Luís Eduardo Gomes
Na última sexta-feira (4), quando participava de um evento de lançamento de uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para a simplificação da abertura de novos negócios, o então governador em exercício, José Paulo Cairoli (PSD) — substituindo o governador Sartori que estava de licença –, usou o seu discurso para criticar a Assembleia Legislativa pela indefinição sobre a realização ou não de um plebiscito para a venda ou federalização das estatais CEEE, CRM e Sulgás. Durante sua fala, registrada em vídeo pela reportagem do Jornal do Comércio (ver abaixo), Cairoli disse que já sugeriu ao governador Sartori o fechamento do parlamento gaúcho.
A reportagem do Sul21 tentou o contato com o vice-governador para esclarecer o teor da declaração, mas foi informada de que ele estava em reunião durante toda a tarde e não poderia falar. Contudo, disse se tratar de uma “ironia” e de uma “brincadeira” que ele disse dentro de um contexto em que estava falando sobre a dificuldade do governo de tocar adiante seus projetos. A assessoria ainda negou que Cairoli tenha de fato sugerido ao governador fechar a Assembleia.
A declaração, no entanto, não foi compreendida como uma simples brincadeira e ironia pela líder do PT na Assembleia, deputada Stela Farias. “Na minha opinião é um ato falho, ele deixa vazar aquilo que eles realmente acreditam. Tanto é verdade que os ataques que eles têm feito e as responsabilizações que eles têm feito, colocado sobre o colo da Assembleia Legislativa, isso desde o início da gestão deles vem num crescente”, avaliou Stela.
Ela destaca que o governo Sartori tem se caracterizado por “atropelar” a Assembleia Legislativa, não só na questão do plebiscito, mas em várias outras oportunidades ao longo dos últimos anos. Stela destaca, por exemplo, o fato de ter feito uma convocação extraordinária, a menos de uma semana da abertura do ano legislativo de 2018, para votar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). “No fundo, no fundo, se eles pudessem, fechariam a Assembleia. Quando ele sugere ao governador uma coisa dessas, para nós começa a ficar mais claro os atropelos que eles estão fazendo, um atrás do outro, quase sem dar tempo para respirar”, disse. “Em tempos de estado de exceção, se sente à vontade para dizer impropérios. É lamentável mesmo”, complementou.
Atual presidente da Assembleia, o deputado Marlon Santos (PDT), fez uma transmissão ao vivo em sua página no Facebook para comentar a declaração de Cairoli. “Obviamente que o vice-governador Cairoli não fez uma alusão ao fechamento estrito da Assembleia, embora eu pense que as pessoas não falem muito do que não pensem”, disse. Para Marlon, apesar de o vice-governador não ter proposto o fechamento do parlamento como ocorria nos tempos da ditadura militar, pode ser entendido como uma declaração de que a a Assembleia é uma “pedra no sapato” do governo Sartori.