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12 de julho de 2018
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23:03

Nagelstein: ‘A Câmara está recorrendo para marcar posição da autonomia e da independência’

Por
Sul 21
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Nagelstein: ‘A Câmara está recorrendo para marcar posição da autonomia e da independência’
Nagelstein: ‘A Câmara está recorrendo para marcar posição da autonomia e da independência’
Nagelstein falou na tribuna sobre críticas que recebeu de vereadores | Foto: Fernanda Canofre/Sul21

Fernanda Canofre

Enquanto os vereadores discutiam destaques e requerimento da Lei Geral de Táxis, o presidente da Câmara de Vereadores, Valter Nagelstein (PMDB), conversou com o Sul21 sobre seu balanço do dia de sessão da quinta-feira (12). Um dia depois da repressão da Brigada Militar e da Guarda Municipal a servidores que protestavam na Câmara, contra os projetos apresentados pelo prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB), ele retomou os trabalhos seguindo determinação judicial, com acesso ao plenário limitado e controlado.

No início da noite, depois de acordo entre vereadores, os 14 vetos do Executivo foram derrubados. A votação ocorreu em três blocos.

No final da sessão, Nagelstein foi à tribuna para um desabafo, se dizendo machucado com falas de outros vereadores. Ele disse que sabia que isso era parte do jogo político, mas ainda assim estava ferido.

“É uma queda de braço, é quem resiste mais tempo”, disse ao Sul21, avaliando o tempo que os vetos do prefeito levaram para serem votados. Na tribuna se dirigiu aos colegas: “Ninguém aqui é capacho do prefeito como disseram, muito menos eu que não tenho dobradiça na espinha. Mas a essência do Parlamento é votar e vai votar”.

Na entrevista, ele falou sobre as ações da polícia e porque decidiu recorrer da decisão do juiz Sidinei Brzuska na tarde de quarta, depois de acatá-la.

Sul21: A sessão passou o dia discutindo vetos da Lei Geral de Táxis, não os projetos que estavam como urgência. Como avalias para o Legislativo?

Nagelstein: Eu reitero minha posição e vejo o Sul21 falando a respeito dessas coisas. Registro aqui, democraticamente, às vezes, me deixa irresignado. A essência da democracia é votar. Ninguém pode ser coagido a não votar dentro do Parlamento. O que se quer, num determinado grupo dos municipários, é que sequer o parlamento possa votar. Porque um outro determinado grupo político diz que vão ser atacados os direitos dos municipários. Quando existem emendas no projeto de lei e quando é tarefa do poder legislativo modular os projetos de lei que vem para cá. Ninguém tem bola de cristal, ninguém sabe o resultado final das votações e é imperioso que se vote. Na base do grito, da marra, da ameaça, do constrangimento ninguém vai deixar de votar. Na base da invasão, também a Câmara não vai deixar de exercer seu papel. Infelizmente, no limite, vai ter que haver o exercício do Estado democrático de direito, como foi ontem. É ruim? Choca muito as pessoas? Sem dúvida, mas tivemos o dia inteiro de conflito, depredação dentro da Câmara e invasão. Nesse aspecto foi necessário utilização da força policial para bem do restabelecimento da posse da Câmara ao parlamento e da integridade das pessoas.

Sul21: Essa “depredação” a que o senhor se refere, avalia que foi dos dois lados? Há imagens que mostram homens da Brigada Militar também quebrando patrimônio.

Nagelstein: Tem uma imagem, num determinado momento, quando o Choque avança. O Choque tem uma técnica, conhecida, que é bater na parede ou em algo que está por perto para fazer barulho. Isso fez parte da ação do Choque. Eu vi a imagem. É, inclusive, o quadro do vereador e ex-presidente Nereu D’Ávila que foi quebrado nesse episódio, não considero aquilo grave e considero uma consequência colateral do processo de retirada das pessoas que haviam invadido.

Sul21: Como o senhor avalia o clima hoje? O senhor chegou a ter uma conversa com os vereadores pela manhã falando sobre a possibilidade de usar a força.

Nagelstein: Não foi preciso [usar a força]. Até aqui está indo muito bem. Não é fácil, é necessário ter firmeza, há muitas manobras no sentido de postergar, de acusar o presidente, de causar desgaste, faz parte do jogo político. Estou acostumado com isso. Algumas coisas viram fake news, mas é o tempo que estamos vivendo hoje em dia. Felizmente, ao meio-dia, o comandante do policiamento de Choque avisou o comando do Simpa que era preciso desbloquear a porta sob pena de que haveria um novo conflito.

A determinação do juiz foi exatamente o que eu fiz no dia de ontem. Aliás, fiz mais no dia de ontem, porque, além de liberar o Plenário, eu liberei os corredores da Casa e o Plenarinho. Infelizmente, por tudo que houve ontem, hoje foi pior. Quem pagou por isso são as pessoas que tinham interesse em estar aqui, desde que ordeiramente. Está indo bem, houve desobstrução do Plenário, garantia do ir e vir das pessoas, dos servidores, dos parlamentares. Acho que é um direito legítimo de manifestação, de todo trabalhador, que os funcionários públicos do município possam fazer dentro dos limites da lei.

Sul21: Existe possibilidade de sessões extraordinárias durante o recesso?

Nagelstein: Durante o recesso não avalio atualmente. O recesso é dia 17, eu chamarei sim, conforme foi acordado, sessões extraordinárias, na minha visão, até extinguir os quatro projetos que o colégio de líderes havia acordado. Vamos votar os quatro.

Sul21: Essa decisão da Lei Geral de Táxis está seguindo a determinação do mandado de segurança deferido pelo juiz Sidinei Brzuska (pedido foi apresentado pelo vereador Mauro Zacher, PDT). Como avalias a questão de ter decisão judicial interferindo no Legislativo?

Nagelstein: Para mim é indiferente. Na verdade, eu não quis transformar isso num cavalo de batalha. Meu interesse é votar. A Câmara está recorrendo para marcar posição da autonomia e da independência do Parlamento. Foi apresentado um agravo para reiterar essa questão. O juiz era um juiz plantonista e pode sim ter sido induzido em erro. A liminar do vereador Mauro Zacher refere a um dispositivo e são dois que regem essa questão. Um deles hierarquiza, mas desde que não haja determinação do colégio de líderes. Exatamente o que tinha havido. O juiz não tem obrigação de conhecer isso. A mim, interessa que o parlamento vote.


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