Últimas Notícias > Política > Areazero
|
13 de julho de 2018
|
19:42

CUT debate novas estratégias de ação: ‘Temos que reconhecer nossos erros e construir um movimento mais forte’

Por
Sul 21
[email protected]
“A nossa grande vitória é permanecermos unidos”, disse o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Giovana Fleck

No início da manhã da sexta-feira (13), um grupo de mulheres se reuniu, em roda, em frente à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. “Passa a bomba, companheira.” Elas aguardavam o início da Plenária Interestadual da Central Única dos Trabalhadores – que reuniu lideranças do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. “Depois de tanto ônibus, só com muito chimarrão”, disse uma das mulheres, preenchendo o espaço entre a cuia e a erva com água.

Do lado de dentro do Teatro Dante Barone, mais de 500 pessoas se distribuíam entre as cadeiras. Ao fundo, escutava-se o som de Mulher do Fim do Mundo, álbum de Elza Soares, e de músicas de divulgação da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como o Forró Lula Livre e o Xote Lula Livre.

Próximo das 10h, o som ambiente mudou. A partir do início da apresentação da mesa, a Plenária se resumiu a palmas e gritos de ‘bom dia’. “Bom dia, presidente Lula”, repetiam, contando 13 vezes nos dedos das mãos, que se sincronizavam com o ritmo da fala. “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”, cantavam, em pé.

As falas foram iniciadas pela manifestação de Marizar Mello, presidente em exercício da CUT-RS. “Temos que dialogar com a nossa base e fazer o enfrentamento com o capital. Só estamos aqui hoje porque o Brasil está vivendo um período de exceção na política.” Para Marizar, a expansão da crise econômica e o ataque às instituições comprovaram a necessidade de união dentro da CUT para consolidar a figura de Lula nas eleições de outubro.

O evento contou com mais de 500 participantes. Foto: Guilherme Santos/Sul21

A presidente da CUT-SC, Anna Julia Rodrigues, focou sua fala na necessidade de luta pela manutenção dos direitos dos trabalhadores. Ela julga que a Reforma Trabalhista e a ameaça da Reforma da Previdência foram golpes duros ao longo de 2017. “Temos que resistir e nos fortalecer. É um pé no sindicato e outro na luta”, resume.

Ao introduzir sua colega, Regina Cruz, presidente da CUT-PR, Anna Julia pediu que ela fosse recebida com carinho – já que tem atuado na cidade onde o ex-presidente está preso há mais de 90 dias. Para Regina, Curitiba virou uma cidade de resistência. Por isso, pediu para que a Plenária se concentrasse na unidade da classe trabalhadora de forma que mobilize ações concretas. “Vamos sair daqui mais fortalecidos.”

O presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, afirmou que, o sentido da organização das plenárias é articular os presentes para formar opinião. “Nós somos o maior foco de resistência das organizações de trabalhadores no Brasil.” Ele questionou as “derrotas” e “vitórias” impostas à CUT por veículos da imprensa. “Mas a nossa grande vitória é permanecermos unidos. Mas eu espero que os trabalhadores e trabalhadoras tenham aprendido. [Após a Reforma Trabalhista] eu espero que tenham reconhecido o valor do movimento sindical.”

Analisando a conjuntura política, o ex-ministro-chefe da secretaria da presidência  Gilberto Carvalho avaliou que, a 84 dias das eleições, a classe deve se consolidar para poder eleger uma base de governo que garanta seus direitos. “Certos partidos acham que estamos dividindo a esquerda ao não apoiar Ciro Gomes. Não. Nós vamos até o final. Vamos registrar Lula como candidato à presidente da república.”

Sindicalistas realizaram ato contra a reforma trabalhista, em frente ao Hotel Sheraton, onde ocorria uma reunião-almoço com o ex-ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Para Carvalho, a prisão de Lula ficou para a história como a última esperança de acabar com o apoio do ex-presidente. “O que nós assistimos foi um fato incrível, que desconcerta tanto a direita como a nós. Ele permaneceu no coração do povo. Então, não tem graça para eles terem feito todo esse golpe e ainda aparecer o 13 com o nome de Lula na urna”, assinalou. No entanto, o ex-ministro reconheceu que há falhas na articulação do movimento. “No dia da prisão dele, esperávamos 40, 50 mil pessoas. Tínhamos 10 [mil]. Nunca vou me esquecer. Eu não me esqueço do Lula pegando no meu braço, olhando pela janela e falando assim: “Gilbertinho, a gente faz a guerra com os soldados que tem”.

Carvalho contou que ficou “perplexo” com a prisão do ex-presidente. “Ficamos sem saber o que fazer por alguns momentos.” Questionando a forma do movimento fazer resistência, instigou a plateia a repensar formas de agir. “Colocamos uma banquinha na rodoviária de Brasília para que as pessoas escrevessem cartas ao Lula. E foi impressionante ver aquilo. A reação do povo não corresponde às nossas formas tradicionais de mobilização. Temos que nos perguntar se estamos em sintonia com o que é cultura popular e se as formas de resistência que nós oferecemos ao povo são as formas que o povo quer usar para se manifestar”, questionou.

Sobre a greve dos caminhoneiros, o ex-ministro disse que, mesmo ambígua, serviu para mostrar os problemas na administração dos combustíveis no Brasil. “Eles mostraram que não fechava a conta.” Segundo ele, há o que aprender na maneira deles de organização. “O clima está mudando. Vamos aproveitar esse clima e vincular a esperança das pessoas com a reconstrução e a renovação do processo de atuação política.”

Após as falas da mesa, o espaço foi aberto para outros dirigentes sindicais presentes, que refletiram sobre as intervenções feitas anteriormente. “Nós temos que aprender com os erros. Temos a capacidade e a possibilidade de estar, novamente, a frente do Governo Federal. Temos que fazer uma relação do que não fizemos e deveríamos ter feito”, afirmou Miriam Cabreira, do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro-RS).

Dois atos marcaram a presença das entidades sindicais em Porto Alegre. Procurando pressionar os participantes da reunião-almoço, promovida pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, os manifestantes se dirigiram para a frente do Hotel Sheraton entoando gritos de ordem e cobrando direitos trabalhistas. Do lado de dentro, estavam o ex-ministro do Trabalho e deputado Ronaldo Nogueira (PTB-RS), além de confederações e federações empresariais.

De volta à Assembleia Legislativa, foi aprovada a carta da plenária, com a organização de calendário estratégico para os próximos meses. Assim, os dirigentes da CUT divulgaram a mobilização para o dia 10 de agosto. Com protestos em todo o país, o dia 10 foi apelidado de ‘Dia do Basta’ – “contra os prejuízos que a classe trabalhadora e toda sociedade vêm enfrentando desde o golpe parlamentar, jurídico e midiático de 2016”, explicam os dirigentes. “Basta de desemprego, basta de aumento dos combustíveis, basta de retirada de direitos, basta de privatizações, basta de perseguição a Lula”. “O povo brasileiro se manifesta contra o patrão no voto”, concluiu o presidente da CUT Nacional. “Lula livre!”, gritava a plateia.

Ao final, os participantes saíram em caminhada até o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) para realizar um ato pela liberdade do ex-presidente.

Galeria de fotos

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora