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7 de maio de 2018
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20:34

A ‘brincadeira’ de Cairoli: ‘vamos fechar a Assembleia, se organiza tudo e abre de novo’

Por
Luís Gomes
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Vice-governador Cairoli, em imagem de arquivo | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Na última sexta-feira (4), quando participava de um evento de lançamento de uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para a simplificação da abertura de novos negócios, o então governador em exercício, José Paulo Cairoli (PSD) — substituindo o governador Sartori que estava de licença –, usou o seu discurso para criticar a Assembleia Legislativa pela indefinição sobre a realização ou não de um plebiscito para a venda ou federalização das estatais CEEE, CRM e Sulgás. Durante sua fala, registrada em vídeo pela reportagem do Jornal do Comércio (ver abaixo), Cairoli disse que já sugeriu ao governador Sartori o fechamento do parlamento gaúcho.

“Eu, que sou um cara muito prático, talvez um pouco demais, já sugeri para o Sartori: ‘vamos fechar a Assembleia, se organiza tudo e abre de novo”, disse, para logo em seguida acrescentar. “Isso, nesse momento, infelizmente a gente não pode fazer, então tem que ser no debate, na discussão, na falta de quórum”.

A reportagem do Sul21 tentou o contato com o vice-governador para esclarecer o teor da declaração, mas foi informada de que ele estava em reunião durante toda a tarde e não poderia falar. Contudo, disse se tratar de uma “ironia” e de uma “brincadeira” que ele disse dentro de um contexto em que estava falando sobre a dificuldade do governo de tocar adiante seus projetos. A assessoria ainda negou que Cairoli tenha de fato sugerido ao governador fechar a Assembleia.

Deputada Stela Farias, em imagem de arquivo | Foto: Joana Berwanger/Sul21

A declaração, no entanto, não foi compreendida como uma simples brincadeira e ironia pela líder do PT na Assembleia, deputada Stela Farias. “Na minha opinião é um ato falho, ele deixa vazar aquilo que eles realmente acreditam. Tanto é verdade que os ataques que eles têm feito e as responsabilizações que eles têm feito, colocado sobre o colo da Assembleia Legislativa, isso desde o início da gestão deles vem num crescente”, avaliou Stela.

Ela destaca que o governo Sartori tem se caracterizado por “atropelar” a Assembleia Legislativa, não só na questão do plebiscito, mas em várias outras oportunidades ao longo dos últimos anos. Stela destaca, por exemplo, o fato de ter feito uma convocação extraordinária, a menos de uma semana da abertura do ano legislativo de 2018, para votar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). “No fundo, no fundo, se eles pudessem, fechariam a Assembleia. Quando ele sugere ao governador uma coisa dessas, para nós começa a ficar mais claro os atropelos que eles estão fazendo, um atrás do outro, quase sem dar tempo para respirar”, disse. “Em tempos de estado de exceção, se sente à vontade para dizer impropérios. É lamentável mesmo”, complementou.

Atual presidente da Assembleia, o deputado Marlon Santos (PDT), fez uma transmissão ao vivo em sua página no Facebook para comentar a declaração de Cairoli. “Obviamente que o vice-governador Cairoli não fez uma alusão ao fechamento estrito da Assembleia, embora eu pense que as pessoas não falem muito do que não pensem”, disse. Para Marlon, apesar de o vice-governador não ter proposto o fechamento do parlamento como ocorria nos tempos da ditadura militar, pode ser entendido como uma declaração de que a a Assembleia é uma “pedra no sapato” do governo Sartori.

Na transmissão, Marlon destacou que, como presidente da Casa, mesmo sendo contrário às privatizações das estatais, não irá travar a tramitação do projeto do governo Sartori que pretende mudar a legislação estadual para autorizar a realização do plebiscito, mesmo tendo vencido nesta segunda-feira (7) o prazo para que a consulta popular seja realizada junto às eleições deste ano. Contudo, fez uma defesa do direito dos deputados se oporem às privatizações e utilizarem de dispositivo regimentais para alongar a discussão. “Um governo não se faz só com governador e vice-governador. Se não fosse necessário deputados, provavelmente a coisa seria extremamente draconiana. Infelizmente, quem não tem a capacidade do diálogo, acaba enclausurado, sozinho e na rua da amargura”, disse, acrescentando ainda que, se o governo Sartori ouvisse mais a Assembleia, não faria “tanta barbeiragem”. “Não se pode pensar que um grupo de 55 deputados e deputadas está ali só para trancar, não deixar o governo ir para frente. Não, são 55 pessoas muito qualificadas, cada um com seu perfil, com suas características regionais. (…) Não se pode pensar que tem 55 bobos dentro da Assembleia Legislativa, como se anencéfalos fossem”.


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