielli, teve média de 8 mil espectadores na página oficial de Lula. Segundo a mediadora, em todas as páginas que a transmitiam simultaneamente, chegou a 50 mil pessoas.

“Não deixaram o presidente Lula estar lá debatendo, afinal, estamos falando de uma candidatura que representa 30% do eleitorado brasileiro (…) Acho importante falarmos isso aqui também, para TV não achar que é normal não ter o candidato que está a frente a pesquisas”, disse Gleisi.

Haddad respondeu que “eles são contra a censura, quando interessa”. “Lula está disponível para qualquer debate, é bom que se diga. Para qualquer entrevista, qualquer público, qualquer fórum. Aliás, hoje saiu uma carta de juristas nacionais de renome sobre a injustiça que o Lula está sofrendo. É um líder mundial, uma referência para o mundo”.

Além de falas de Haddad e Manuela analisando as políticas do governo atual, os efeitos da Emenda Constitucional 95 – conhecida como “PEC do teto de gastos” – e comentários sobre o debate que ocorria na Band. Especialmente declarações de Alckmin. Quando ele falou sobre o SUS, por exemplo, os petistas e Manuela responderam lembrando que seu partido apoiou a EC 95.

A live também trouxe trechos de vídeos de Lula, com declarações sobre temas do programa de governo do PT e do seu processo. 

Em uma delas, ele comentou a condução da Operação Lava Jato e o processo que o condenou e prendeu, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. “A desgraça de quem conta a primeira mentira é que tem que passar a vida inteira mentindo para justificar essa mentira. A Lava Jato mentiu ao meu respeito”, declarou o ex-presidente. Ele brincou que não lembrava quem era o autor de sua citação, “mas deve ser um cara inglês”. Quando Lula falou sobre brasileiros que estão lidando com dívidas, Haddad emendou com as políticas de crédito desenvolvidas em governos do PT.


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