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6 de junho de 2018
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20:28

Governo Sartori critica posição de Eduardo Leite sobre plebiscito: ‘oportunista e erro histórico’

Por
Luís Gomes
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Cleber Benvegnú, secretário da Casa Civil, falou pelo governo do Estado após reunião no Piratini nesta manhã |Foto: Joana Berwanger/Sul21

Luís Eduardo Gomes

A decisão da Assembleia Legislativa de rejeitar (por 29 a 23) a mudança nos prazos para a realização dos plebiscitos para a venda das estatais enterrou nesta terça-feira (5), na prática, a tentativa do governador José Ivo Sartori (MDB) de privatizar a CEEE, Sulgás e CRM neste seu mandato. Mas também é um resultado que implicará diretamente nas eleições de 2018. De olho no Piratini, o PSDB, que sempre votou com o governo nas principais votações desde 2015, agora teve apenas um de seus quatro deputados votando a favor, impactando diretamente a derrota de Sartori, que, por sua vez, é acusado de ter tentando forçar a pauta de forma “eleitoreira”.

Em coletiva realizada na manhã desta quarta-feira (6), o secretário-chefe da Casa Civil, Cleber Benvegnú garantiu que o governo continuará pautando a questão do plebiscito e que levará isso para as eleições, mesmo ressalvando que o governador Sartori ainda não decidiu se irá concorrer à reeleição. “Esse assunto virá, de mais estado ou menos estado, em que área que o estado deve estar, em que área não deve. Esse assunto virá, será abordado. O nosso governo está abordando desde o primeiro dia, contenção de gastos, mudança administrativa, extinção de fundação, incentivo à produção. Sem dúvida o governador continuará fazendo esse debate, no mínimo como governador”, disse. “Vamos continuar formando consciência, tendo o papel de construção de defesa das coisas que nós entendemos. E é hora de se tomar lado. Quem estiver do lado certo da força, que se posicione e quem tiver outras alternativas, que se posicione também. Nós vamos continuar tentando”.

Questionado se o cálculo eleitoral foi o que motivou a derrota do governo, ele preferiu, em um primeiro momento, não avaliar as estratégias dos partidos, mas também não poupou crítica ao posicionamento do PSDB, classificando-o como pessoal – em alusão ao posicionamento contrário do seu presidente e pré-candidato ao Piratini, Eduardo Leite -, oportunista e um erro histórico. “O governo tentou mudar a Constituição, é verdade. Não conseguiu. Então vamos ouvir a população. Agora, não querer que nem a população seja ouvida sobre isso é uma página triste para a democracia gaúcha, a decisão que a Assembleia Legislativa, a oposição e seus aliados de ocasião tomaram ontem é uma decisão lamentável, principalmente vinda de quem conhece a situação da CEEE, da Sulgás e da CRM e de quem comandou a área de Minas e Energia nesse período”, disse Benvegnú, em uma referência clara ao deputado Lucas Redecker (PSDB), que foi secretário de Minas e Energia nos primeiros anos do governo Sartori. “O PSDB sempre defendeu a tese da modernização, só que a modernização se faz com atitude, não com discurso”.

Deputado Lucas Redecker | Foto: Divulgação

Em entrevista à Rádio Guaíba na tarde desta quarta, Redecker destacou que continua sendo favorável à realização do plebiscito para consultar a população sobre o destino das empresas, mas ressalvou que não é favorável a que isto seja feito agora porque teme que, se a questão estivesse nas urnas, iria “contaminar” todo o debate eleitoral, o que ele não considera ser o adequado. Ele destacou, por outro lado, que o plebiscito deve ser realizado em um prazo adequado, em que a população tenha condições de participar de um debate que seja unicamente focado na questão. Além disso, também ponderou que acredita que a pergunta que o governo pretendia fazer à população havia sido mal formulada, uma vez que pedia a autorização que valeria tanto para a privatização quanto para a federalização das empresas. Redecker exemplificou que ele, pessoalmente, é contrário a federalização da CEEE, uma vez que as distribuidoras de energia elétrica da Eletrobras, estatal nacional, estariam nas piores colocações dos índices de prestação de serviço ao consumidores.

A reportagem tentou contatar Eduardo Leite, considerado o articulador da decisão do PSDB de votar contrariamente à realização do plebiscito em outubro, mas não conseguiu obter retorno até o fechamento desta matéria. Em manifestação no Twitter nesta terça, escreveu: “A decisão de hoje da Assembleia Legislativa salva a pauta da privatização, que poderia vir a ser enterrada num plebiscito feito às pressas e sem o espaço pro melhor debate com a população. O Brasil nunca fez um plebiscito junto com eleições. Pois aqui no RS queriam estrear a prática, com redução do tempo previsto em lei para preparo e discussão. E a decisão advinda selaria nosso destino. Seria um grande equívoco”.

 

Pré-candidato a vice-governador na chapa de Leite, o delegado Ranolfo Vieira Júnior (PTB) diz que, pessoalmente, considera inoportuna a realização do plebiscito e que, em conversa com a bancada estadual de seu partido nesta semana, pode perceber que esse era o mesmo sentimento dos quatro petebistas que votaram contra o governo nesta terça. Com seis deputados, a bancada do PTB, oficialmente independente, tem sido o fiel da balança das votações na Assembleia nos últimos anos, especialmente desde que o PDT migrou para a oposição.

Ele também disse ser favorável à realização de consultas à população sempre que possível, mas destacou ser contrário a realização dele nesse momento por considerar que, diante do fato de o eleitor já estar sendo acionado para votar seis vezes em outubro (para deputado estadual, deputado federal, em duas cadeiras de senador, governador e presidente), não seria adequado exigir que ele depositasse mais três votos – um para cada estatal na mira da privatização -, especialmente dado o curto prazo que da corrida eleitoral. “Será que três meses é um tempo suficiente para a sociedade estabeleça uma discussão profunda a respeito do tema?”, questiona. Para ele, o plebiscito deveria ser feita de forma isolada e antecedido de um período suficiente para que seja feita uma  “discussão madura”, o que ele estimou ser de quatro a seis meses.

Ranolfo admite que tratou a questão das privatizações com Eduardo Leite, mas afirma que já havia um consenso anterior sobre a questão. “É lógico que tem questões centrais que eu e o Eduardo estamos discutindo e discutimos antes mesmo de firmar essa parceria. Claro que chegamos a conversar sobre esse tema e que bom que tínhamos um entendimento igualitário em relação a isso”, disse Ranolfo. Ele ainda diz que não fez uma avaliação sobre como essa questão será abordada na campanha e se poderá beneficiar ou prejudicar a chapa, mas avalia que é uma posição “perfeitamente legítima e responsável” a ser defendida na campanha.

Durante a manhã, Benvegnú questionou a tese de que o plebiscito deveria ser realizado em outro momento. Ele também questionou a tese defendida pelo PSDB de que o plebiscito deve ser realizado, sim, mas em outro momento. “Plebiscito fora da eleição custa R$ 18 milhões. De onde vai tirar esse dinheiro?” Ele também negou que o governo estivesse tratando da questão de forma eleitoreira. “Agora, perto da eleição, evidentemente que ele se transfere para o processo político eleitoral, isso é da natureza do processo. O governo está tratando dele desde 2016, então nós, não fizemos por questão eleitoral porque há muito estamos tratando disso”, argumentou.

O chefe da Casa Civil afirmou que o governador determinou em reunião com o núcleo duro do seu governo que sejam buscadas alternativas políticas e jurídicas sobre a questão, o que deve incluir questionar no Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade da emenda que obriga a realização de plebiscito para a venda das estatais.

Deputada Stela Farias | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Líder da bancada do PT na Assembleia, a deputada estadual Stela Farias faz a leitura de que essa posição de voltar a questionar a realização do plebiscito na Justiça deixa claro que o governo não queria realizar o plebiscito “coisa nenhuma” e que só passou a defender a realização da consulta popular em uma “tentativa desesperada” de responder as exigências do governo federal para a renegociação da dívida com a União, o que inclui a privatização de estatais.

Nesse sentido, ela pondera que, mesmo o governo sabendo que não teria os votos necessários para conseguir dar andamento para as privatizações, teria entendido que era importante ganhar a “disputa de versões e de discurso” sobre a venda das estatais. “Não é por acaso que o PSDB vota contra o plebiscito mesmo sendo a favor da venda das estatais. Queria fazer do jeito dele. É uma disputa para ver quem é mais neoliberal que o outro”, diz.

Com relação ao impacto que a rejeição ao plebiscito pode trazer para a oposição e, especificamente, para o PT, ela avalia que isso não preocupa o partido. “Para nós isso está muito tranquilo porque não tem nada a ver. Continuamos sendo a favor da consulta popular. O que acontece é que não vamos de forma alguma viabilizar a realização de privatizações”, disse, ponderando que o governo, desde que assumiu, vem pagando publicidade na imprensa a “peso de ouro” para defender a sua agenda, o que inclui as privatizações, e que a realização de um plebiscito nessas condições seria desigual. “Nós não iríamos correr o risco de o pessoal achar, de forma iludida, que as privatizações vão ‘solucionar’ a crise econômica do Estado. Nós acreditamos que as estatais, mesmo combalidas e precarizadas, muito pela ação do PMDB, que governou o Estado por quatro vezes, podem ser instrumentos de recuperação do RS”, complementou.


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