Debate na Federasul é marcado por troca de acusações entre Leite e Bandeira

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Debate na Federasul reuniu Eduardo Leite, Jairo Jorge, José Ivo Sartori, Mateus Bandeira e Miguel Rossetto | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Débora Fogliatto

Cinco candidatos ao governo do Rio Grande do Sul participaram de painel na Federasul nesta quarta-feira (22), durante o Tá na Mesa, mediado pela presidente da entidade, Simone Leite. Por cerca de duas horas, Eduardo Leite (PSDB), Jairo Jorge (PDT), José Ivo Sartori, Mateus Bandeira (NOVO) e Miguel Rossetto (PT) falaram sobre suas propostas em termos de empreendedorismo, recuperação fiscal, segurança pública e arrecadação de impostos.

Mesmo sem os candidatos perguntarem entre si, houve um embate entre Leite e Bandeira, quando o primeiro acusou o candidato do Novo de ser “mentiroso”. Ambos são de Pelotas e, na época em que o tucano foi prefeito da cidade do Sul do Estado, Bandeira havia recém deixado a presidência do Banrisul.

O ex-prefeito, lembrando de Collor, disse que em 1989 havia também um candidato “que se apresentava como novo e acabou sofrendo um impeachment”, e emendou que Bandeira era mentiroso, pois quando era presidente do banco estatal tomou medidas ilegais, que iam contra a lei de responsabilidade fiscal. “A Prefeitura, quando foi acessar financiamentos do fundo de garantia e do PAC, correu o risco de perder os recursos por conta de um contrato irregular que o candidato Bandeira fez com a administração anterior”, explicou.

Por sua vez, Bandeira lembrou que Leite contratou sua empresa para  prestar consultoria e organizar seu escritório quando assumiu a Prefeitura. “Ou ele [Leite] me chama de mentiroso ou me pede ajuda, e ele me pediu ajuda várias vezes na vida. Quando ele foi prefeito, aumentou impostos, encaminhou carta para a Câmara dizendo que se aprovasse o aumento do IPTU não iria criar a taxa do lixo, mas fez os dois”, criticou. O candidato nega, porém, que Leite o ataque por considerar que os dois dividem o mesmo eleitorado. “Quem vota no Novo são as pessoas cansadas da velha política, ele não tem nenhuma passagem pelo setor produtivo, as pessoas estão cansadas de políticos profissionais”, afirmou.

Leite chamou Bandeira de “mentiroso” quando o candidato do Novo criticou sua gestão em Pelotas | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Empreendedorismo

Mirando o público do evento-almoço, formado principalmente por empresários, os candidatos citaram o empreendedorismo em suas falas. Jairo Jorge abriu o painel afirmando que os gaúchos “querem mudança, querem recuperar o protagonismo” e destacou, como vem fazendo nos debates, medidas que foram tomadas por ele enquanto era prefeito de Canoas. “O Estado é inóspito ao empreendedorismo. Em Canoas, durante meu governo 19 mil empresas foram abertas, triplicamos a arrecadação”, colocou.

Já Sartori buscou se colocar como o mesmo “Sartorão da massa” que fez sua campanha ser bem-sucedida em 2014, dizendo que irá fazer campanha com “humildade e simplicidade”. “Precisamos privatizar ou federalizar certas coisas para poder usar recursos em saúde, educação, segurança, políticas sociais. Tomamos medidas amargas ou impopulares, mas nunca tivemos receio porque estávamos pensando em todos os 11,29 milhões de habitantes”, afirmou, lembrando da extinção de fundações e dizendo que servidores “colaboraram” para que governo atingisse metas.

O candidato do Novo começou dizendo se “sentir em casa” na Federasul e buscou se distanciar da política em sua apresentação, dizendo que os cargos que já ocupou foram “técnicos”. Bandeira foi auditor fiscal na gestão de Alceu Collares (PDT, 1991-1994) e Antonio Britto (na época PMDB, 1995-1998). Em 2007, dirigiu o Tesouro do Estado do RS e, durante o governo de Yeda Crusius (PSDB, 2007-2010) liderou a Secretaria Estadual do Planejamento e Gestão até ser convidado, em 2010, para presidir o Banrisul. “Integrei a equipe de governo de Yeda e nós colocamos as receitas em ordem. Os outros partidos que estão aqui são mais do mesmo, é um modelo de política econômica ultrapassada”, colocou.

Para Mateus Bandeira, eleitorado do Novo está descontente com “políticos profissionais” | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Rossetto mencionou o momento político nacional, afirmando que a “democracia é um exercício de tolerância e respeito com as diferenças”. “É fundamental para o Rio Grande do Sul que o Brasil volte a crescer, mas não podemos ter crescimento econômico com exclusão social”, disse, reiterando que sua prioridade absoluta será superar a crise e garantir investimentos e emprego para os gaúchos. Ele também criticou a “desorganização” da atual administração, mencionando que “33 meses de atraso no pagamento dos salários não é um Estado organizado”.

O último a se apresentar foi o candidato do PSDB, que defendeu o ajuste fiscal, com aumento da competitividade para gerar emprego e renda. Ao ser questionado sobre as despesas do Estado, defendeu “reformas estruturais para conter as maiores despesas do Estado, que são com pessoal, especialmente previdência”, o que garantiu que fará com diálogo com os servidores e sindicatos. Ele também mencionou que a “força empreendedora é uma característica do povo gaúcho, mas é difícil encontrar espaço”.

Aumento de receitas X aumento de impostos

Todos os candidatos responderam sobre como aumentar a receita sem aumentar os impostos, a que Jairo propôs “menos burocracia” e escritórios regionais de empreendedorismo, defendendo a redução da carga tributária. “Precisamos pensar políticas tributárias específicas, como o Pró-Emprego em Santa Catarina”, disse. Já Rossetto criticou as “escolhas erradas” do atual governo, defendendo a estimulação de cooperativas e agroindústrias e garantindo que não irá “poupar energia de atração de novos investimentos”.

O atual governador disse “ter certeza” de que cumpriu sua parte. “O Estado não precisa ser aquele que dirige empresas, tem que governar para fora. É uma caminhada longa”, disse. Para Leite, é importante que haja um “alinhamento de contenção e desenvolvimento para que se tenha um novo ambiente de crescimento econômico”. O momento que instigou a acusação de Leite contra Bandeira foi a declaração do candidato do Novo de que “existe uma diferença quilométrica entre discurso e prática, como candidatos que dizem que arrumaram as contas quando foram prefeitos, mas não o fizeram”.

Atual governador, Sartori voltou a se apresentar como candidato “humilde e simples” | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Segurança pública

Na rodada final, os candidatos responderam sobre soluções para a segurança pública. Rossetto lembrou que o Rio Grande do Sul está em segundo lugar no Brasil em termos de número de chacinas e que todos os indicadores pioraram durante o governo atual. “Precisamos ter uma estrutura prisional preocupada em ressocializar criminosos, além de combater a violência contra as mulheres e promover uma cultura de paz e tolerância”, afirmou. Já Sartori criticou a falta de existência de uma política de segurança nacional e falou da importância de se realizar prevenção nas escolas.

Leite citou que seu candidato a vice é delegado Ranolfo (PTB), que já foi chefe de polícia do RS e “conhece a segurança pública do Estado”, segundo o tucano. Jairo lembrou que assumiu a Prefeitura de Canoas quando havia um quadro de violência extrema. “Eu não encontrei a Prefeitura com dinheiro, mas durante meu governo fiz triplicar a arrecadação a partir de ideias inovadoras”, apontou. Bandeira disse que não existe um encarceramento em massa no Brasil, mas sim uma “impunidade em massa”, e que será um “xerife contra o crime”.

Debate tratou de economia, empreendedorismo e segurança pública | Foto: Joana Berwanger/Sul21

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