RS: Candidatos apresentam suas propostas em debate convocado por servidores públicos

Por
Sul 21
[email protected]
O debate ocorreu na Casa do Gaúcho. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Giovana Fleck

Na tarde desta sexta-feira (31), o debate Visões de Estado reuniu candidatos ao Governo do Rio Grande do Sul para responder a questionamentos dos servidores públicos. O evento foi organizado pelo Movimento Unificado dos Servidores (MUS) e pelo Fórum dos Servidores Públicos Estaduais do RS (FSPE-RS). Eduardo Leite (PSDB), Jairo Jorge (PDT), Julio Flores (PSTU), Miguel Rossetto (PT) e Roberto Robaina (PSOL) estiveram na sabatina.

O palco, no entanto, permaneceu com duas poltronas vazias. O atual governador, José Ivo Sartori (MDB), e o candidato do Partido Novo, Mateus Bandeira, recusaram o convite para participar do debate. Segundo a organização do evento, Bandeira respondeu, por meio de sua assessoria, que não teria interesse. Já Sartori não enviou qualquer justificativa.

O modelo escolhido pela organização não permitiu que os candidatos fizessem questionamentos entre si. Assim, cinco rodadas temáticas foram apresentadas por representantes de sindicatos e entidades do Estado. Foram elas, respectivamente: saúde, educação, segurança, serviços públicos e funcionalismo.

Apresentações

Roberto Robaina e Eduardo Leite, aguardando o início do debate. Foto: Guilherme Santos/Sul21

O candidato do PSTU, Julio Flores, foi o primeiro a se apresentar. Em seu minuto de fala, escolheu dar ênfase às lutas do funcionalismo público. Professor de matemática, Flores se dirigiu à plateia – composta por diversos docentes. “A Praça da Matriz já foi praça de guerra. Queremos juntos a saída do Sartori.”

Em seguida, Jairo Jorge introduziu seu programa de governo usando conceitos que têm firmado desde o início de sua pré-campanha. “A inteligência do Estado está no serviço público”, disse, ressaltando que, se eleito, garantirá o pagamento integral dos salários dos servidores.

Eduardo Leite, candidato do PSDB, iniciou falando de sua trajetória, especialmente o fato de ter vindo de uma família de servidores. “E eu também”, completa. “Pelos cargos que exerci após eleito.” A plateia reagiu à declaração com vaias, ao que o candidato respondeu que: “Não importam as vaias que vierem, não responderei com radicalismo, responderei com diálogo.”

Roberto Robaina apontou falhas do governo Sartori em sua apresentação. Criticou o que chamou de desmonte no funcionalismo e os atrasos e parcelamentos dos salários. “Não se pode governar sem os servidores, simples assim.”

Já Miguel Rossetto optou por se dirigir diretamente à plateia, dizendo que o evento era uma vitória conquistada pelas categorias presentes na luta por um processo eleitoral democrático. “Esse encontro é a vitória da resistência democrática de vocês. A resistência contra o governo Sartori que ameaça o patrimônio dos gaúchos.”

Saúde

Servidores se manifestaram com cartaz em referência às fraudes em exames pré-câncer em Pelotas. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Leite foi o primeiro a se posicionar sobre a temática, ressaltando a necessidade de equilíbrio fiscal para executar políticas de impacto real. “A questão da saúde pública envolve a capacidade financeira do Estado. […] Sem haver recursos e equilíbrio fiscal não há possibilidade de lidar com essas políticas”, apontou. Segundo o candidato, durante sua gestão como prefeito de Pelotas, viu programas básicos serem desativados pela inadimplência fiscal. “Ter contas em dia é pré-requisito básico. Ajuste fiscal não pode ser palavrão.”

Quase imediatamente, a plateia reagiu aos comentários. Eles faziam referência às fraudes em exames pré-câncer em Pelotas entre 2014 a 2018. Leite exerceu o cargo de prefeito no município de 2013 a 2018. “Sabem o que eu fazia quando esse contrato foi firmado? Eu era presidente do Grêmio estudantil do meu colégio”, respondeu.

A segunda resposta foi de Julio Flores, que construiu sua argumentação a partir da afirmativa de que o SUS (Sistema Único de Saúde) é uma conquista dos trabalhadores. “Mas, infelizmente, políticas de governos transferem recursos públicos para a iniciativa privada. Nós propomos que o dinheiro público seja investido nas instituições públicas”. Flores também afirmou que, se eleito, focará parte dos recursos para a saúde na construção de hospitais públicos no interior. “É um absurdo pessoas terem que vir para a capital procurar atendimento especializado”.

Roberto Robaina também iniciou sua fala defendendo o SUS no Rio Grande do Sul, ressaltando que ele tem sido tratado com descaso pela atual gestão. “É preciso afirmar: o novo é termos unidade na luta. Vamos resolver a crise nacional organizando o povo. […] Não é por nada que querem excluir o PSOL, tirá-lo do debate. A luta pela saúde depende dessa luta”, conclui Robaina.

O candidato do PDT, Jairo Jorge, propôs a regionalização da saúde, a partir da criação de policlínicas regionais. Ele também lembrou de sua gestão como prefeito de Canoas, ao afirmar que concretizou medidas de incentivo eficazes na área da saúde. “Não vou botar chifre em cabeça de cavalo e dar responsabilidade a quem não tem”, conclui.

Por último, Miguel Rossetto citou a Emenda Constitucional 95, conhecida como PEC do Teto dos Gastos, que congela investimentos públicos por 20 anos em áreas como saúde e educação. “É nosso dever revogar a EC 95”, enfatizou. “Esta política irresponsável vem desorganizando a política de saúde no Rio Grande do Sul. Nós vamos avançar para garantir que a população tenha acesso através de centros regionais de especialidades com caráter resolutivo”. De forma mais objetiva, ele concluiu ressaltando que, se eleito, irá trabalha para retomar programas que dependem, também, de incentivo federal, como o Mais Médicos, os serviços integrais do SAMU e a Farmácia Popular.

Educação

“Qual a proposta efetiva para que o RS implemente uma educação pública e de qualidade?”, foi a questão proposta pela professora Cândida Rossetto. Foto: Guilherme Santos/Sul21

“Qual a proposta efetiva para que o RS implemente uma educação pública e de qualidade?”, foi a questão proposta pela professora Cândida Rossetto. No entanto, o primeiro sorteado para responder, Julio Flores, optou por comentar a resposta de seu adversário Eduardo Leite antes de entrar no tema da rodada. ““Não se trata da vida como Eduardo Leite fez em Pelotas”, enfatizou. Logo depois, continuou sua fala afirmando que o atual modelo de educação é baseado na meritocracia e na privatização. “Lamentavelmente, isso ocorreu durante os governos do PT, seguido pelo Sartori”. Como alternativa, ele apresentou a ideia de constituir conselhos populares coordenados pelos próprios professores e estudantes.

Já Jairo Jorge ressaltou que seu governo irá investir em ciência e tecnologia como alternativas para o futuro da educação. “Em sete ou dez anos, nossa população vai diminuir. Temos uma grande exigência. Precisamos de uma mudança com ciência e tecnologia para buscar recursos para não diminuirmos a produção, e isso é educação.”

Eduardo Leite contou que, quando era universitário em Pelotas, dava aula de Direito de forma voluntária. “Respeito muito os nossos professores. Quem é educador não pode viver sem saber quando ganhará seu salário”. Novamente, trouxe sua experiência como prefeito. “Em Pelotas, os professores recebiam todo dia 5. […] Nós separamos todos os meses o recurso para o 13º salário e o pagamos antecipadamente. Temos que respeitar os funcionários”.

O seguinte a responder foi Roberto Robaina. Para ele, a melhoria da educação só ocorrerá com a aplicação de um programa estrutural. “Percebemos que a situação sempre pode ser pior. Nada foi pior que o Sartori ou que o Temer. Necessitamos de outra estratégia”.

Miguel Rossetto ressaltou o compromisso de seu partido com a evolução da educação, citando universidades, institutos federais e outras instituições ampliadas em gestões passadas. “Fomos nós que apresentamos a proposta de transformar a riqueza do Pré-sal em riqueza para a educação”.

Segurança

Rossetto afirmou que, entre suas primeiras medidas, irá se reunir para resolver o problema dos contratos temporários e ampliar os efetivos. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Refletindo sobre como mudar a crise na segurança do Rio Grande do Sul, que conta com o menor efetivo histórico entre oficiais da Polícia Civil, Brigada Militar e Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE), Jairo Jorge argumentou que a falta de agentes é consequência de falta de liderança. “Proponho um conselho de estado para construir o pacto Rio Grande Mais Seguro. É um plano de segurança que, além de ampliar o investimento, vai investir em inteligência e integração policial”.

Julio Flores focou sua resposta na importância de desarticular o crime organizado, apontando a legalização das drogas como uma das soluções. “A segurança pública não pode estar servindo o grande capital, não pode perseguir o povo”. Para ele, a segurança deve ser um “projeto social”.

Já Rossetto afirmou que, entre suas primeiras medidas, irá se reunir para resolver o problema dos contratos temporários e ampliar os efetivos. “Segurança se faz com oportunidades. Mas não se faz mais segurança com menos policiais”.  Também disse que não haverá tolerância em seu governo para o atual padrão de violência contra as mulheres e a população LGBT. “Vamos desenvolver uma política de paz”.

Eduardo Leite aproveitou seus minutos iniciais para explicar que pretende montar um plano para integrar as forças policiais, além de unir as forças estaduais e municipais. Porém, enfatizou que isso só será possível com uma política econômica de sucesso. “É fundamental a reposição de efetivo. Por isso, a necessidade de ajuste das contas”.

Último a falar sobre a temática, Roberto Robaina criticou as medidas do atual governador, José Ivo Sartori, que incluem a doação de armamentos e viaturas por instituições privadas como o Instituto Floresta. “Ele [Sartori] está avançando para privatizar a segurança pública. […] Política de segurança pública tem que beneficiar vocês, não eles”.

Serviços públicos

Julio Flores afirmou estar “espantado” com as colocações de seus adversários. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Sobre serviços públicos, representantes do SEMAPI-RS (Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Fundações Estaduais do RS) e do Sindiágua (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto) perguntaram sobre como os candidatos irão lidar com a questão das parcerias público-privadas na Corsan e sobre como trabalharão com a energia no Estado.

Eduardo Leite (PSDB), usou o exemplo de Erechim, que renovou o contrato com a Corsan, mesmo sem cumprir metas de investimento. Para ele, municipalizar o serviço não é uma alternativa sustentável. “A Corsan deve permanecer pública, mas permitir o investimento privado para diminuir problemas de saúde”, disse Leite, que também afirmou que a iniciativa privada pode contribuir com o setor elétrico.

Robaina, por outro lado, re referiu à Corsan como “o filé do saneamento para os capitalistas”. “Não vale a pena privatizar ou investir em parcerias público-privadas, assim como deve-se reverter as privatizações do governo Sartori”, ressaltou Robaina.

O candidato seguinte, Miguel Rossetto, apontou que quem paga investimentos em projetos de privatização é o povo. “Por isso que várias cidades do mundo inteiro estão voltando e reestatizando seus serviços”.

Jairo Jorge chamou Sartori de “exterminador do futuro”, se referindo à extinção das fundações estaduais. “Vou recuperar a inteligência do RS para pensar o futuro do Estado”. Ainda assim, destacou que parcerias com o setor privado podem servir “tanto para o bem, quanto para o mal”.

Já Julio Flores afirmou estar “espantado”. “Alguém aqui ouviu o Eduardo Leite falar sobre a extinção das fundações? Além disso, disse que é contra a privatização da Corsan. Mas a gente sabe que as PPPs são uma forma disfarçada de privatizar”. Ele seguiu em ataque ao candidato do PDT. “Jairo Jorge veio embelezar as parcerias público-privadas. Nós, do PSTU, somos contra as extinções. Queremos recuperar todas as fundações”, disse Flores. “Queremos reestatizar o que foi privatizado das estatais”.

Funcionalismo

Jairo Jorge ressaltou seu compromisso com os trabalhadores. “Se queremos modernizar o Rio Grande do Sul, não deveremos buscar uma inteligência externa.” Foto: Guilherme Santos/Sul21

O final do debate fez com que os candidatos explicitassem suas políticas em torno dos servidores públicos. Jairo Jorge ressaltou seu compromisso com os trabalhadores. “Se queremos modernizar o Rio Grande do Sul, não deveremos buscar uma inteligência externa. As entidades e os sindicatos sentarão com o governador para debater questões básicas”. Também prometeu maior transparência, através de um balanço das contas públicas que poderá ser acessado via e-mail pelos servidores.

Eduardo Leite usou sua fala final para contar sua história de proximidade com a política. “Achei que as pessoas não iam ser contra os bem-intencionados. Mas, a vida ensina que não é assim. O mais importante é que possa haver respeito”. Ele citou uma frase atribuída ao filósofo iluminista Voltaire, dizendo que pode não concordar com a posição dos servidores, mas defenderá até a morte o seu direito à livre expressão.

“O candidato do PSDB deveria citar Voltaire para sua candidata à vice-presidente, Ana Amélia Lemos, que quer governar com o relho”, rebateu Rossetto. “Governar um Estado é muito mais difícil que governar um município. Eu me preparei. Fui ministro do presidente Lula. Nós temos um grande projeto. O Rio Grande do Sul precisa voltar a crescer”, finalizou o candidato do PT.

Robaina realizou sua fala final alertando é preciso transparência na economia para que melhorias, de fato, ocorram. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Robaina fez sua fala final alertando que é preciso transparência na economia para que melhorias, de fato, ocorram. “A ideia de simplesmente prometer melhorias pode seduzir. Mas precisamos discutir um programa que tem que ter a participação dos servidores”.

Por último, Julio Flores encerrou sua participação no debate dizendo que, em seu governo, os servidores terão controle sobre suas demandas. “O projeto do PSTU, a rebelião dos trabalhadores, quer fazer uma mudança profunda no país. Nós temos que confiscar os bens de corruptos e corruptores”.

Os servidores seguiram em caminhada até o Palácio Piratini ao final do debate, para cobrar a recusa de participação do governador José Ivo Sartori e protestar contra as políticas de sua gestão.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora